Foto: Adriano Abreu
Em processo de retomada, o setor de mineração do Rio Grande do Norte tem atraído investidores pelo potencial de terras raras e deve se posicionar como um espaço seguro para investimentos com o novo hub de inovação do segmento no Estado. É o que aponta o presidente do Sindicato da Indústria da Extração de Metais Básicos e de Minerais Não Metálicos do Rio Grande do Norte (SINDIMINERAIS-RN), Mário Tavares.
Geólogo
e doutor em Recursos Naturais, além de diretor da Federação das Indústrias do
Rio Grande do Norte (Fiern), o presidente apontou em entrevista à TRIBUNA DO
NORTE os principais gargalos, as perspectivas de melhora e os impactos do
contexto macroeconômico na mineração potiguar.
Qual
o panorama do setor de mineração aqui no Rio Grande do Norte, sobretudo, em
termos de potencial de crescimento?
Está
muito bem e em retomada. Há vários investidores de fora aqui, incluindo
sauditas e chineses. Com as terras raras, também estamos atraindo americanos.
Nós temos indicações de terras raras, e já foram objeto de muita procura os
minerais críticos e estratégicos, como o lítio, tungstênio e tântalo.
Como
não temos estudo, não posso afirmar quanto temos de cada um desses recursos. No
entanto, estou trabalhando em um relatório final de pesquisa sobre tântalo e
nióbio em uma área que estamos estudando.
Em relação a esse potencial de terras raras e minerais estratégicos,
embora ainda não tenhamos dados precisos, como o estado vem tentando se
posicionar diante dessas necessidades?
Estamos
tentando atrair investidores. Isso porque temos encontrado esses minerais, mas
é preciso estudá-los. O pessoal da academia, inclusive, gosta de diferenciar a
pesquisa mineral e prospecção mineral. Na prospecção, o objetivo é saber se
existe um determinado bem mineral no estado. Já na pesquisa, uma vez
identificado o que tem, a finalidade é saber o quanto tem.
Isso
porque, às vezes, temos situações em que temos um bem mineral, mas a quantidade
dele é pequena e não compensa investir em uma mina. Estudei áreas de ouro aqui
no estado, por exemplo, com um ouro muito bonito, mas em baixa quantidade.
Pegando
esse gancho, nós temos a chegada do S.Mine Hub com a proposta de integrar
pesquisadores para realizar estudos sobre os potenciais do Rio Grande do Norte
na mineração. Como essa iniciativa deve se projetar no segmento do estado?
A expectativa é muito grande, pois esse Hub tem contatos com o pessoal de
altíssimo nível das universidades do estado e pretende ajudar as empresas de
mineração a produzir da melhor maneira e utilizando as tecnologias a que nós
temos acesso.
Atualmente, a maior parte da produção do minério potiguar é para o
mercado interno. A chegada do S.Mine Hub deve favorecer a abertura de novos
mercados para o minério do estado?
Acredito
que sim. Tem pessoas com experiência no mercado externo e eu também tenho
alguma experiência. Vamos colocar isso à disposição do Hub e das empresas do
setor mineral do Rio Grande do Norte.
Sobre
o contexto macro do setor de mineração, em outubro a Agência Nacional de
Mineração (ANM) alertou sobre a insuficiência orçamentária e o risco de
paralisação de atividades, devido à falta de recursos orçamentários. Nesta
quarta, a ANM também adiou a aprovação do edital da 9ª Rodada de
Disponibilidade de Áreas por conta dos custos para preparar as etapas do
leilão.
Esse problema tem afetado o RN? De que modo?
Para
você ter uma ideia, há muitas áreas que estão disponíveis para esse leilão e
poderiam estar começando seus trabalhos, gerando emprego e renda a partir da
exploração mineral, mas estão paradas. Não há como requerer uma área que está
para leilão, porque você perde seu dinheiro.
A
nível de Brasil, há 100 mil áreas para leilão e a ANM consegue mandar cinco mil
no máximo, por cada leilão. Então tem que fazer muito leilão para ter um
equilíbrio disso. Agora, no nono, parou por falta de recursos.
