De acordo com o secretário
estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Paulo Varella, o
Governo do Estado busca consolidar uma gestão de “risco calculado”, baseada em
ações preventivas, uso racional da água e antecipação de medidas de mitigação.
“A gestão de recursos hídricos deve ser feita permanentemente, quando há seca e
quando não há. Neste momento, estamos passando de uma gestão reativa, de crise,
a uma gestão de planejamento, propositiva”, afirma.
Entre as ações emergenciais e estruturantes previstas estão a perfuração de 500
poços até abril de 2026 e a construção de 2.500 cisternas. De acordo com o
secretário, 103 poços já foram perfurados e o programa, com investimento de R$
13,5 milhões, segue em execução. “Essas ações podem aumentar a quantidade de
água disponível e reduzir o impacto direto sobre as famílias rurais”, destaca.
Na área de inclusão hídrica, a Secretaria do Desenvolvimento Rural e
Agricultura Familiar (Sedraf) já contabiliza 400 cisternas concluídas,
beneficiando 2.500 famílias em 28 municípios, em parceria com o Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
A estiagem, que se prolonga
desde o início do ano, já provocou perdas expressivas na produção agrícola e
ameaça a subsistência de milhares de agricultores familiares. “A principal
dificuldade da agricultura familiar diante da seca é a perda da lavoura, que,
por sua vez, leva à escassez de alimento para os animais e a desafios no
abastecimento de água para consumo humano”, relata Erivam do Carmo, presidente
da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares
(Fetarn). Segundo ele, em algumas regiões já há frustração total de safras,
especialmente de milho e feijão.
A Fetarn defende a adoção de um plano emergencial integrado. Entre as
prioridades estão a perfuração de poços, a limpeza de barreiros e açudes, a
antecipação do pagamento do Garantia-Safra e a implantação de programas de
energia solar familiar. “É fundamental garantir a assistência imediata aos
agricultores que sofrem com a escassez hídrica, além de reforçar programas como
a distribuição de milho e raquetes de palma e o crédito subsidiado para
agricultura familiar”, pontua.
Para José Vieira, presidente
do Sistema da Federação da Agricultura e Pecuária do RN (Faern) e do Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), a situação é grave e exige respostas
rápidas e coordenadas. “O decreto de emergência precisa se traduzir em ações
concretas, com prioridade para o abastecimento de água e a manutenção da
atividade produtiva. O risco de perda de rebanho é real, especialmente nas
propriedades de pequeno porte”, relata.
No Seridó e no Alto Oeste, a escassez de pastagem e a redução do volume de água
em açudes e barreiros já são relatadas por produtores. Em municípios como
Apodi, Ouro Branco e Luís Gomes, há localidades onde o abastecimento humano
depende exclusivamente de carros-pipa. Segundo José Vieira, sem medidas
emergenciais, como a distribuição de feno e o apoio à alimentação animal, o
setor pode enfrentar prejuízos significativos na pecuária leiteira e de corte.
No campo das obras
estruturantes, o Governo aposta em grandes projetos de adutoras para ampliar a
segurança hídrica. O Projeto Seridó Norte, inserido no Novo PAC, deve entrar em
operação no primeiro semestre de 2026, com investimento de R$ 300 milhões, enquanto
a Adutora do Agreste tem previsão de início ainda neste último trimestre de
2025.
O Estado também intensificou a Operação Carro-Pipa, coordenada pelo Exército
Brasileiro, que hoje atende 70 municípios e mais de 80 mil pessoas na zona
rural, com uma frota de 210 veículos. Entre as cidades mais críticas estão
Campo Redondo, São Miguel, Nova Cruz, Santa Cruz e Currais Novos. O governo
monitora diariamente o volume dos reservatórios e reforça ações de fiscalização
para evitar desperdícios e garantir o uso equilibrado entre abastecimento
humano e produção agropecuária.
Tribuna do Norte
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