domingo, 21 de dezembro de 2025

MEC aponta fragilidades na oferta de vagas em creches no RN

Somente 2,99% dos municípios potiguares declararam saber exatamente quantas crianças aguardam vaga em creche por faixa etária | Foto: Arquivo TN

O Rio Grande do Norte aparece entre os estados com maiores fragilidades na gestão da demanda por creche no Brasil. Dados do Retrato da Educação Infantil no Brasil 2025, levantamento do Ministério da Educação (MEC) em parceria com o Gabinete de Articulação para a Efetividade da Política da Educação (Gaepe), mostram que somente 2,99% dos municípios potiguares declararam saber exatamente quantas crianças aguardam vaga em creche por faixa etária. O índice contrasta com o cenário nacional, no qual 26,18% dos municípios afirmam ter esse controle detalhado, e revela dificuldades estruturais para planejamento, aplicação de recursos e promoção da equidade no acesso à Educação Infantil no estado.

No levantamento, que coletou informações de 100% dos municípios brasileiros e do Distrito Federal, o RN teve 105 municípios classificados com baixa maturidade na gestão da demanda por Educação Infantil, 61 com média maturidade e apenas um com alta maturidade, Tibau do Sul. A capital Natal foi enquadrada na faixa intermediária. Para o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RN) e representante do Gaepe no RN, Gilberto Jales, o diagnóstico cumpre um papel estratégico ao oferecer um retrato atualizado da política pública voltada a bebês e crianças de 0 a 6 anos, especialmente no que diz respeito à disponibilidade de vagas em creches e pré-escolas.

“Assegurar acesso à educação infantil de qualidade não apenas atende a uma necessidade imediata das famílias, como promove a equidade e contribui para o sucesso educacional futuro das crianças, com impactos positivos para toda a sociedade. O diagnóstico fornecerá subsídios ao planejamento e à efetiva expansão de vagas necessárias ao atendimento dos dispositivos em vigência para a educação infantil em todo o Estado, e auxiliará a elaboração de um plano de ação efetivo”, explica Gilberto Jales.

Essa baixa capacidade de identificar a demanda por idade se reflete em outros indicadores. Segundo os dados do painel, 71,86% dos municípios potiguares marcaram a opção “não se aplica” quando questionados se possuem informações sobre o quantitativo de crianças em lista de espera, enquanto 20,36% admitiram não saber quantas crianças aguardam vaga e apenas 4,79% informaram conhecer somente o total, sem detalhamento etário.

Entre as cidades do RN, Natal aparece como exceção em alguns indicadores. A capital declarou saber o quantitativo de crianças que aguardam vaga em creche por idade e figura entre os poucos entes que adotam critérios padronizados e previstos em legislação municipal para priorização do atendimento.

O secretário municipal de Educação, Aldo Fernandes, avalia que a classificação de média maturidade reflete um processo em construção. “A SME reconhece que a educação infantil em Natal já apresenta avanços reais, porém ainda não plenamente consolidados. A classificação reflete um processo de construção exitoso e o relatório é um indicador de conquistas que pode contribuir significativamente para o planejamento e aprimoramento das novas ações para superação de desafios”, afirmou.

Segundo ele, a capital apresenta avanços relacionados à organização pedagógica e administrativa da rede, com diretrizes alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), institucionalização de projetos político-pedagógicos e regimentos escolares, além de ações de formação continuada e acompanhamento das unidades. “Vale destacar a ampliação de vagas na creche, extinguindo o sorteio como forma de ingresso”, disse o titular da SME Natal.

A realidade potiguar também se evidencia quando se observa a idade de início da oferta de creche. Enquanto, no Brasil, 671 municípios afirmam atender crianças de 0 a 3 meses e 1.459 iniciam o atendimento entre 3 e 6 meses, no Rio Grande do Norte a maior concentração está em faixas mais tardias: 53 municípios só ofertam vagas entre 24 e 30 meses de idade e outros 39 a partir de 18 meses. Natal, segundo o levantamento, inicia o atendimento entre 6 e 9 meses. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, em 2025 foram ofertadas 36 vagas para crianças de 6 a 11 meses em duas unidades da rede, diante de uma demanda de 61 inscritos.

