Nos últimos dias, uma bebê de dois meses diagnosticada com coqueluche aguardava por um leito de UTI com crises de tosse frequentes, chegando a desmaiar. Uma decisão judicial determinou sua transferência para o Hospital Pediátrico Maria Alice, na zona Norte de Natal. Segundo a Sesap, a bebê não estava mais indicada clinicamente para leito de UTI desde o fim da semana passada e foi transferida para um leito clínico de isolamento.
O aumento dos casos no RN segue uma tendência nacional. Levantamento do
Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), da Fiocruz e da Unifase,
revela que, em 2024, o Brasil registrou 2.152 casos de coqueluche em crianças
menores de cinco anos. O número representa aumento relativo de 1.353% em
relação a 2023, que teve 159 casos. Entre 2020 e 2024, o país confirmou 8.205
casos. No mesmo período, no Rio Grande do Norte, foram notificados 101 casos
suspeitos, dos quais 35 foram confirmados, segundo boletim da Subcoordenadoria
de Vigilância Epidemiológica (Suvige).
“Esse aumento de casos de coqueluche no Brasil como um todo preocupa. É o
ressurgimento de doenças preveníveis com vacinação e que podem apresentar
quadros graves em crianças, e isso sempre aumenta nossa preocupação,
principalmente por ser uma doença de transmissão interpessoal”, explica Gisele
Borba, médica infectologista do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), da
Ebserh.
Entre 2020 e 2024 não houve óbitos por coqueluche no RN. O último registrado no
Estado foi em 2014. Quanto à imunização contra a coqueluche, a vacina
disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é a pentavalente, que deve
ser aplicada aos dois, quatro e seis meses de idade. A cobertura vacinal em
crianças de um ano no RN foi: 67,87% em 2020; 72,21% em 2021; 75,79% em 2022;
83,84% em 2023; e 89,18% em 2024. Durante esse período, não foi alcançada a
meta preconizada de 95%, o que aumenta a suscetibilidade à doença.
“É uma doença prevenível com vacina. O ressurgimento dela se deve diretamente à
queda na cobertura vacinal. Estamos experimentando essa queda desde um pouco
antes da pandemia. Na pandemia, reduziu mais ainda e, infelizmente, não
conseguimos retomar os níveis necessários para garantir proteção global contra
a doença”, acrescenta Gisele Borba.
“A alta recente de coqueluche no país pode decorrer de um conjunto de fatores:
coberturas vacinais ainda abaixo da meta de 95%, e muito desiguais entre
municípios, com atrasos nos reforços e baixa adesão à dTpa durante a gestação;
retomada dos ciclos naturais da doença no pós-pandemia; intensificação da
vigilância e do uso de PCR, elevando a detecção de quadros leves — sem,
contudo, explicar sozinha o aumento de internações e óbitos”, avalia uma das
coordenadoras do Observa Infância, Patrícia Boccolini. “Há também possível
contribuição de fatores ambientais e sociais — desastres, aglomerações e
interrupções de serviços —, que criam condições para focos locais, além do
aumento de casos registrados em toda a região das Américas entre 2023 e 2024”,
completa.
Tribuna do Norte

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