Segundo a Fecomércio, a projeção de crescimento do PIB estadual em 1,1% em 2026 deve impulsionar o desempenho dos setores de comércio, serviços e turismo | Foto: ALEX RÉGIS
A economia do Rio Grande do Norte deve apresentar crescimento gradual em 2026, com incremento de novos postos de trabalho e manutenção de investimentos, segundo projetam entidades do setor produtivo potiguar ouvidas pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE. Ainda de acordo com os agentes econômicos, no entanto, alguns problemas que persistiram ao longo de 2025 devem permanecer no ano que vem, o que faz com que questões como a segurança jurídica e a melhoria dos ambientes regulatório e fiscal do Estado se destaquem entre os principais desafios a serem superados no próximo ano.
De acordo com o presidente da
Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomércio/RN),
Marcelo Queiroz, a projeção de crescimento do PIB estadual em 1,1% em 2026 deve
impulsionar o desempenho dos setores de comércio, serviços e turismo. A
estimativa do Instituto Fecomércio RN (IFC) é que os setores sejam responsáveis
pela geração de 15 mil postos de trabalho no próximo ano, sendo 9 mil nas
atividades do setor terciário.
Marcelo Queiroz, presidente da
Federação do Comércio do RN | Foto: Adriano Abreu
A projeção de incremento na
empregabilidade também é destacada pelo presidente da Associação Brasileira da
Indústria de Hotéis do RN (ABIH/RN), Edmar Gadelha, que vê no calendário de
feriados de 2026 e no aumento de voos internacionais as principais oportunidades
para o turismo potiguar. Ele destaca, por exemplo, o início das operações
regulares dos voos internacionais da JetSMART (Argentina) e da GOL (Uruguai),
aos sábados, em três períodos do ano (21 de março a 4 de abril, de 4 a 25 de
julho e de 5 a 26 de dezembro).
“Estamos entrando em um novo
patamar de conexão com o mercado internacional. Essa conectividade direta é um
divisor de águas e deve aquecer a demanda internacional durante praticamente
todo o ano, complementando perfeitamente a alta sazonalidade doméstica”,
destaca o presidente da ABIH/RN.
No setor agropecuário, por
outro lado, a projeção é de um cenário de crescimento moderado e associado às
condições climáticas e econômicas. O presidente da Federação da Agricultura e
Pecuária do Estado (Faern), José Vieira, aponta que as melhores perspectivas
são para a fruticultura irrigada. O esperado é que o setor mantenha
investimentos em tecnologia e que a produção de grãos exerça um papel mais
relevante em 2026, com suporte para baratear o custo da ração na pecuária
local.
José Vieira, presidente da
Federação da Agricultura (Faern) | Foto: Magnus Nascimento
Nos setores de aquicultura e
pecuária, a expectativa é de estabilidade e crescimento gradual, com a
perspectiva de melhoria genética, na sanidade animal e na recuperação de áreas
produtivas para este último. Para a pesca, um dos segmentos mais impactados
pelo Tarifaço dos Estados Unidos em 2025, a projeção é de uma recuperação ainda
parcial em 2026.
“O tarifaço teve impactos
expressivos sobre o setor pesqueiro do RN, afetando exportações, faturamento e
empregos. A recomposição dependerá da normalização das condições de acesso a
mercados, da abertura de novos destinos comerciais e do fortalecimento do
mercado interno”, aponta.
A visão moderada de
crescimento é semelhante à do segmento da construção. Na avaliação da
diretora-executiva do Sindicato da Indústria da Construção Civil do RN
(Sinduscon/RN), Ismália Carvalho, a previsão é de manutenção e possível
ampliação dos postos de trabalho. O cenário deve ser possibilitado, sobretudo,
pela retomada de investimentos privados, pelos empreendimentos habitacionais e
pelas obras de infraestrutura no estado.
“Em relação às áreas que devem
concentrar novos projetos imobiliários, observamos oportunidades tanto no
segmento habitacional, especialmente voltado à habitação de interesse social e
de média renda, quanto nos empreendimentos comerciais, logísticos e de uso
misto, além do crescimento em regiões com potencial turístico e de expansão
urbana, principalmente nos grandes centros e em polos regionais do Estado”,
esclarece.
