sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Cidades do RN têm metade da população trabalhando em municípios vizinhos

O RN registrou o terceiro maior percentual do Brasil de pessoas trabalhando em locais diferentes de onde moram, segundo dados do Censo 2022 divulgados nesta quinta-feira (09) pelo IBGE. Ao todo, foram 150.621 pessoas nesse sentido no ano de 2022, o equivalente a 16,16% dos potiguares. Em três municípios do RN, Extremoz, São Gonçalo do Amarante e Parnamirim, cerca da metade das pessoas trabalhavam fora do município de residência. Para especialistas e geógrafos, fatores como oferta de emprego e condições mais acessíveis para moradia são fatores que explicam os índices.

Em se tratando dos três municípios que fazem limite com a capital Natal, Extremoz registrou 58,28% diante de 57,01% de São Gonçalo do Amarante e 43,55% de Parnamirim. A cidade parnamirinense, por exemplo, tinha 40.121 pessoas trabalhando em outro município, a maior quantidade do Estado.

“Municípios não têm um mercado de trabalho amplo o suficiente para absorver a força de trabalho das pessoas que moram lá. Então há um movimento pendular muito forte entre esses municípios e Natal. Pelos dados do IBGE, no caso dos trabalhadores que moram em Extremoz, 58.28% trabalham fora de lá. A maioria dessas pessoas se deslocam para Natal. A mesma coisa São Gonçalo e Parnamirim. Esse deslocamento se dá porque houve crescimento bastante acentuado da população nesses municípios, em especial São Gonçalo e Extremoz na última década, mas não houve crescimento proporcional de empregos”, analisa o professor do departamento de Geografia da UFRN, Celso Locatel.

Ainda segundo Celso Locatel, a concentração da população nesses municípios está associada ao custo de moradia, investimentos do programa Minha Casa Minha Vida em Extremoz e São Gonçalo do Amarante, além do deslocamento e acesso à BR-101 e ao novo acesso ao Aeroporto Internacional Aluízio Alves. Ele cita ainda que outro fator que explica ainda são os estudos no Ensino Superior, com muitos potiguares se deslocando para estudar fora.

Para o chefe da unidade estadual do IBGE no Rio Grande do Norte, Damião Ernane, a situação do trabalho fora do município de residência é uma questão nacional dada a “heterogeneidade econômica”. “Tem município que tem determinada vocação, outros não têm. Às vezes as organizações de conglomerados de municípios, como as regioes metropolitanas, fazem com que determinados municípios sejam mais atratores e outros mais doadores de mão de obra”, explica.

“Especificamente sobre o caso do RN, como as situações de Extremoz, São Gonçalo do Amarante, tradicionalmente a região metropolitana, isso também ocorre em outros estados, se tem um conjunto de municípios chamados “dormitórios”, tendo um perfil mais de atrair as pessoas por custo menor de habitação, facilidade de mobilidade e tudo mais e você tem realmente essa perspectiva de ser uma cidade dormitório”, acrescenta.

As situações foram constantemente debatidas nos últimos anos em Natal, que alegou ter “perdido” moradores para municípios da Grande Natal. A cidade de Extremoz, por exemplo, registrou o terceiro maior crescimento do Brasil, aumentando em 150% no Censo 2022. O tema foi um dos pontos que nortearam a revisão do Plano Diretor de Natal em 2021. As regras anteriores, segundo a Prefeitura do Natal, fizeram com que os moradores migrassem para outras cidades. Com o novo Plano Diretor, a expectativa é mudar isso.

Em outros 15 municípios do estado, o percentual passava dos 30%. Em Natal, apenas 4,98% dos trabalhadores se enquadravam nessa situação, o que representa 12,5 mil pessoas. A capital potiguar foi a sétima do País em maior percentual.

Quem mora no interior e vem todos os dias para trabalhar é o potiguar Erinaldo da Silva, 62 anos. Diariamente, ele se desloca de São Pedro do Potengi para Natal, das 4h20 para estar no trabalho às 6h, em Ponta Negra. Já aposentado e com dois filhos, diz que gosta de se manter ativo e trabalhar. Ele atua como copeiro “Eu trabalho porque se eu estiver em casa o estresse vai ser maior, porque eu não consigo ficar parado. Quem é acostumado a trabalhar não quer parar”, explica Erinaldo.

Uso do automóvel

Segundo a pesquisa do IBGE, a maioria dos potiguares que trabalhavam em um município diferente daquele onde moravam usavam automóvel (5,75%) no deslocamento para o trabalho. O ônibus foi o segundo meio de transporte mais utilizado (5,25%), seguido por motocicleta, em terceiro (3,62%).

Em Extremoz, a maioria dos trabalhadores usaram ônibus (27,10%), motocicleta (13,26) ou automóvel (12,89) no deslocamento para o trabalho em outro município. Entre os extremozenses que optaram pelo ônibus, 12,94% gastaram mais de uma hora até duas horas no deslocamento. De carro e motocicleta, o percentual de pessoas que gastaram o mesmo tempo cai para 4,21%.

Em São Gonçalo do Amarante os percentuais são semelhantes: ônibus (28,99%), motocicleta (12,82%) e automóvel (11,73) foram os principais meios de transporte no deslocamento para o trabalho em outro município, mas a maioria dos usuários de ônibus (14,71%) gastaram mais de meia hora até uma hora em tempo habitual de deslocamento. De carro e motocicleta, o percentual cai para 10,66%.

Movimentos pendulares

Municípios do RN com maior percentual de pessoas com 10 anos ou mais que trabalharam fora do domicílio e em outro município:

Extremoz – 58,28%

São Gonçalo do Amarante – 57,01%

Parnamirim – 43,55%

Vila Flor – 38,95%

Ruy Barbosa – 38,76%

Espírito Santo – 37,3%

Francisco Dantas – 36,71

Várzea – 36,26%

Senador Georgino Avelino – 35,79%

Encanto – 34,67%

Tribuna do Norte

Nenhum comentário:

Postar um comentário