terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Deputados votam LOA 2026 em cenário de déficit fiscal

Folha de pagamento, Previdência e despesas obrigatórias consomem maior parte do orçamento estadual que irá a votação | Foto: Eduardo Maia

A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte realiza, nesta terça-feira (16), a votação em plenário da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2026, peça central do planejamento financeiro do Estado para o próximo ano. O relatório final, apresentado pelo deputado Tomba Farias (PL) à Comissão de Finanças e Fiscalização (CFF), foi aprovado por unanimidade no colegiado, em uma articulação marcada pela conciliação entre parlamentares e diálogo com o Executivo, antecipando a expectativa de um desfecho sem embates acirrados no plenário.

Segundo Tomba, o trabalho de relatoria enfrentou um dos cenários fiscais mais delicados já verificados na elaboração de um orçamento estadual nos últimos anos. A proposta enviada pelo Governo prevê receitas estimadas em cerca de R$ 25,6 bilhões e despesas de R$ 27,2 bilhões, resultando em um déficit de aproximadamente R$ 1,54 bilhão, um rombo que, na visão do relator, impõe restrições severas à capacidade de atendimento de demandas sociais e investimentos públicos. A análise aponta forte rigidez fiscal: 87% das receitas são correntes e 80% dependem de impostos e transferências, com destaque para ICMS e repasses da União.

“É um relatório muito difícil porque a despesa está maior do que a receita. Não tem como fechar essa conta sem ajustes”, declarou o deputado, destacando que o Estado enfrenta uma folha de pagamento que consome cerca de 68% do orçamento e um aumento adicional previsto de R$ 200 milhões a R$ 300 milhões no próximo ano em razão de reajustes e recomposições salariais.

Do lado das despesas, o maior peso recai sobre a Previdência, seguida por Educação, Saúde e Segurança, consumindo grande parte do orçamento e limitando a capacidade de investimento. O relatório também alerta para a fragilidade financeira do RN, que permanece com nota C na Capacidade de Pagamento (CAPAG) e enfrenta baixa liquidez e crescimento acelerado de despesas obrigatórias. O relatório consolida emendas parlamentares, totalizando R$ 105,9 milhões em impositivas e R$ 42 milhões em não impositivas, além de uma emenda específica para a EMPROTUR.

Tomba enfatizou que a relatoria buscou evitar que o projeto fosse carregado de emendas que agravassem a execução do orçamento, apelando para que deputados limitassem suas proposições diante da realidade fiscal. Com isso, explicou, a proposta foi construída em consenso com os membros da comissão, sem a necessidade de destaques para votação separada no plenário, algo apontado por ele como inédito ou muito raro nos últimos 10 a 15 anos.

“A gente escutou o Estado, escutou o vice-governador, viu algumas emendas, fizemos um apelo aos deputado. Todo mundo entendeu que não cabia mais emendas porque o Estado não estava com condição de cumprir esses compromissos”, afirmou o relator. A interlocução com o vice-governador Walter Alves (MDB) foi um dos pontos destacados por Tomba ao justificar ajustes e a manutenção de margens de remanejamento no texto orçamentário em 15%.

Alves, que deve assumir o governo estadual quando a governadora Fátima Bezerra (PT) se afastar para disputar as eleições de 2026, foi consultado sobre possíveis mudanças e contribuiu para a definição da peça final. Foi ele quem assinou o texto original e o encaminhou para a Assembleia Legislativa em setembro passado, quando a governadora Fátima Bezerra estava em viagem internacional.

A elaboração da LOA 2026 foi conduzida pelas equipes técnicas da Secretaria de Planejamento (Seplan) e da Secretaria da Fazenda (Sefaz). A projeção de despesas para 2026 seguiu as normas da Lei de Responsabilidade Fiscal e da Constituição Estadual.

