Dos casos confirmados, nove
foram trazidos por pessoas que retornaram do exterior, 22 tiveram contato com
indivíduos infectados lá fora e três são compatíveis geneticamente com vírus em
circulação em outros países. Até o momento, os estados do Tocantins,
Maranhão e de Mato Grosso estão qualificados como em surto de sarampo.
A diretora da Sociedade
Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, aponta que a falta de
cobertura vacinal da população tem possibilitado o retorno do sarampo ao país.
“Os casos importados
aconteciam, tanto um estrangeiro vindo para cá, quanto um brasileiro que viajou
e voltou com sarampo, porém, a situação era resolvida porque a nossa vigilância
era boa. O sarampo antes entrava e encontrava todo mundo vacinado e não causava
surto. Agora ele chega e encontra várias pessoas suscetíveis,” aponta a
especialista.
Surtos
No Tocantins, o surto teve
início no município de Campos Lindos, na região nordeste do estado, em julho. O
caso está associado ao retorno de quatro brasileiros que estiveram na Bolívia
durante um mês. A comunidade que os infectados habitam possui um baixo nível de
adesão à vacinação, o que permitiu uma rápida transmissão entre os moradores.
No Maranhão, há apenas um caso
confirmado, o de uma mulher de 46 anos, não vacinada, habitante do município de
Carolina, que teve contato com membros da comunidade em Campos Lindos. Os dois
municípios ficam na divisa entre os estados do Maranhão e de Tocantins.
Os casos em Mato Grosso não
estão ligados à comunidade de Campos Lindos, mas também foram iniciados por
brasileiros que estiveram na Bolívia. O surto começou no município de Primavera
do Leste e afetou três pessoas que fazem parte da mesma família, todas não
vacinadas.
Cobertura vacinal
Segundo informações da Rede
Nacional de Dados em Saúde (RNDS), em 2024, o Brasil apresentou uma cobertura
vacinal de tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) de 95,7%, na primeira
dose, e 74,6% na segunda.
Em 2025, houve uma queda, o
que colocou o índice abaixo da meta de 95%. Os dados apontam para cobertura
vacinal das doses 1 e 2, respectivamente, de 91,2% e 74,6%.
Segundo o Ministério da
Saúde, os percentuais abaixo da média evidenciam a vulnerabilidade
para a ocorrência do vírus do sarampo, reforçando a importância da
intensificação vacinal.
O enorme espaço geográfico do
Brasil dificulta uma vacinação hegemônica em cada município, como explica
Isabella. “As coberturas estão no limite, na meta. Mas o que acontece aqui
no Brasil, em razão do nosso tamanho, é que não há homogeneidade das coberturas
vacinais nos municípios. Se você olha as coberturas vacinais dentro do estado,
são realidades muito diferentes. No Rio de Janeiro, por exemplo, a cobertura da
cidade é boa, mas, quando olhamos a cobertura do estado, já se tornou a segunda
mais baixa do Brasil.”
A diretora da SBIm aponta
que um fator que dificulta a vacinação é a falta de percepção de risco por
parte da população. “A ciência do comportamento mostra que, se você não vê
risco, pode estar na primeira página do jornal que ‘eu não ligo’. Agora, se eu
vejo o risco e estou vendo todo mundo correndo para o posto, ‘eu vou também’.
Aconteceu com a febre amarela, que a cobertura vacinal no Brasil era de 40%. De
repente, surto de febre amarela, morte de febre amarela, jornal, televisão…
eram filas.”
Casos de sarampo no mundo
Dados da Organização Mundial
da Saúde (OMS) apontam que, desde o início do ano até 9 de setembro,
foram notificados 360.321 casos suspeitos de sarampo, dos quais 164.582 foram
confirmados, em 173 países.
As regiões do mundo que
representaram os maiores números de casos são o Mediterrâneo Oriental, com 34%
das ocorrências; África, com 23%; e Europa, com 18%.
Nas Américas, 11.691 casos
foram confirmados de sarampo, com 25 mortes em dez países. Os casos
mais numerosos ocorreram no Canadá (5.006), México (4.703) e Estados Unidos
(1.514). Na América do Sul, há surtos ativos na Bolívia (320 casos), Paraguai
(50) e Peru (quatro). A Argentina também teve um surto, com 35 casos
confirmados.
*Estagiário sob supervisão de
Odair Braz Junior
Agência Brasil
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