A menina que aparece no vídeo,
denominada como Ana Clara, na verdade é Sophie Grace Taylor, uma criança
inglesa que faleceu em 2020 no condado de Ânglia Oriental, na Inglaterra, após
enfrentar um câncer.
As imagens de Sophie são
encontradas com facilidade nas redes sociais devido à criação de um fundo para
crianças com câncer infantil por seus pais, Alex e Kirst Taylor, em 2021. Na
última publicação, realizada no dia 18 de janeiro, eles lamentaram os seis anos
longe da filha: “6 anos no céu, linda menina! Tivemos a sorte de fazer muitas
coisas boas com você e te ver sorrindo enquanto esteve aqui, embora sempre
desejemos que fosse mais.”
A notícia falsa falava de uma
campanha supostamente realizada pela família para arrecadar cerca de R$ 80 mil,
valor que serviria para custear os gastos médicos com o tratamento da criança.
Mas, na verdade, tudo se tratava de um golpe.
Em nota, a Arquidiocese
alertou para o caso e solicitou que nenhuma doação fosse realizada pelos fiéis.
“O vídeo em questão não foi gravado nem autorizado por Dom João Cardoso ou por
qualquer organismo oficial da Arquidiocese. Ressaltamos que essa iniciativa é
fraudulenta e orientamos veementemente que nenhuma doação seja realizada para a
conta mencionada no referido conteúdo”, diz a nota.
O vídeo utiliza uma tecnologia
chamada deepfake, que permite alterar um vídeo ou foto já existente de forma
realista com a utilização da IA. A imagem de Dom João aparece falando e
articulando de forma aparentemente natural, mas com voz robotizada, enquanto
imagens de Sophie são exibidas na tela.
No pronunciamento, a
Arquidiocese repudiou o uso indevido da imagem de seu arcebispo e alertou os
fiéis e a sociedade em geral para que não compartilhem o conteúdo falso.
“Reforçamos que todas as ações oficiais da Arquidiocese, inclusive campanhas
solidárias e pedidos de contribuição, são divulgadas exclusivamente por meio do
nosso site oficial e pelas redes institucionais da Arquidiocese”, concluiu a
nota.
A TRIBUNA DO NORTE entrou em
contato com Cláudio Cavalcante, assessor jurídico e ouvidor da Arquidiocese de
Natal. De acordo com ele, este é o primeiro caso de crime cibernético
manipulado por Inteligência Artificial enfrentado pela instituição. “Já temos
no passado enfrentado aqueles golpes por telefone, que usavam padres para pedir
dinheiro, nome de padres, mas em relação a usar a imagem, usar a voz, é a
primeira vez”, disse.
“É bom que fique claro que não
é só a pessoa do Dom João que está sendo envolvida, é a própria Arquidiocese.
Porque o modo de atuação dela é em relação às campanhas. Então, demonstra que
isso aí não é só na figura da pessoa de Dom João, mas também da Arquidiocese de
Natal”, enfatizou Cláudio.
O assessor alerta também que o
vídeo criado com a imagem do arcebispo se configura como crime de estelionato,
usado para obter vantagem ilícita, presente no artigo 171 do Código Penal. Ele
reforça a realização de medidas legais e investigação do caso, mas lamenta a
dificuldade de encontrar os autores da fraude.
“As medidas legais, desde
investigação prévia a um boletim de ocorrência, já foram tomadas. Já entregamos
também a imagem do vídeo às autoridades policiais para que eles realmente façam
a depuração das sanções cabíveis”, comentou.
Entre as medidas de
enfrentamento contra informações falsas, Cláudio informa que a nota emitida
pela arquidiocese foi repassada para todos os padres e paróquias, na esperança
de que a verdade chegue principalmente para pessoas idosas, que podem ser mais vulneráveis
a golpes online.
“Essa nota foi repassada para
todos os padres para ser replicada em todas as paróquias. Existe em cada
paróquia uma pastoral chamada Pastoral da Comunicação. Eles sempre estão ao
lado dessas pessoas, ao lado da comunidade, orientando quais são os canais oficiais
de comunicação da Igreja”, completou.
O ouvidor reforça ainda que
todas as pessoas que se depararem com alguma ação solidária da Arquidiocese de
Natal recorram aos canais oficiais para verificar a veracidade da informação.
Mayra Ferreira
Repórter
Tribuna do Norte
Nenhum comentário:
Postar um comentário