Segundo ele, medidas como o
barateamento do transporte aéreo podem ajudar a alavancar de vez o turismo de
eventos, com benefícios importantes para o RN. Isso porque, na avaliação do
economista, o Rio Grande do Norte está longe dos principais emissores de
turistas deste segmento no Brasil. Os principais são Rio de Janeiro, São Paulo
e Minas Gerais, além dos estados da região Sul, um fator que restringe ao modal
aéreo o deslocamento para o RN de quem vive nessas regiões.
“Por conta da distância, é
difícil imaginar que alguém vá sair do Rio Grande do Sul de carro para visitar
o Rio Grande do Norte. Então, é preciso baratear e tornar mais acessível o
transporte aéreo. Essa é uma medida que beneficia toda a cadeia do turismo, um
setor muito transversal”, falou. Fábio Bentes defende que a medida é importante
levando em consideração que o Brasil explora muito pouco o turismo de eventos.
Estados como o RN, com grande vocação para o setor de um modo geral, teriam
muito a ganhar com o barateamento desses custos, portanto.
“O Rio Grande do Norte
dispensa comentários em termos de belezas naturais e possui uma rede hoteleira
que não é tão cara. O que precisa, de fato, é baratear os voos para que haja um
maior aproveitamento da exploração econômica favorável ao turismo”, frisa. O
economista participou do painel “Impactos do Turismo MICE do Brasil e RN”
durante o Motores do Desenvolvimento, onde apresentou a palestra “Impactos na
economia do turismo: onde estamos e para onde podemos ir”. Os dados
apresentados apontam que o turismo está em franca expansão no Estado e no País,
especialmente após os impactos da pandemia.
Para se ter uma ideia, entre
2011 e 2019, o setor cresceu 6% ao ano no Brasil. Em 2020, com o surgimento e
disseminação dos casos de covid-19, houve uma retração no faturamento da ordem
de 38% em relação ao ano anterior (em 2019 o setor faturou R$ 342 bilhões,
reduzindo a R$ 212 bilhões no ano seguinte). A partir de 2021, com a reabertura
gradual da economia, o cenário passou a ser de recuperação, com um crescimento
no faturamento das atividades características do turismo de 25% ao ano até
2024, em um ritmo superior à pré-pandemia.
O Rio Grande do Norte
apresenta cenário similar de expansão do turismo em geral. Os dados
apresentados por Fábio Bentes, compilados junto ao Governo Federal, mostram que
entre 2011 e 2019 o setor potiguar cresceu 27% no acumulado do período. Em
2020, com a pandemia, o turismo local teve queda de 38%, com recuperação no ano
seguinte (alta de 47% em 2021). Já no acumulado de 2022 a 2024, a alta ficou em
62%, o nono melhor desempenho entre os 16 estados brasileiros onde o setor mais
cresceu.
No Nordeste, o resultado
colocou o RN no quarto lugar em termos de crescimento de faturamento nesse
recorte, atrás de Alagoas (77%), Bahia (76%) e Ceará (69%). A boa performance
do turismo em geral, de acordo com Fábio Bentes, foi acompanhada pelo turismo
de eventos. Em todo o País, o número de pessoas empregadas na área passou de
81,7 mil em 2014 para 175,2 mil em 2024, uma alta de 114%. Mas ainda há uma
“mina de ouro” a explorar, nas palavras do economista. “Não à toa que a gente
observa um crescimento do turismo de eventos acima da média do turismo como um
todo. O Brasil explora apenas 27% desse segmento, então, nós temos olhado com
muito carinho para ele”, diz.
O economista alerta, no
entanto, que existem gargalos, como a questão tributária, que precisam ser
superados. “Ficamos bastante preocupados com a Reforma Tributária, porque o
novo sistema não permite que as empresas de serviços (setor do qual o turismo faz
parte) possam abater os gastos com mão de obra e isso cria um problema lá na
frente. A gente lembra que o turismo é grande, bonito, mas muito sensível. Uma
vez agredido, ele sofre para se regenerar. Por isso, é necessário fazer o que
temos feito: olhar para ele com carinho”, pontua.
Foto: Alex Régis
Governo precisa garantir
condições para o turismo se desenvolver
Como você avalia o turismo de
negócios e eventos no RN?
É um segmento pouco explorado. Dados da CNC mostram que o Brasil explora apenas
27% do próprio potencial turístico. O índice não é direcionado ao Rio Grande do
Norte, mas a gente sabe que essa é a realidade de todo o País. Claro que é uma
notícia ruim, contudo, de certa forma esses números acabam abrindo espaço para
que as entidades lutem pelo desenvolvimento da atividade turística.
O título da palestra que você
apresentou é “Impactos na economia do turismo: onde estamos e para onde podemos
ir”. Para onde vai o turismo de eventos?
No ano passado, em termos de faturamento o turismo registrou alta de mais de 9%
[em relação a 2023], com destaque para regiões específicas do País, como o
Nordeste e algumas áreas do interior. E o segmento MICE (sigla em inglês para
Meetings, Incentives, Conferences, and Exhibitions) segue junto, porque a
atividade turística, de modo geral, é transversal. Temos um aumento do
transporte de passageiros, então a hospedagem, a alimentação fora do lar e o
turismo de eventos, consequentemente, vão crescer. Historicamente, quando os
principais motores turísticos aceleram, eles puxam uma série de atividades em
paralelo.
No meio de toda essa expansão,
o que, na sua avaliação, se apresenta como um desafio?
A CNC tem ficado bastante preocupada com os custos aéreos. Em um país de
dimensões continentais, imagina o grau de dependência do RN em relação a Rio de
Janeiro e São Paulo, os principais emissores de turistas dentro do Brasil. Isso
sem falar no turista internacional. Outro ponto de preocupação é a reforma
tributária. A gente acompanhou esse processo nos últimos anos e há uma
apreensão bastante justificável em relação ao aumento de impostos para o
turismo, que deve ficar em aproximadamente 17%. Isso é muito mais, por exemplo,
do que em países que concorrem com a gente, como a Austrália, (que tem uma
carga que varia de 9% a 15%), Nova Zelândia e Espanha (cada uma com 10%) e
Alemanha 7%. Ou seja, a gente não pode contar somente com a demanda do turista
estrangeiro e doméstico para explorar nosso potencial. Precisamos que o governo
garanta condições para o setor se desenvolver melhor. É necessário mais
infraestrutura nos aeroportos, em estradas, assim como no turismo marítimo. A
segurança pública é outra preocupação. O setor privado pode investir em
segurança, mas não consegue atacar o problema de forma coordenada e homogênea
como o Estado.
Tribuna do Norte

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