Ainda sobre a Agência, também houve uma mudança no Regimento Interno da
ANM que foi vista por alguns agentes do setor como um retrocesso, que foi a
Resolução nº 211/2025, que entrou em vigor em agosto e teve como uma das
principais alterações a centralização das superintendências regionais. Como o
setor está lidando com essa questão? Essas alterações também foram prejudiciais
para o segmento?
Bom,
vamos considerar que temos aqui um diretor-geral da Agência Nacional de
Mineração. Quando tenho uma dúvida ou demanda, por exemplo, ligo pra ele ou vou
na ANM e, dentro das possibilidades, ele resolve. Mas agora não é possível
fazer isso, pois está tudo centralizado por região, com um pessoal que não tem
o mesmo olhar local.
O SINDIMINERAIS/RN está realizando algum tipo de movimento para tentar
mudar essa resolução?
Nós
fizemos uma nota pública articulada com outros sindicatos que também dependem
da ANM e enviamos para uma comissão explicando qual seria a perda das
mineradoras, mas não deram um retorno. Como um estado menor, para conseguirmos
um pleito fica muito mais difícil com a centralização [estabelecida pela
resolução].
Além desse desafio, quais são os principais gargalos do setor mineral
no Rio Grande do Norte?
O
principal está no investimento. O brasileiro, via de regra, quer investir hoje
pela manhã para à tarde já ter um retorno. Só que a mineração não é assim, pois
é um setor em que o grau de certeza que você vai ter esse recurso de volta é
baixíssimo.
Nós
não temos empresários aqui dispostos a fazer esses investimentos. Não há uma
segurança, por exemplo, de que você terá de volta o dinheiro investido para a
pesquisa.
E
a chegada do Hub pode mudar esse cenário para atrair as empresas?
Na
minha perspectiva, acredito que sim. Isso porque é mais fácil entregar um
projeto para uma pessoa capacitada em quem você confia. Quando ela iniciar essa
pesquisa, por já ser capacitada, ela já vai dizer a você, por exemplo “não
investe muito aqui, pois o negócio não é bom”. Quando você investe e trabalha
com pessoas pouco capacitadas, por outro lado, elas não têm condições de
assumir essa posição.
Então
o Hub está pegando a “nata” de cada setor das pessoas que trabalham aqui no
estado do Rio Grande do Norte. Isso é o que diferencia o Hub das outras coisas.
Quais os números atuais do setor da mineração potiguar em termos de
empregos gerados e investimentos?
O
setor da mineração no Rio Grande do Norte vem apresentando desempenho positivo,
tanto em geração de empregos quanto em expansão da base produtiva.
De
acordo com os dados do Novo CAGED, no período de janeiro a outubro de 2025, o
setor mineral potiguar contabilizou 11 mil empregos formais, o que representa
um crescimento de 3,30% em relação ao mesmo período do ano passado, quando
havia 10,6 mil trabalhadores ocupados. No acumulado do ano, o saldo de empregos
foi positivo em 197 postos, indicando que o número de admissões superou o de
desligamentos no período.
Complementarmente,
os dados da RAIS 2024 apontam que o Rio Grande do Norte conta atualmente com
253 estabelecimentos de mineração, concentrados principalmente nas regiões
Oeste e do Seridó Potiguar.
Dessa
forma, a mineração se destaca como um segmento relevante da economia potiguar,
contribuindo para a geração de empregos formais, a dinamização da cadeia
produtiva e o desenvolvimento regional, especialmente no interior do estado.
E para 2026, qual é a expectativa para o setor mineral aqui no Estado?
Aumentar
essa demanda, que é uma demanda muito boa. Tem vários bens minerais
tradicionais aqui no Estado, como o tungstênio e a Xelita, e a demanda está
alta. O motivo disso é negativo, porque os Estados Unidos resolveram apontar
que os países da OTAN não estão investindo ‘x%’ em defesa e armamento, o que
levou os países a buscarem mais a produção de armamento. O tungstênio, dentro
desse cenário, é a base de vários armamentos, como mísseis, além de avião e
foguete.
QUEM
Mário
Tavares é geólogo e doutor em Recursos Naturais. Além de presidente do
Sindicato das Indústrias da Extração de Metais Básicos e de Minerais Não
Metálicos do Rio Grande do Norte (SINDIMINERAIS-RN), também é diretor da
Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern).

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