Apesar de ter avançado sem controvérsias na comissão, Tomba alertou para a gravidade fiscal que acompanhará o Estado em 2026, citando a pressão permanente sobre a folha de pagamento, as limitações de margem para novas despesas e a rigidez dos compromissos assumidos. “Será um ano muito difícil para o governo do estado”, ponderou, ressaltando que a responsabilidade pela gestão desse déficit será uma tarefa dos próximos comandantes do Executivo e da própria Assembleia.

Vereadores encartam 503 emendas à LOA/2026

As emendas apresentadas pelos vereadores e anexadas à Lei Orçamentária Anual, do município de Natal, foram analisadas e aprovadas quanto aos aspectos jurídicos e constitucionais durante a reunião da Comissão de Legislação, Justiça e Redação Final, realizada na segunda-feira (15). As emendas parlamentares são responsáveis pela destinação e pela aplicação das receitas e despesas realizadas pela administração municipal ao longo do ano de 2026. A Comissão de Finanças, Orçamento, Controle e Fiscalização também aprovou a LOA 2026 e , agora , vai ao plenário da Câmara Municipal de Natal.

Ao todo, os vereadores apresentaram 503 emendas ao PL 750/2025, o qual trata sobre o orçamento para o próximo ano. De acordo com o vereador Kleber Fernandes (Republicanos), as emendas aprimoram e remanejam a lei orçamentária de forma a atender as necessidades da população por meio do trabalho do legislativo.

“Sob o ponto de vista da legalidade, da constitucionalidade, é uma prerrogativa de cada parlamentar apresentar as emendas, propondo, sugerindo alterações e adequações ao orçamento. No âmbito da Comissão de Justiça, nós não adentramos no mérito dessas emendas, somente na legitimidade de propor, na legalidade de cada proposição dessas e, sendo assim, todas foram aprovadas sob o ponto de vista jurídico. Agora, na análise do mérito, o plenário a fará de forma minuciosa e individualizada a avaliação acerca da aprovação de cada emenda apresentada”, explicou Kleber Fernandes.

Ainda no âmbito financeiro da capital Potiguar, foram destacados os PLs 965/2025 e 971/2025, ambos propostos pelo poder Executivo. O primeiro aborda o parcelamento e reparcelamento dos débitos previdenciários da administração direta e indireta do poder Executivo Municipal. O segundo, altera a lei 8.010/2025, a qual trata sobre o Plano Plurianual Participativo para os anos 2026 a 2029.

No campo da saúde, a Comissão deu parecer favorável ao Projeto de Lei 651/2025, de autoria do vereador Kleber Fernandes, e que busca garantir atendimento clínico e especializado, de forma precoce, para crianças com distúrbios de fala e de comunicação.

“É muito comum no ambiente escolar as professoras, os educadores, identificarem distúrbios na fala e dificuldade de desenvoltura no que diz respeito à capacidade de falar, de se comunicar das crianças. Consequentemente, o nosso projeto institui uma política municipal na qual vai haver uma capacitação para os professores a fim de identificar esses transtornos e, consequentemente, o município implementar políticas públicas voltadas para o enfrentamento desses problemas, com equipes multidisciplinares. Então o ambiente escolar já vai estar pronto e capacitado para identificar e encaminhar, por meio da Secretaria de Saúde, as providências de tratamento e acompanhamento”, comentou o parlamentar autor do projeto.

Entre os mais de 60 projetos analisados durante a reunião, dois, voltados para a população feminina, também receberam pareceres favoráveis. O PL 620/2025, de autoria da vereadora Samanda Alves (PT) busca instituir uma política municipal de incentivo ao esporte feminino em Natal; e o PL 842/2025, proposto pela vereadora Thabatta Pimenta (PSOL), e que traz diretrizes sobre a divulgação e ao incentivo do uso do sinal internacional de pedido de ajuda contra a violência feminina dentro do município de Natal.

Estiveram presentes na reunião da Comissão de Legislação, Justiça e Redação Final, os vereadores Aldo Clemente (PSDB), Brisa Bracchi (PT), Camila Araújo (PL), Fulvio Saulo (Solidariedade), Kleber Fernandes (Republicanos) e Tony Henrique (PL).

Tribuna do Norte

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