Matheus França, presidente da Anorc | Foto: Alex Régis
Um evento que reúne exposição
de animais, negócios, música, gastronomia e um momento para a família. Assim é
a Festa do Boi, que abriu programação na última sexta-feira (10) e seguirá até
o próximo dia 18, com expectativa de movimentar R$ 100 milhões em negócios
nesta edição. Para o presidente da Associação Norteriograndense de Criadores
(Anorc), Matheus França, a Festa tem se consolidado ano a ano como uma das
maiores vitrines de negociações do Nordeste e do Brasil na área pecuária.
“Vamos ter animais de 7 a 9 estados presentes na Festa do Boi. Do Nordeste teremos praticamente todos os estados presentes, do Piauí, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, então teremos vários estados aqui dentro, além de vários criadores de fora do país que estão aqui presentes expondo seus animais. Eles criam no RN, mas são do exterior”, explica França.
Ainda segundo o presidente da
Anorc, a genética potiguar é um diferencial no Brasil. “Temos um núcleo de
seleção muito forte em todas as raças que se cria aqui. O pessoal investe muito
na qualidade do rebanho. Então, prioriza-se a qualidade à quantidade, isso nos
permite que vários criadores do Estado se tornem destaque no cenário nacional”,
cita.
Nesta entrevista à TRIBUNA DO
NORTE, o presidente da Anorc faz uma projeção para a 63ª edição da Festa do
Boi. Confira o bate papo.
O que temos de novidades para
essa 63ª edição da Festa do Boi?
De novidades temos, para 2025, a continuação da modernização do parque,
reformas estruturais. Começamos a reforma dos nossos currais, a famosa Coréia,
em que estamos dando uma nova cara, e os frequentadores já vão poder perceber a
diferença do ano passado para cá. Estamos com outras inovações, como o shopping
da venda dos animais com preço fixo da raça Sindi e Nelore, então são novidades
de comercialização de animais dentro da Festa do Boi nesse ano. A volta de mais
dois leilões, totalizando sete leilões, mais esses dois shoppings, então
ganhamos mais eventos de comercialização de animais, permitindo uma geração de
negócios na festa ainda maior.
Por quais razões os shoppings
foram retomados esse ano?
Era uma modalidade que já existia em outras edições, mas de maneira tímida, sem
tanta divulgação, sem tanto trabalho. E esse ano os criadores, principalmente a
raça Nelore, trouxeram esse modelo de comercialização, que é um modelo para
pagamento fixo, nos mesmos moldes do leilão. A diferença é que no leilão o
comprador dá o maior e último lance; no shopping é aquele preço fixo, e quem
compra é quem chega primeiro. Os animais estão ali à disposição, como numa
loja, e você adquire para quem chegar primeiro. Isso ajuda bastante quem quer
investir na raça, melhorar seu rebanho. É mais uma forma de adquirir, porque
tem muita gente que tem aquele medo de querer o animal, mas tem que passar pelo
pregão, às vezes o lance sobe mais do que o comprador pode pagar, então o
shopping tem essa característica do preço certo.
Quais as expectativas de
movimentação financeira em negócios neste ano? Teremos bancos com linhas
específicas de crédito?
Com tudo o que vemos acompanhando na montagem para a Festa do Boi, estamos com
expectativa de R$ 100 milhões de negócios feitos dentro do Parque Aristófanes
Fernandes. Sabemos que esse número pode ser até um pouco maior se fizermos um
estudo do que gera de economia para a cidade de Parnamirim.
Teremos seis bancos presentes
na Festa do Boi, todos eles com bastante investimento para o produtor rural,
para o visitante de forma geral, porque aqui não temos só o setor de pecuária
presente no Parque, mas todos os setores, como fotovoltaico, construção,
automobilístico, ração, agropecuária. Os bancos estão vindo para cá para quem
quer fazer negócio, adquirir suplementos novos, animais, carros, questões
estruturais ou de sua propriedade, tudo ele vai encontrar aqui à disposição,
tanto empresas quanto agentes financiadores.
Qual a expectativa de
crescimento da Festa do Boi em relação às últimas edições?
Sempre estimamos um crescimento de 5% em tudo que fazemos e conseguimos
contabilizar, como expositores, animais, quantitativo de pessoas. Se você for
estimar a questão de público, 2022-2023 tivemos um crescimento de 8%. Em
2023-2024, um crescimento de 14%. E quando você pega a geração de negócios, vai
estar entre 10 a 18%. Sempre colocamos uma margem que é possível ser alcançada,
mas também tem a margem que sonhamos e almejamos, e graças a Deus estamos
conseguindo bater essas metas. O mais importante é consolidar cada vez mais a
Festa do Boi como um evento familiar, de negócios. Tem o nome de festa, mas é
saber que aqui é a maior vitrine agropecuária do nosso estado, não só para que
os criadores do RN, mas do Nordeste e do Brasil.
Nesta edição teremos animais
de quantos estados?
Vamos ter animais de 7 a 9 estados presentes na Festa do Boi. Do Nordeste
teremos praticamente todos os estados presentes, do Piauí, Ceará, Pernambuco,
Paraíba, Alagoas, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, então
teremos vários estados aqui dentro, além de vários criadores de fora do país
que estão aqui presentes expondo seus animais. Eles criam no RN, mas são do
exterior.
Qual o tamanho do rebanho do
RN? Esse rebanho tem crescido?
