O Brasil conta atualmente com
1.147 parques eólicos em operação, distribuídos principalmente pelos estados do
Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Piauí, Paraíba, Pernambuco, Maranhão, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. Juntos, esses parques somam 12.038 aerogeradores
e uma capacidade instalada de 35,3 gigawatts. O Nordeste segue como a região
mais protagonista, respondendo por 93% de toda geração eólica nacional. Há
ainda 504 empreendimentos autorizados a construir ou já em construção. Todos os
dados são da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Presidente executiva da Associação
Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum – Foto: Alex Régis
Além disso, afirma Rodrigo
Mello, diretor do Senai-RN, o setor acompanha atentamente experiências
internacionais. Países como Alemanha, Dinamarca e Estados Unidos já implementam
descomissionamento de turbinas antigas, integrando setores de reciclagem e construção
civil. A adaptação dessas práticas ao contexto brasileiro poderá aumentar a
competitividade e estabelecer o RN como referência global em gestão de parques
eólicos e economia circular.
“Na Dinamarca já existe
parque, na Alemanha já existe parque, na China já existe parque com essa
experiência de descomissionamento. Nós estamos agora, inclusive, estou
acompanhando o presidente da Fiern, Roberto Serquiz, numa missão na China,
agora no mês de outubro e uma das coisas que eu pretendo ver lá são os
equipamentos de descomissionamento para trazer tecnologia para cá, para a
empresa local”, diz Mello.
Para Roberto Serquiz,
presidente do Sistema Fiern, o descomissionamento é uma porta de entrada para
novos negócios e inovação industrial. Ele destaca que o estado deverá ganhar
infraestrutura capaz de absorver todo o material dos parques desativados, como
uma futura siderúrgica, e que o momento é ideal para promover o RN como
referência nacional na transformação de resíduos em novos produtos. “A partir
do momento que você tem uma indústria que pode absorver todo o material advindo
do desmonte desses parques, isso poderá se transformar num grande exemplo
nacional. O social, o ambiental e o econômico vão se conectar”, diz.
Indústria da reciclagem terá papel
crucial no descomissionamento – Foto: Magnus Nascimento/TN
O descomissionamento será mais
do que um processo pontual de desmontagem; ele se apresenta como uma
oportunidade de inovação e que fará parte definitivamente da indústria
potiguar, analisa Sérgio Azevedo, presidente do Coere. Ele afirma que o RN pode
transformar a retirada de aerogeradores antigos em um mercado contínuo e
estruturado. “Não será um boom isolado. Teremos ondas sucessivas de
descomissionamento: primeiro os parques da 1ª geração, depois os demais, além
do futuro offshore”, afirma.
Do ponto de vista de demanda
por profissionais no futuro, o Senai-RN já se prepara para esse cenário.
Rodrigo Mello, diretor regional, explica que os profissionais formados na
instituição, que atuaram na construção dos parques, poderão atuar diretamente nesse
novo segmento, aplicando as competências em elétrica, mecânica e manutenção de
equipamentos. “Não se trata de criar um profissional específico para
descomissionamento, mas de reaproveitar a expertise já existente para gerar
valor e novas oportunidades”, observa.
Dados da ABEEólica apontam
que, em 2024, a energia eólica gerou 107,6 TWh, um crescimento de 12,2% em
relação ao ano anterior. Essa geração poderia abastecer o consumo de Minas
Gerais e Rio de Janeiro em 2023, beneficiando cerca de 36 milhões de habitantes.
A energia eólica contribuiu com 16,7% de toda a geração injetada no Sistema
Interligado Nacional (SIN) no período.
Offshore eleva expectativas
O futuro da energia eólica no
Brasil é promissor, com destaque para a expansão de projetos offshore (no mar),
a introdução de turbinas mais eficientes e o uso da energia eólica na produção
de hidrogênio verde. Um estudo do World Bank Group mostrou que o Brasil tem um
potencial técnico para a energia eólica offshore superior a 1.200 GW, e o
desenvolvimento dessa fonte até 2050 dependerá de qual cenário o país escolher
seguir. O relatório detalha três caminhos possíveis, cada um com impactos
distintos na economia e na matriz energética nacional.
Cenário conservador: é o
cenário mais modesto, projetando uma capacidade instalada de 16 GW de energia
eólica offshore até 2050, o que representaria 3% da geração total do País. Para
isso, seriam instaladas aproximadamente 1.100 turbinas, com um investimento
total de US$ 40 bilhões até 2050.
Cenário intermediário:
expansão moderada, com a offshore começando a ter um papel mais significativo
na matriz elétrica brasileira, alcançando 32 GW de capacidade instalada até
2050. Isso corresponderia a 6% da capacidade total de geração do País. Para
isso, seriam necessárias 2.100 turbinas e um investimento de US$ 80 bilhões. A
implantação de 1,8 GW de projetos por ano justificaria investimentos em
infraestrutura como portos e rede de transmissão, que seriam distribuídos de
forma mais uniforme.
Cenário ambicioso: projeta a
energia eólica offshore como um elemento crucial para a matriz elétrica, com 96
GW de capacidade instalada até 2050, representando quase 20% da geração total.
Esse nível de expansão exigiria um investimento de US$ 240 bilhões e a
instalação de 5,3 GW por ano. Além de colocar o Brasil como uma liderança
global no setor, esse cenário é projetado para suprir a demanda de energia
renovável necessária para a produção de hidrogênio verde (H2V), uma das grandes
ambições do País. A realização desse cenário ambicioso levaria a um valor
agregado bruto acumulado de US$ 168 bilhões e à criação de 516 mil empregos
locais por ano.

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