Para o conselheiro do TCE-RN, a limitação no atendimento aos bebês mais novos está diretamente associada à ausência de dados consolidados. “Dados fidedignos e atualizados revelam uma fotografia real da oferta de creche e pré-escola nos municípios do Brasil, bem como proporciona mecanismos de gestão da demanda, do planejamento das redes e das formas de colaboração entre diferentes instituições”, afirmou Gilberto Jales, ao destacar que a falta de informações compromete a expansão de vagas e o uso racional dos recursos públicos.

No conjunto dos indicadores, o RN aparece com percentuais ligeiramente superiores à média nacional em ações de conscientização sobre o direito à Educação Infantil para crianças de 0 a 3 anos. Segundo o painel do levantamento, 83,83% dos municípios potiguares declararam realizar campanhas ou iniciativas para informar a população, contra 77,76% no Brasil. Natal informou que desenvolve essas ações e também declarou identificar famílias com crianças fora da creche e fora da lista de espera, prática adotada por 66,47% dos municípios do RN.

Critérios de acesso e desafios

Outro ponto de alerta revelado pelo levantamento diz respeito aos critérios de priorização de vagas em creche. No Rio Grande do Norte, 60 municípios afirmaram que o atendimento é feito exclusivamente pela ordem de cadastramento, enquanto apenas uma parcela menor declarou adotar critérios padronizados e previstos em legislação. A capital aparece entre esse grupo, com critérios incluem pessoas com deficiência, irmãos na mesma unidade, residência próxima à escola, inscrição em programas sociais e data e hora da inscrição.

Para Gilberto Jales, a baixa conexão entre políticas de proteção social e a priorização de vagas ainda é um entrave estrutural. “Embora 78% dos municípios do Brasil monitorem famílias beneficiárias de programas de transferência de renda, apenas 26,1% utilizam essa condição como critério formal de prioridade em filas de espera”, afirmou. Diante do cenário, o Gaepe RN publicou a Nota Técnica com orientações para aprimorar a gestão, a expansão e a transparência das políticas de creche no estado, com foco na priorização de crianças em situação de vulnerabilidade e na promoção da equidade no acesso.

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Gilberto Jales considera que é preciso aprimorar a gestão | Foto: Arquivo TN

O diagnóstico nacional também aponta limitações no planejamento de expansão. Apenas parte dos municípios brasileiros possui plano formal para ampliar vagas na Educação Infantil. Em Natal, a Secretaria Municipal de Educação informou que há planejamento para ampliar a oferta de vagas na Educação Infantil em Natal. “A prefeitura pactuou com o Governo Federal, a construção de 12 Centros Municipais de Educação Infantil, distribuídos nas quatro Regiões Administrativas da cidade”, disse o secretário Aldo Fernandes. A pasta, no entanto, não detalhou quais são os prazos de execução desses espaços.

No âmbito institucional, a União dos Dirigentes Municipais de Educação do Rio Grande do Norte informou que ainda está em fase de avaliação técnica do levantamento. Em nota, a Undime/RN destacou que “está analisando os dados apresentados pelo relatório Retrato da Educação Infantil no Brasil 2025, elaborado pelo Ministério da Educação em parceria com o Gaepe”, e que aguarda uma reunião com o MEC para discutir o tema de forma mais aprofundada. Segundo a entidade, o objetivo é “compreender com precisão os parâmetros dos indicadores utilizados e a metodologia de classificação dos municípios em cada categoria estabelecida”.

Procurada, a Secretaria de Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC) também se manifestou por meio de nota e ressaltou o papel do Estado no regime de colaboração com os municípios. “O Governo do Estado do Rio Grande do Norte atua como articulador e apoiador das políticas educacionais desenvolvidas pelos municípios, especialmente na Educação Infantil, que é de responsabilidade prioritária municipal”, afirmou a pasta, ao destacar que essa atuação ocorre por meio de apoio técnico, formações continuadas e fortalecimento dos sistemas de informação educacional.

Segundo a SEEC, a estratégia estadual busca qualificar o planejamento e promover maior equidade educacional nos territórios, com iniciativas que reforçam a cooperação entre Estado e municípios. A secretaria citou como exemplo o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, implementado no RN por meio da Política Territorial de Alfabetização de Crianças (Pró-Alfa RN), voltada ao apoio às redes públicas.

Tribuna do Norte

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