No campo das energias
renováveis, por sua vez, o período de 2026 ainda deve absorver as consequências
de problemas ocorridos nos últimos 2 anos. É o que avalia Darlan Santos,
presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne). De acordo
com ele, mesmo com algumas ações realizadas no segundo semestre de 2025, o
desenvolvimento de ações no setor demanda tempo.
Sobre o resultado do leilão de
transmissão da Aneel, que garantiu R$ 805 milhões em investimentos no Rio
Grande do Norte, o presidente do Cerne reconhece que a perspectiva de recursos
trouxe “um alívio” frente às dificuldades do setor. Apesar disso, observa, o
esperado é que outras ações sejam desenvolvidas.
“O estado do Rio Grande do
Norte tem que mudar sua projeção no setor de apenas gerador de energia
renovável, para consumidor dessa energia. Em consequência, não teríamos
problemas com o escoamento de energia para outras regiões e ainda estaríamos
contribuindo com a atração de indústrias para a região”, argumenta.
O presidente da Federação das
Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), Roberto Serquiz, destaca que o RN
reúne ativos naturais e produtivos estratégicos, como petróleo e mineração, mas
exige melhorias na segurança jurídica e previsibilidade regulatória para atrair
mais investimentos. Ele destaca o avanço da Lei da Política Industrial do Rio
Grande do Norte, atualmente em tramitação na Assembleia Legislativa, e defende
a conclusão da revisão da Lei Complementar nº 272, que trata do licenciamento
ambiental no estado.
Juros, crédito e inadimplência
são desafios
Em paralelo às projeções
positivas, a economia potiguar também se prepara para alguns desafios em 2026.
De acordo com Marcelo Queiroz, os setores de comércio, serviços e turismo devem
enfrentar elevadas taxas de juros e inflação, que reduzem o poder de compra da
população. Outro problema é o elevado nível de inadimplência das famílias
potiguares e a necessidade de investimentos para adequação às primeiras fases
da reforma tributária.
No setor de construção civil,
os principais desafios destacados por Ismália Carvalho são a escassez de mão de
obra qualificada, os custos de produção, o acesso ao crédito, a necessidade de
maior previsibilidade regulatória e a agilidade nos processos de licenciamento.
“Esses fatores exigem diálogo permanente entre o setor produtivo e o poder
público”, aponta.
Dificuldades semelhantes são
aguardadas na agropecuária. De acordo com José Vieira, a irregularidade
climática, os elevados custos de produção e a necessidade de crédito mais
acessível, além de limitações de infraestrutura logística, são alguns dos problemas
que atingem o setor. “A volatilidade do cenário internacional também segue como
um fator de atenção para os setores com perfil exportador”, compartilha.
No eixo do turismo, Edmar
Gadelha aponta que, além dos desafios ligados à infraestrutura e mão de obra, a
segurança pública segue como problema central: “O desafio central e mais
sensível permanece sendo a garantia de segurança pública de forma consistente e
perceptível, não apenas nos hotéis, mas em todo o circuito que o turista
percorre”.
Poder público deve mirar
solidez fiscal
Na visão de Roberto Serquiz, a
melhora do ambiente de negócios do Rio Grande do Norte exige uma atuação
integrada do poder público. Ele defende, especialmente, a necessidade de um
ajuste fiscal para recuperar a capacidade de investimento do Estado e favorecer
seu papel como indutor do desenvolvimento.
Roberto Serquiz, presidente da
Federação das Indústrias (Fiern) | Foto: Adriano Abreu
A solidez fiscal por parte das
três esferas do poder público também é aguardada pela Fecomércio. De acordo com
Marcelo Queiroz, esse cenário é fundamental para promover pagamento em dia de
salários de fornecedores e atrair investimentos do setor privado.
Para a Faern, é fundamental
que os municípios auxiliem na área de infraestrutura básica e o governo federal
invista em políticas de crédito e apoio na “proteção contra barreiras
tarifárias injustas”. “Do governo estadual, espera-se investimentos em infraestrutura
hídrica e logística, o fortalecimento da defesa agropecuária e políticas que
promovam competitividade e segurança jurídica”, aponta José Vieira.
A segurança jurídica também é
destacada pelo Sinduscon/RN. Além disso, segundo Ismália Carvalho, a entidade
aguarda das três esferas de poder maior manutenção do diálogo institucional,
políticas públicas de estímulo ao investimento, melhoria do ambiente regulatório,
e apoio a iniciativas de qualificação profissional.

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