quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

Setor produtivo projeta crescimento econômico e desafios para 2026 no RN

Segundo a Fecomércio, a projeção de crescimento do PIB estadual em 1,1% em 2026 deve impulsionar o desempenho dos setores de comércio, serviços e turismo | Foto: ALEX RÉGIS

A economia do Rio Grande do Norte deve apresentar crescimento gradual em 2026, com incremento de novos postos de trabalho e manutenção de investimentos, segundo projetam entidades do setor produtivo potiguar ouvidas pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE. Ainda de acordo com os agentes econômicos, no entanto, alguns problemas que persistiram ao longo de 2025 devem permanecer no ano que vem, o que faz com que questões como a segurança jurídica e a melhoria dos ambientes regulatório e fiscal do Estado se destaquem entre os principais desafios a serem superados no próximo ano.

De acordo com o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomércio/RN), Marcelo Queiroz, a projeção de crescimento do PIB estadual em 1,1% em 2026 deve impulsionar o desempenho dos setores de comércio, serviços e turismo. A estimativa do Instituto Fecomércio RN (IFC) é que os setores sejam responsáveis pela geração de 15 mil postos de trabalho no próximo ano, sendo 9 mil nas atividades do setor terciário.

Homem sentado em frente a computador na mesa

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

Marcelo Queiroz, presidente da Federação do Comércio do RN | Foto: Adriano Abreu

A projeção de incremento na empregabilidade também é destacada pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do RN (ABIH/RN), Edmar Gadelha, que vê no calendário de feriados de 2026 e no aumento de voos internacionais as principais oportunidades para o turismo potiguar. Ele destaca, por exemplo, o início das operações regulares dos voos internacionais da JetSMART (Argentina) e da GOL (Uruguai), aos sábados, em três períodos do ano (21 de março a 4 de abril, de 4 a 25 de julho e de 5 a 26 de dezembro).

“Estamos entrando em um novo patamar de conexão com o mercado internacional. Essa conectividade direta é um divisor de águas e deve aquecer a demanda internacional durante praticamente todo o ano, complementando perfeitamente a alta sazonalidade doméstica”, destaca o presidente da ABIH/RN.

No setor agropecuário, por outro lado, a projeção é de um cenário de crescimento moderado e associado às condições climáticas e econômicas. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faern), José Vieira, aponta que as melhores perspectivas são para a fruticultura irrigada. O esperado é que o setor mantenha investimentos em tecnologia e que a produção de grãos exerça um papel mais relevante em 2026, com suporte para baratear o custo da ração na pecuária local.

Homem com camiseta azul

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

José Vieira, presidente da Federação da Agricultura (Faern) | Foto: Magnus Nascimento

Nos setores de aquicultura e pecuária, a expectativa é de estabilidade e crescimento gradual, com a perspectiva de melhoria genética, na sanidade animal e na recuperação de áreas produtivas para este último. Para a pesca, um dos segmentos mais impactados pelo Tarifaço dos Estados Unidos em 2025, a projeção é de uma recuperação ainda parcial em 2026.

“O tarifaço teve impactos expressivos sobre o setor pesqueiro do RN, afetando exportações, faturamento e empregos. A recomposição dependerá da normalização das condições de acesso a mercados, da abertura de novos destinos comerciais e do fortalecimento do mercado interno”, aponta.

A visão moderada de crescimento é semelhante à do segmento da construção. Na avaliação da diretora-executiva do Sindicato da Indústria da Construção Civil do RN (Sinduscon/RN), Ismália Carvalho, a previsão é de manutenção e possível ampliação dos postos de trabalho. O cenário deve ser possibilitado, sobretudo, pela retomada de investimentos privados, pelos empreendimentos habitacionais e pelas obras de infraestrutura no estado.

“Em relação às áreas que devem concentrar novos projetos imobiliários, observamos oportunidades tanto no segmento habitacional, especialmente voltado à habitação de interesse social e de média renda, quanto nos empreendimentos comerciais, logísticos e de uso misto, além do crescimento em regiões com potencial turístico e de expansão urbana, principalmente nos grandes centros e em polos regionais do Estado”, esclarece.

