Ronildo cultivava apenas
abacaxi nos seus quatro hectares de terra do Sítio Retiro Emanuel. Hoje, ele
colhe meia tonelada diária de açaí durante a safra, além de cultivar acerola,
taperebá, cacau, milho e mandioca. O agricultor utiliza técnicas naturais,
como o sombreamento entre espécies e o adubo de caroço de açaí seco, conhecido
como coroamento, reduzindo o impacto ambiental.
“Quem planta abacaxi como
lavrador normal, todo ano precisa fazer uma roça. Todo ano tem que brocar uma
área de mato, queimar, porque não tem trator para preparar o chão. A
agrofloresta permite que eu plante de novo no mesmo local, sem usar o fogo. E
rende dinheiro por mais tempo durante o ano, porque o abacaxi só vai dar uma
vez por ano. Em vez da monocultura, eu vou ter até cinco colheitas por ano”,
explica o agricultor.
Ronildo foi ajudado pelo
Projeto Sustenta e Inova, iniciativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae) em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), que recebe financiamento da União Europeia.
Ele e outras 30 famílias
integram a Cooperativa Agropecuária e de Pesca Artesanal de Monsarás
(COOPAPAM). O grupo restaura áreas degradadas por queimadas e conscientiza
outros produtores ainda resistentes à mudança.
A mudança também inspirou a
nova geração. A filha de Ronildo, Jamile Pacheco, 18 anos, atua como secretária
e guia de turismo na propriedade da família. Ela estuda secretariado na
Universidade Federal do Pará (UFPA) e tem trazido os conhecimentos para
ajudar a divulgar melhor o trabalho local e os benefícios da agrofloresta.
“Desde a época do meu avô, que
se queimava muito a terra para plantar o abacaxi. E isso prejudicava muito o
meio ambiente. Com essa mudança, agora temos mais sombra e mais nutrientes para
o solo. Estou muito feliz com nosso trabalho aqui”, diz Jamile.
Açaí
O açaí foi o produto símbolo
da mudança para o sistema agroflorestal na propriedade da família de Ronildo.
Ele é central nos hábitos alimentares locais e na comercialização para outros
mercados do país.
No período da colheita, que
costuma durar seis meses entre julho e janeiro, chegam moradores de regiões
próximas para participar do trabalho. Um deles é Walter Antônio dos Santos
Barbosa, 52 anos, pescador e agricultor.
O trabalho é pesado. Em um
dia, uma única pessoa pode subir mais de 30 árvores para pegar um cacho de
açaí.
“É bom que a gente faz muito
exercício para o corpo”, brinca Walter. “É cansativo, não dá para ter preguiça.
Pessoal que consome o açaí tem que valorizar esse trabalho aqui. Tem gente que
acha caro quando vê R$ 18 a cumbuca. Mas nem sabe como é todo o
processo”.
Um das principais dificuldades
para melhorar o cultivo do açaí e até convencer outros agricultores a seguirem
o caminho da agrofloresta é a falta de investimento em sistemas de irrigação.
“Sem água a gente não consegue
fazer o trabalho. A maioria dos agricultores daqui não tem área de poço. Eu
consegui fazer parcerias com outras empresas e patrocinadores para conseguir
sistema de irrigação em cinco poços. E mais sete estão a caminho. Mas para o
que é o ideal ainda falta um bocado”, explica Ronildo.
“Se não conseguirmos resolver
isso, vai chegar um dia em que vai faltar açaí para alimentar a população daqui
e de outros lugares”, alerta.
* A equipe de reportagem
da Agência Brasil viajou a convite do Sebrae.
Agência Brasil
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