quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Saúde mental infantil: atendimento enfrenta dificuldades em Natal

Maior parte das crianças chega sem acompanhamento | Foto: Arquivo TN

Dados do Conselho Tutelar mostram que a fila de espera por atendimento neuropediátrico em Natal supera 4,5 mil crianças. Segundo o Conselho Tutelar, uma parcela dessas crianças está em situação de vulnerabilidade e chega ao órgão sem diagnóstico, sem acompanhamento psicológico e, muitas vezes, em crise.

A maior parte das crianças e adolescentes com transtornos psicológicos chega às unidades de atendimento sem nenhum acompanhamento. Ao serem encaminhadas para tratamento, a fila de espera pode durar meses. “Quando demora, pedimos à mãe que traga essa regulação ao Conselho Tutelar, e nós requisitamos ao órgão de saúde para que ele dê o mais breve possível uma contrarreferência, porque a criança não pode esperar”, destaca William Cabral, conselheiro tutelar da Zona Leste de Natal.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é direito de toda criança e adolescente receber proteção integral, incluindo os cuidados necessários ao seu desenvolvimento físico e mental. Na ponta desse sistema está o Conselho Tutelar, responsável por orientar famílias, requisitar serviços essenciais e adotar medidas protetivas quando os direitos são ameaçados.

A partir do recebimento, o Conselho notifica ou atende a família e avalia a necessidade de aconselhamento, requisição de serviços ou encaminhamento a órgãos de segurança e saúde.

Grande parte dos casos chega por meio de relatórios escolares e unidades de saúde. Há situações em que a família interrompe a medicação no horário escolar, o que agrava crises de comportamento. “Às vezes, a mãe deixa de dar a medicação da criança no horário em que a criança está na escola, para dar quando a criança está em casa, porque assim ela fica tranquila em casa”, relata o conselheiro.

No Conselho Tutelar, cada caso passa por uma triagem inicial da equipe de referência que avalia sinais de autismo, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno opositor desafiador (TOD) e outros indicadores clínicos.

Segundo William Cabral, a ausência de tratamento rápido pode resultar em quadros graves de automutilação, tentativas de suicídio, crises agressivas, além de rupturas familiares e escolares.

Ele explica que a população deve ficar atenta às crianças e adolescentes com irritabilidade intensa, explosões emocionais e desregulação severa: “Enquanto nós não tivermos essa vontade de fazer alguma coisa por causa das crianças, a sociedade como um todo vai pagar o preço.”

A Secretaria Municipal de Saúde informou que deu início a um novo serviço de Avaliação Global para crianças com suspeita de autismo e, com isso, espera diminuir a fila. A proposta é que a equipe multidisciplinar seja formada por psicólogos, fonoaudiólogos, aplicadores de ABA, psicopedagogos, nutricionistas e neuropsicólogos, além do suporte de um neuropediatra.

Atraso no cuidado agrava quadros mentais

A ausência de tratamento adequado e rápido pode gerar impactos profundos e duradouros no desenvolvimento infantil. “São muitos impactos, inclusive o desenvolvimento precoce de transtornos mentais”, explica a psicóloga do Conselho Tutelar, Sayonara Freitas.

O acompanhamento desde cedo ajuda a prevenir agravamentos, melhora a adaptação escolar e reduz danos na socialização.

Quando o suporte não existe, a tendência é de retraimento, dificuldades de convivência e maior vulnerabilidade a influências externas. “Quando os pais oferecem as mídias, essas mídias captam eles, principalmente a questão dos jogos eletrônicos e das redes sociais. E aí, é uma situação bem complexa.”

Os primeiros sinais de que uma criança ou adolescente pode estar enfrentando um transtorno mental costumam surgir antes mesmo de qualquer diagnóstico formal.

Segundo Sayonara Freitas, mudanças bruscas de comportamento, alterações de sono e apetite, agressividade ou retraimento excessivo são algumas das expressões mais comuns desses transtornos. “Às vezes, até a timidez não é timidez, pode ser depressão infantil”, explica.

Na primeira infância, esses sinais muitas vezes aparecem no brincar, já que crianças pequenas não conseguem verbalizar emoções com clareza. “Nem todo adulto consegue entender”, ressalta a psicóloga. Nesse contexto, a procura por profissionais se torna ainda mais necessária.

Em Natal, crianças e adolescentes até 14 anos, 11 meses e 29 dias são atendidos pelo Hospital Maria Luiza Fernandes e pelo Hospital Araken. A partir dos 15 anos, o atendimento ocorre no Hospital Geral Dr. João Machado.

“Quando uma criança ou adolescente tem uma situação de crise psíquica, ou então uma crise de ansiedade muito forte, deve-se procurar atendimento em todas essas situações”, reforça a psicóloga.

Tribuna do Norte

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