quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Restaurantes que fecharam agosto no vermelho têm menor índice desde 2020

O índice de estabelecimentos ligados à alimentação fora do lar que fecharam o mês de agosto no vermelho no Rio Grande do Norte foi de 17%, o menor desde o início da pandemia de covid-19, em 2020. Os dados, da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), mostram ainda que 41% dos estabelecimentos tiveram lucro, outros 41% mantiveram estabilidade em agosto e 1% não respondeu. O faturamento mensal também apresentou desempenho positivo, uma vez que 34% das empresas viram suas receitas crescerem em relação a julho, superando os 33% que registraram queda. Para 32%, o resultado se manteve estável.

Os dados locais, contudo, estão levemente abaixo da média nacional. No país, 16% dos estabelecimentos fecharam agosto com prejuízo, 43% registraram lucro e 40% operaram com estabilidade. Em todo o País, 39% das empresas registraram aumento de receita no comparativo com julho; outras 34% tiveram queda, enquanto 27% apresentaram estabilidade.

Além desses dados, a pesquisa aponta que, diante da inflação acumulada de 5,13% nos últimos 12 meses, 36% dos empresários do setor no Brasil conseguiram reajustar preços para acompanhar o índice — cinco pontos percentuais acima do observado no mesmo período do ano passado. Outros 20% aplicaram aumentos abaixo da inflação, 6% conseguiram repassar valores maiores e 38% não realizaram nenhum reajuste nos cardápios.

No Rio Grande do Norte, 51% reajustaram preços conforme ou abaixo da inflação dos últimos 12 meses, 6% aplicaram aumentos acima do índice e 43% não fizeram nenhum ajuste. É o caso do estabelecimento de Micael de Sousa, que fica no Alecrim, na zona Oeste de Natal. O proprietário pontua que não costuma fazer repasses aos clientes antes de novembro.

“O reajuste que fazemos aqui é anual, sempre no penúltimo mês do ano. Fora isso, se houver algum custo por causa da inflação ou de outro fator, a gente arca sem repassar”, afirma. Ele conta que o estabelecimento – um restaurante e churrascaria – passou por momentos difíceis durante a pandemia, mas garante que essa fase ficou para trás. “Em agosto, nós fomos muito bem”, falou.

Já Luiz Bastos, dono de um restaurante no mesmo bairro, afirma que foi difícil fechar as contas no mês passado. “Não ficamos no vermelho, mas também não tivemos lucro. E setembro se mostra da mesma forma. Acredito que vários fatores influenciam nisso, como as instabilidades políticas do país. Felizmente, não temos dívidas”, fala.

Segundo a Abrasel, 42% das empresas de alimentação fora do lar no RN têm dívidas em atraso. Entre os principais débitos estão os impostos federais (75%), impostos estaduais (47%) e empréstimos bancários (34%). No país, 36% possuem dívidas. Os principais atrasos no panorama nacional também estão relacionados a impostos federais (71%), estaduais (48%) e empréstimos bancários (35%).

De modo geral, os números reforçam um cenário de recuperação que não se via há anos, segundo a Abrasel. Para os empresários, a expectativa é de consolidação do bom momento ou de recuperação para aqueles que ainda enfrentam dificuldades, por conta da chegada das festas de final de ano.

“A gente espera aumentar o faturamento em 50%, porque o movimento por aqui triplica nessa época”, afirma Micael de Sousa. Luiz Bastos, por sua vez, projeta um crescimento de até 100% para o período. “Especialmente em dezembro, o faturamento é sempre muito bom, com um crescimento oscilando entre 50% e 100%. Essa é nossa esperança, porque a situação realmente não está boa”, diz ele, que comanda um restaurante na Av. Presidente Bandeira, no Alecrim, há 13 anos.

Abrasel

Thiago Machado, presidente da Abrasel no RN, assinala que o quadro atual tem a ver com variados fatores, dentre eles o término de dívidas adquiridas durante a pandemia. “Muitas dessas dívidas, como o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, que é uma linha de crédito do Governo Federal para micro e pequenas empresas) estão sendo quitadas integralmente agora, o que acaba trazendo um respiro. Embora as dívidas ainda sejam uma preocupação, o quadro tem melhorado. Além disso, tem muita gente otimizando operações, controlando estoques e trazendo mais produtividade para os negócios”, explicou.

Outro fator relevante, segundo Machado, é que, tradicionalmente, o segundo semestre do ano costuma ser um período de melhor performance para o setor, aspecto que mantém as boas expectativas do segmento até o final do ano. “É uma época de festividades, confraternizações e férias escolares, então, tudo isso ajuda a trazer um melhor movimento. Soma-se a isso o fato de que o país registrou deflação recentemente, o que impulsiona o mercado de alimentos e bebidas”, afirma Thiago Machado.

Para o presidente da Abrasel nacional, Paulo Solmucci, os dados de agosto refletem uma virada importante em todo o país. “A redução dos prejuízos é um sinal de que os bares e restaurantes estão conseguindo se adaptar melhor às condições econômicas. O setor viveu um período muito duro e agora dá sinais claros de recuperação, o que representa um alívio para os empresários e para a economia como um todo”, avalia.

Segundo ele, a soma de fatores como maior controle financeiro e a queda no índice de desemprego vem fortalecendo o processo de recuperação. “A redução do desemprego tem sido determinante para a retomada do setor, pois amplia a renda disponível das famílias e favorece o consumo fora do lar. Esse cenário traz mais segurança aos empresários e sustenta a expectativa de crescimento contínuo nos próximos meses”, completa.

Felipe Salustino/Repórter

Nenhum comentário:

Postar um comentário