quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Suspensão do julgamento de Brisa domina sessão ordinária

Vereadores Brisa, Daniel Valença e Samanda Alves, da bancada do PT, conversam em plenário | Foto: FRANCISCO DE ASSIS

Mesmo sem o julgamento do processo de cassação, a sessão da Câmara Municipal de Natal (CMN), na manhã de quarta-feira (19), foi dominada pelos desdobramentos do caso envolvendo a vereadora Brisa Bracchi (PT). A sessão ordinária transcorreu normalmente, mas o plenário e os corredores seguiram marcados por discussões sobre prazos, interpretações jurídicas, decisões judiciais e posicionamentos político.

A suspensão da sessão — determinada por decisões judiciais que apontaram descumprimento dos prazos de convocação — pautou a maioria dos discursos e movimentações na Casa.

Do lado da vereadora Samanda Alves (PT), a avaliação é de que o Judiciário confirmou irregularidades. Já do lado dos denunciantes e aliados, as falas apontaram para interferência indevida e tentativa de “salvar” o mandato da parlamentar.

Samanda Alves (PT) disse que os militantes “continuarão até que seja necessário” no entorno do Palácio Frei Miguelinho, sede do Poder Legislativo, classificando que o processo contra Brisa Braccho “é inteiramente marcado por vícios processuais, notificações irregulares e prazos desrespeitados, tanto que o Tribunal de Justiça precisou intervir três vezes na primeira instância e na segunda instância para garantir o básico, o direito de defesa e o definido processo legal”.

A vereadora petista avisoum ainda, que vai abrir representação do Ministério Público contra o vereador Matheus Faustino (União Brasil), “que não nos acusou diretamente, para que explique se existiu venda de sentença, existiu alguém que comprou, vamos notificar para que ele dê conta das acusações seríssimas que ele fez contra o Poder Judiciário e contra o Ministério Público”.

O Subtenente Eliabe (PL) disse que “só espera que a baderna que acontece na frente da Câmara não esteja sendo custeada por emendas parlamentares” e contestou declarações de Samanda Alves sobre vicio nas investigações e julgamento do processo de cassação do mandato de Brisa Bracchi.

“O processo cumpriu todos os requisitos regimentais, que foi justamente colher as assinaturas para poder dar entrada no procedimento. O processo foi admitido aqui por 23 vereadores, isso é muito importante destacar”, disse Eliabe.

Segundo Eliabe, a bancada de esquerda argumenta a questão do interstício na convocação da sessão de julgamento. “Apenas isso que está sendo julgado, mas ma vereadora denunciada utilizou de um instrumento legal para cometer uma ilegalidade, para promover um ato político-partidário ideológico com o dinheiro de uma emenda, de um recurso do pagador de imposto que deveria ir para a saúde, para a educação, até para a infraestrutura. Ela usou para fazer um evento político partidário ideológico”.

O subtenente Eliabe quis deixar claro, que “em nenhum momento a justiça fala no mérito. O questionamento que a vereadora fez, que é legal, nós temos que seguir os instrumentos legais”.

Já o vereador Irapuã Nóbrega (Republicanos) não se ateve `{a questão do processo envolvendo Brisa Bracchi. Porém, prestou solidariedade aos vereadores Cláudio Custódio (PP), vereador Tércio Tinoco (União Brasil) e Tarcio de Eudiane (União Brasil) e outros vereadores, que “foram extremamente pressionados nos últimos dias em Natal” por um posicionamento sobre o julgamento da cassação da vereadora do PT.

“Quero solicitar e pedir ao vereador Matheus Faustino que evite de expor os vereadores, porque ninguém vai me pressionar a votar a forma que eu queira votar”, declarou Nóbrega.

Nóbrega disse que Faustino tirasse o seu nome e o número do telefone das redes sociais dele, porque “não aceita ser pressionado”.

Matheus Fauystino (União Brasil) retrucou que não divulgou número de telefone e rede social, de nenhum vereador da Casa: “Isso é uma mentira. Isso aí está constando no meu site “Fora Brisa”, que inclusive são informações que estão disponíveis no próprio site da Câmara Municipal. Então, se está solicitando que tire o nome dos vereadores, que tire o número dos vereadores do gabinete, não o número pessoal do site, é preciso também solicitar que tire da Câmara Municipal, mas aí a gente estaria ferindo o princípio da publicidade”.

Faustino disse que a pressão veio da imprensa, junto com a mobilização das pessoas, e que os vereadores ”se resolvam com o eleitorado” deles.

“De fato, ninguém me deve explicação de nada. Eu sou um vereador como qualquer um. A explicação aqui não tem que ser para mim, tem que ser para os eleitores de vocês. E vocês votam com a conveniência, se posicionam com a conveniência da qual vocês acharem pertinente de acordo com aquele eleitorado que vocês tiveram”, retrucou.

Entorno

Do lado de fora da Câmara, manifestantes mobilizados em apoio à vereadora permaneciam em vigília desde a manhã de terça-feira (18). Com faixas e palavras de ordem, o grupo declarou que permanecerá no local até “a perseguição acabar”.

Logo cedo, a vereadora Brisa Bracchi afirmou que as decisões judiciais reforçam as denúncias de irregularidades que sua defesa apresentava desde o início.

