A decisão do governo dos Estados Unidos de suspender tarifas extras sobre parte dos produtos agrícolas brasileiros foi recebida como um avanço diplomático, mas ainda insuficiente para alterar de forma significativa o desempenho das exportações do Rio Grande do Norte. Lideranças do setor produtivo avaliam que o alívio é real, mas limitado, já que os principais itens da pauta potiguar seguem fora da lista de isenções e continuam enfrentando custos elevados no acesso ao mercado norte-americano. Na quinta-feira (20), a lista de isenções da tarifa de 40% foi ampliada para incluir mais produtos agrícolas, como a manga e a castanha de caju, que o RN produz.
O secretário estadual de
Desenvolvimento Econômico, Alan Silveira, destaca que a retirada das sobretaxas
cria espaço para ampliar negócios em nichos específicos. “O Rio Grande do Norte
exporta castanhas e algumas frutas tropicais para o mercado norte-americano e a
redução tarifária nessas categorias tende a fortalecer a competitividade”,
afirma. Silveira explica que, apesar do gesto da Casa Branca, o estado
permanece impedido de avançar em suas vendas de maior peso histórico para os
EUA. “Os impactos para a pauta exportadora do RN ainda são limitados, já que um
dos principais produtos, o pescado continua sujeito a tarifas elevadas, além
também do Sal Marinho”, reforça.
Por isso, ele defende que o
governo federal mantenha uma agenda ativa de negociação bilateral. Segundo
afirma, a expectativa é que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria,
Comércio e Serviços e o Itamaraty consigam avançar para incluir o pescado brasileiro,
especialmente o potiguar, nas próximas revisões. “A SEDEC continuará em diálogo
com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e com o
Ministério das Relações Exteriores”, disse.
No campo da fruticultura, o
sentimento é semelhante. O presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do RN
(Coex), Fábio Queiroga, lembra que o tarifaço imposto pelo governo Trump forçou
produtores potiguares a diversificar compradores e redirecionar cargas. “É
muito difícil concorrer com essas tarifas”, afirma. Ele reconhece que a
retirada dos 40% restantes sobre manga e castanha traz algum fôlego, mas
insiste que o alcance ainda é modesto diante da estrutura produtiva estadual.
“Ainda não é tão significativo para o setor agrícola potiguar, que tem como seu
carro-chefe o melão e a melancia”, aponta.
Na análise do presidente da
Federação da Agricultura do RN (Faern), José Vieira, o gesto americano é
importante por reduzir a imprevisibilidade e sinalizar maior estabilidade nas
relações comerciais. “Para cadeias como castanha de caju, coco e outras frutas
tropicais, a redução de barreiras pode abrir oportunidades futuras, desde que
acompanhada por investimentos em escala produtiva, certificação e atendimento
às exigências sanitárias e logísticas”, afirma
Já setores como carne bovina e
café, nos quais o estado tem atuação limitada, ele avalia que não devem
registrar impactos diretos no curto prazo. “Seus efeitos devem ser
dimensionados com cautela, considerando a estrutura produtiva atual do estado.
Ainda assim, representa uma oportunidade estratégica para ampliar as
exportações da fruticultura potiguar e reforçar o papel do Rio Grande do Norte
como referência nacional em produção de frutas de alta qualidade para o mercado
externo”, explica Vieira.
Fiern vê avanço limitado
diante dos impactos
A revogação parcial das
tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros ainda não
altera o cenário de perdas acumuladas desde o início do tarifaço, especialmente
no setor industrial, que foi o mais atingido. A avaliação é do presidente da
Federação das Indústrias do RN (Fiern), Roberto Serquiz, que considera a
decisão norte-americana um passo importante, mas insuficiente para aliviar os
impactos sobre itens que representam metade da pauta exportadora potiguar. “A
pesca, o sal, a confeitaria e as pedras de construção continuaram fora. Isso
corresponde a 50% da nossa exportação. Caímos de 12 milhões de dólares para 9
milhões, de agosto a outubro, comparando com o mesmo período de 2024, ou seja
uma queda de 25%”, cita.
Ele lembra que a manutenção de
tarifas elevadas restringe a competitividade externa de cadeias tradicionais do
RN. Serquiz participou diretamente das articulações em Washington, onde
apresentou a congressistas norte-americanos a relevância de produtos potiguares
como atum e sal. Ele destaca o argumento técnico usado nas negociações: o sal
potiguar, além da qualidade, é estratégico para o processo de degelo nas
regiões que enfrentam inverno rigoroso, com logística favorável devido à
proximidade dos portos da costa leste dos EUA. “Plantamos fatos e argumentos
muito claros para a gente tentar reverter essa situação”, diz Serquiz.
Em relação ao pescado,
entretanto, o dirigente vê mais obstáculos. “Embora nosso atum seja muito bem
consumido lá, eles têm alternativas de permuta. A nossa maior esperança, nesse
caso, seria a abertura do mercado da Europa. Mas nós também levamos a qualidade
do nosso atum para o consumidor da faixa etária alta americana”, explica.
Serquiz também comentou o
comportamento recente de setores atingidos. Enquanto o sal e produtos de
confeitaria demonstraram alguma reação em outubro, o pescado continua em baixa.
Apesar das dificuldades, as empresas têm evitado demissões para não perder espaço
no mercado internacional, incluindo sacrifícios de margem tanto por parte dos
produtores quanto dos compradores americanos, em uma tentativa de preservar
relações comerciais. “Porque é muito melhor manter o mercado, mesmo perdendo a
margem de lucro, do que perder e ter que reconquistar”, afirma.
Apesar das incertezas, Serquiz
considera que há avanço diplomático em curso, mesmo que lento. A revogação
parcial já anunciada, diz ele, demonstra que os EUA estão ajustando tarifas
também por fatores internos, como inflação e necessidade de abastecimento.
“Nossa confiança é que, no próximo grupo de exceção, entrem esses produtos mais
sacrificados”, afirma.
Cláudio Oliveira/Repórter
Tribuna do Norte

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