Oprojeto que amplia a isenção
do Imposto de Renda (IR) entra em uma semana decisiva no Senado, com tendência
de gerar uma rara convergência entre governistas e oposicionistas na votação.
Se aprovado, o texto seguirá para sanção presidencial e representará uma
vitória política para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), especialmente pelo apelo
popular em ano eleitoral.
A proposta isenta do IR quem recebe até R$ 5 mil mensais, cria uma faixa de desconto para salários entre R$ 5 mil e R$ 7.350 e estabelece uma tributação adicional para rendas anuais acima de R$ 600 mil.
O relator do tema no Senado,
Renan Calheiros (MDB-AL), deve apresentar o seu parecer nesta terça-feira (4),
quando também deverá ser votado e aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos
(CAE) do Senado. O colegiado agendou para as 10 horas o início da reunião.
O presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (União-AP), afirmou que é um desejo pessoal levar o texto a plenário
até quarta-feira, 5. O cronograma foi definido em reunião entre Renan e
Alcolumbre.
Senadores afirmam ainda não
ter tido acesso ao parecer de Renan, que disse trabalhar com cinco cenários
possíveis – do desmembramento de pontos específicos à aprovação integral do
texto já aprovado pela Câmara.
Segundo apurou o
Estadão/Broadcast, Renan tende a manter a essência do texto dos deputados,
aprovado por unanimidade, com possíveis ajustes de redação. Para ele, isso
garantirá que o projeto siga diretamente à sanção, sem necessidade de nova
análise pela Câmara.
Mesmo parlamentares da
oposição defendem uma votação rápida e sem alterações. “Deveríamos ter votado
isso no dia seguinte ao que chegou da Câmara. Para mim, não tem de ter
modificação nenhuma”, afirmou à reportagem o senador e presidente do PP, Ciro
Nogueira (PI), que é do mesmo partido do relator do projeto na Câmara, Arthur
Lira (PP-AL).
Renan, contudo, tem criticado
dispositivos como o que beneficia os cartórios, ao excluir repasses
obrigatórios sobre emolumentos da base de cálculo da tributação mínima do IR –
trecho incluído de última hora pelos deputados e considerado por Renan inconstitucional.
Outro ponto que pode sofrer
alterações é o trecho que permite que dividendos acima de R$ 50 mil apurados
até dezembro deste ano fiquem isentos da tributação, ainda que sejam
distribuídos nos anos seguintes (até 2028).
“Você tem problema na remessa
de lucro, tem exclusões também. Você tem problemas nos dividendos aprovados até
31 dezembro de 2025 que podem ser recebidos até 31 dezembro de 2028. Você tem
muitos problemas”, disse Renan na semana passada.
Sob reserva, senadores de
outros partidos oposicionistas também dizem apoiar o projeto, por não verem
como justificar a seus eleitores um eventual voto contrário. Demonstram, no
entanto, preocupação com as compensações fiscais necessárias para cobrir a renúncia
decorrente da isenção. O principal contrapeso previsto é uma alíquota adicional
de até 10% sobre rendas superiores a R$ 600 mil anuais, incluindo dividendos.
Renan tem se mostrado cético
quanto à afirmação do Ministério da Fazenda de que o projeto é neutro do ponto
de vista fiscal e cobrou da pasta novos cálculos. A consultoria do Senado
estima, em um cenário conservador, que a proposta apresentará perdas de R$ 12,3
bilhões em três anos, como mostrou o Estadão.
Outro ponto que pode sofrer
mudanças é a compensação de arrecadação para Estados e municípios.
A Constituição determina que o
Imposto de Renda pago por servidores municipais e estaduais pertence às
prefeituras e aos governos, respectivamente. Na prática, a medida funciona como
uma espécie de desoneração da folha de pagamentos, porque torna mais barata a
folha para esses entes.
Por exemplo: se um servidor
recebe R$ 5 mil brutos, a prefeitura faz o pagamento já descontando o IR
devido, cerca de R$ 479 (exemplo hipotético) – ou seja, na prática, ela gasta
menos. Com a isenção até R$ 5 mil, as prefeituras e os governos estaduais terão
de desembolsar efetivamente esse dinheiro, para compensar a isenção do IR.
A Frente Nacional dos
Prefeitos estima perdas de R$ 4,8 bilhões com essa medida, segundo o
secretário-executivo da entidade, Gilberto Perre. A proposta aprovada na Câmara
prevê uma compensação via Fundos de Participação dos Municípios (FPM) e dos
Estados (FPE), que receberão novos aportes. Ainda assim, a FPE entende que
haverá perdas.
“A neutralidade na arrecadação
dos entes subnacionais não está assegurada com o texto aprovado na Câmara. A
FNP entende que as compensações são insuficientes e pouco claras. Como o
critério do fundo de participação dos municípios é populacional, as perdas
podem ir em uma direção, e as compensações, em outra”, afirmou Perre.
Tribuna do Norte

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