Hoje temos um rebanho na casa de quase 2 milhões de cabeças de gado. Se você
for pegar o tamanho do rebanho do RN e comparar com outros centros de pecuária,
a população do rebanho bovino do RN é praticamente a população bovino da região
do Félix-Xingu, no Pará. Quando se pega nosso estado, que é pequeno, mas na
qualidade a gente se sobressai em relação aos outros estados. Temos um núcleo
de seleção muito forte em todas as raças que se cria aqui. O pessoal investe
muito na qualidade do rebanho. Então, prioriza-se a qualidade à quantidade,
isso nos permite que vários criadores do estado se tornem destaque no cenário
nacional.
Fala-se muito dos bovinos, mas
também temos uma boa criação de cavalos e competições na Festa…
Sim. O Quarto de Milha é o mais forte, vamos dizer assim, por conta da
vaquejada, esporte tradicionalmente da nossa região. Temos grandes criadores
presentes aqui, com o grande leilão da ANQM (Associação Norte-rio-grandense de
Quarto de Milha), onde eles colocam toda sua produção à disposição do mercado.
Temos as pistas de julgamento dos equinos e morfologia do quarto de milha.
Temos as provas de andamento do manga larga, que ocorrem aqui também. Todas as
espécies estão aqui também, como os caprinos e ovinos, com a Ancoc (Associação
Norte-rio-grandense dos Criadores de Ovinos e Caprinos), que não podemos deixar
de mencionar, com grandes criadores aqui também.
Como tem sido a parceria com o
Sebrae com o programa Leite & Genética?
O Sebrae é um dos principais parceiros da Anorc. Esses projetos que o Sebrae
implementa para ajudar a pecuária são muito importantes. Temos o programa
Leite, Corte & Genética e desse programa saíram vários animais destaque
nacionalmente. Touros que nasceram no Rio Grande do Norte e hoje estão em
centrais de reprodução.
Como você avalia a cessão
definitiva do Parque Aristófanes Fernandes para a Anorc?
É algo que já vinha rolando há anos e é um momento histórico para a Anorc ter
esse contrato firmado junto com o Governo do Estado, que sempre foi bem
solícito a tudo que a Anorc procurou e recorreu. Sempre tivemos essa abertura
de espaço. É um momento histórico. Há anos gerimos o Parque, tomando conta como
se fosse uma fazenda nossa, temos todo o cuidado e zelo de manter esse Parque
num bom viver para todos e temos uma preocupação ano a ano de dar uma maior
movimentação aqui, embora tenhamos todos os dias aqui associações funcionando,
instituições o ano inteiro, mas temos a preocupação de trazer mais movimento
para dentro do Parque. Com essa cessão, isso permite que a gente consiga dar
mais movimento de eventos, de estruturação dentro do Parque.
Tivemos um ano de seca severa
no nosso Estado. Como está a situação dos criadores. Isso desanima o criador?
Desestrutura qualquer criador, a verdade é essa. A seca, por mais que saibamos
que ela é secular e que ela existe, eu, como zootecnista, e desde o tempo de
universidade sabemos que a única certeza que temos no campo é a seca. Cabe ao
produtor se preparar para ela, sendo severa ou apenas leve. E realmente
desestrutura todo o produtor rural, desanima realmente você almejar uma
produção. Esse ano, vários produtores rurais só conseguiram alcançar de 30 a
40% sua produção esperada, então isso desestimula, mas o produtor rural é um
guerreiro, um cara que tem fé, e sempre procura soluções diferentes para não
ficar no prejuízo.
O que os produtores fizeram
para amenizar as questões da seca em 2025?
Todos vêm investindo muito em tecnologia. Todo produtor rural, a mínima
tecnologia que seja, ele vem procurando se tecnificar dentro da fazenda. Não é
à toa que a Festa do Boi já ajuda isso, em que o produtor encontra um aparato
de maquinário, de tecnologias e inovações diferentes para levar para o campo,
para otimizar sua produção e diminuir os efeitos da seca. São implementos de
silagem, produção de grãos, irrigação em si. Hoje sabemos que temos vários
estilos de irrigação, desde o baixo consumo, alto consumo, que permite que o
produtor realmente consiga encarar a seca com mais leveza e também com outros
cultivos, como a palma forrageira. Sabemos que é uma cultura que ajuda bastante
regiões de chuvas mais difíceis, variedades de capim que hoje vêm sendo
produzidas pela Embrapa, por vários institutos que permitem que o produtor
rural realmente encare a seca com mais serenidade.
E qual a importância da Festa
do Boi no sentido do caráter técnico e educativo do evento?
A Festa do Boi marca esse período. O Sebrae, a Faern, Senar, Emater, são peças
fundamentais, porque durante a festa eles fazem cursos de capacitação,
palestras técnicas, trazendo inovações para a mão de obra que quer se
especializar na área rural, como os estudantes de medicina veterinária,
zootecnia, agronomia, de estar aqui aprendendo e fazendo networking com os
criadores, para que realmente a gente do campo consiga uma melhor mão de obra.
Até mesmo porque a tecnologia e inovação exigem que tenhamos profissionais cada
vez mais qualificados. Além desse caráter técnico, temos toda essa parte
econômica, dos produtores estarem aqui interagindo entre si, o que está melhor
para aquela região, de suplementação, de raça, etc. Aqui é uma troca de
conhecimento gigante.
Tribuna do Norte

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