“Foram três decisões favoráveis ao nosso mandato”, disse. “A gente tem muito mais esperança e comemora vendo a justiça sendo feita. Desde o início denunciamos a injustiça e a perseguição política. No momento de convocação da sessão de julgamento, o prazo regimental não foi respeitado, e nós já tivemos decisões judiciais ao nosso favor, de dois desembargadores diferentes”, afirmou.

Do lado oposto, o vereador Matheus Faustino (União Brasil), autor da denúncia, voltou a criticar as decisões do TJRN e afirmou que há “interpretação criativa” dos prazos prevista no Decreto-Lei 201/67 e no Regimento Interno.

“Eu estou vendo uma interferência muito clara da Justiça dentro da Casa”, declarou. Segundo ele, a súmula vinculante 46 do STF estabelece competência da União para legislar sobre cassação, e por isso deveria prevalecer o Decreto 201, que trabalha com prazo de 24 horas para notificação e 90 dias para conclusão do processo.

Faustino alegou ainda que, se a interpretação judicial prevalecer, o processo pode se tornar inviável e gerar insegurança sobre a autonomia do Legislativo. “Se for levar em consideração as 72 horas do regimento e os 90 dias do decreto para beneficiar Brisa, realmente não vai ter mais processo”.

Eriko aguarda TJRN seguir com processo

Em nota oficial divulgada na quarta-feira (19), o presidente da Câmara Municipal de Natal, Eriko Jácome, reafirmou que o Legislativo natalense cumpre integralmente todas as determinações judiciais e mantém diálogo constante com as autoridades competentes para garantir total conformidade com a lei.

Eriko Jácome destacou ainda que, assim que houver autorização e concordância da Justiça, a Câmara Municipal seguirá com o processo de julgamento de cassação da vereadora, observando rigorosamente todos os ritos legais e regimentais previstos.

“Estamos obedecendo a todas as orientações da Justiça e tomando todas as medidas para preservar o bom andamento dos trabalhos. A Câmara de Natal segue funcionando normalmente, com responsabilidade e respeito à legalidade”, afirmou Eriko Jácome.

Apesar dos recentes questionamentos externos, o presidente reiterou que as atividades legislativas continuam ocorrendo regularmente, incluindo sessões plenárias, reuniões das comissões e atos administrativos.

O presidente também ressaltou que a Câmara Municipal de Natal não se responsabiliza por falas, opiniões ou manifestações individuais, sejam de vereadores, servidores ou de cidadãos, uma vez que cada declaração pública é de inteira responsabilidade de quem a profere. A instituição segue comprometida com seu papel institucional.

A nota encerra reforçando o compromisso da Mesa Diretora com uma gestão transparente, segura e rigorosamente alinhada às determinações legais em todos os seus âmbitos, reafirmando o respeito absoluto às instituições e ao Estado Democrático de Direito.

Procurador diz que processo terá continuidade

O procurador-geral da Câmara Municipal de Natal, Gustavo Sousa, afirmou na quarta-feira (19) que, caso o processo de cassação da vereadora Brisa Bracchi (PT) seja arquivado por decurso de prazo, é possível que uma nova denúncia seja apresentada, inclusive com base nos mesmos fatos, isso porque o processo terminaria sem a conclusão do julgamento. A interpretação elimina a possibilidade de que o esgotamento dos prazos coloque fim ao caso, em meio ao impasse jurídico que suspendeu duas sessões de julgamento em dois dias.

Gustavo explicou que há duas divergências simultâneas: o prazo para convocação da sessão — 24 horas (Decreto-Lei 201/67) ou 72 horas (Regimento Interno) — e o prazo para conclusão do processo — 90 dias (Decreto-Lei) ou 120 dias (Regimento). A Câmara adotava o Decreto-Lei desde o início, mas decisões do Tribunal de Justiça passaram a exigir o cumprimento simultâneo das duas regras, favorecendo o prazo que beneficie a denunciada.

O procurador reforçou que, mesmo que o processo seja arquivado ao final dos prazos, isso não encerra o debate sobre o mérito.

Gustavo ressaltou que a Câmara adotou desde o início os prazos do Decreto-Lei 201/67 por orientação do STF, que considera a legislação sobre cassação como matéria de competência privativa da União. “Existe uma súmula do STF que diz que a legislação sobre cassação é privativa da União. Então, por isso, aplicamos o decreto federal. Onde há divergência, aplicamos sempre o decreto, em virtude dessa questão de competência”, explicou.

Ele afirmou que havia temor de que a adoção isolada do Regimento Interno pudesse gerar invalidação futura. “Temíamos que, ao adotar o regimento na parte em que ele é dissonante do decreto federal, o processo fosse combatido e perdesse validade”. A Procuradoria já enviou petição ao Tribunal de Justiça pedindo esclarecimentos sobre quais prazos devem prevalecer daqui para frente. A suspensão das sessões ocorreu após decisões do desembargador Cornélio Alves e do juiz Artur Bonifácio, que identificaram descumprimento do prazo mínimo para convocação. Uma 3ª decisão do desembargador Dilermando Mota, reforçou a necessidade de observar simultaneamente o Decreto e o Regimento.

Tribuna do Norte

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