No campo das energias renováveis, por sua vez, o período de 2026 ainda deve absorver as consequências de problemas ocorridos nos últimos 2 anos. É o que avalia Darlan Santos, presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne). De acordo com ele, mesmo com algumas ações realizadas no segundo semestre de 2025, o desenvolvimento de ações no setor demanda tempo.

Sobre o resultado do leilão de transmissão da Aneel, que garantiu R$ 805 milhões em investimentos no Rio Grande do Norte, o presidente do Cerne reconhece que a perspectiva de recursos trouxe “um alívio” frente às dificuldades do setor. Apesar disso, observa, o esperado é que outras ações sejam desenvolvidas.

“O estado do Rio Grande do Norte tem que mudar sua projeção no setor de apenas gerador de energia renovável, para consumidor dessa energia. Em consequência, não teríamos problemas com o escoamento de energia para outras regiões e ainda estaríamos contribuindo com a atração de indústrias para a região”, argumenta.

O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), Roberto Serquiz, destaca que o RN reúne ativos naturais e produtivos estratégicos, como petróleo e mineração, mas exige melhorias na segurança jurídica e previsibilidade regulatória para atrair mais investimentos. Ele destaca o avanço da Lei da Política Industrial do Rio Grande do Norte, atualmente em tramitação na Assembleia Legislativa, e defende a conclusão da revisão da Lei Complementar nº 272, que trata do licenciamento ambiental no estado.

Juros, crédito e inadimplência são desafios

Em paralelo às projeções positivas, a economia potiguar também se prepara para alguns desafios em 2026. De acordo com Marcelo Queiroz, os setores de comércio, serviços e turismo devem enfrentar elevadas taxas de juros e inflação, que reduzem o poder de compra da população. Outro problema é o elevado nível de inadimplência das famílias potiguares e a necessidade de investimentos para adequação às primeiras fases da reforma tributária.

No setor de construção civil, os principais desafios destacados por Ismália Carvalho são a escassez de mão de obra qualificada, os custos de produção, o acesso ao crédito, a necessidade de maior previsibilidade regulatória e a agilidade nos processos de licenciamento. “Esses fatores exigem diálogo permanente entre o setor produtivo e o poder público”, aponta.

Dificuldades semelhantes são aguardadas na agropecuária. De acordo com José Vieira, a irregularidade climática, os elevados custos de produção e a necessidade de crédito mais acessível, além de limitações de infraestrutura logística, são alguns dos problemas que atingem o setor. “A volatilidade do cenário internacional também segue como um fator de atenção para os setores com perfil exportador”, compartilha.

No eixo do turismo, Edmar Gadelha aponta que, além dos desafios ligados à infraestrutura e mão de obra, a segurança pública segue como problema central: “O desafio central e mais sensível permanece sendo a garantia de segurança pública de forma consistente e perceptível, não apenas nos hotéis, mas em todo o circuito que o turista percorre”.

Poder público deve mirar solidez fiscal

Na visão de Roberto Serquiz, a melhora do ambiente de negócios do Rio Grande do Norte exige uma atuação integrada do poder público. Ele defende, especialmente, a necessidade de um ajuste fiscal para recuperar a capacidade de investimento do Estado e favorecer seu papel como indutor do desenvolvimento.

Homem de terno e gravata com as mãos

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

Roberto Serquiz, presidente da Federação das Indústrias (Fiern) | Foto: Adriano Abreu

A solidez fiscal por parte das três esferas do poder público também é aguardada pela Fecomércio. De acordo com Marcelo Queiroz, esse cenário é fundamental para promover pagamento em dia de salários de fornecedores e atrair investimentos do setor privado.

Para a Faern, é fundamental que os municípios auxiliem na área de infraestrutura básica e o governo federal invista em políticas de crédito e apoio na “proteção contra barreiras tarifárias injustas”. “Do governo estadual, espera-se investimentos em infraestrutura hídrica e logística, o fortalecimento da defesa agropecuária e políticas que promovam competitividade e segurança jurídica”, aponta José Vieira.

A segurança jurídica também é destacada pelo Sinduscon/RN. Além disso, segundo Ismália Carvalho, a entidade aguarda das três esferas de poder maior manutenção do diálogo institucional, políticas públicas de estímulo ao investimento, melhoria do ambiente regulatório, e apoio a iniciativas de qualificação profissional.

Tribuna do Norte

Nenhum comentário:

Postar um comentário