domingo, 19 de outubro de 2025

RN vive fase de amadurecimento técnico e consolidação produtiva

Guilherme Saldanha afirma que é preciso entender a importância do clima e que é possível produzir sim no semiárido| Foto.Magnus Nascimento

O secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca do Rio Grande do Norte (Sape), Guilherme Saldanha, afirma que a pecuária potiguar vive um momento de amadurecimento técnico e consolidação produtiva. Para ele, o semiárido, visto historicamente como um obstáculo, começa a ser reinterpretado como um diferencial estratégico, e o primeiro passo para compreender a nova dinâmica do segmento é reconhecer as particularidades do clima da região, e também, a necessidade de uma produção adaptada à realidade regional.

“Temos tecnologia, conhecimento, e a aplicação disso tudo ocorrendo no Rio Grande do Norte. Não adianta querer copiar algo que no nosso clima não vai permitir ser feito. Isso pode até dar certo pontualmente, mas é um custo muito alto, que precisa de muito valor para ser investido. Precisamos entender a importância do nosso clima, entender que é possível produzir sim”, frisa Guilherme Saldanha.

Segundo o secretário, o principal desafio é ter uma genética aplicada aos rebanhos com raças que consigam produzir bem com as nossas condições climáticas. Ele reforça que não é mais possível pensar em pecuária sem planejamento e sem o uso de tecnologias adequadas.

“É entender de uma vez por todas que não dá para fazer pecuária no semiárido sem reserva estratégica, nisso tem caixão de palma forrageira. Entra a necessidade de armazenar ração, seja na forma de feno ou de silagem. Há necessidade de melhoramento genético dos rebanhos com raças adaptadas às nossas condições climáticas”, detalha.

O secretário reconhece a necessidade de incutir isso com maior força, especialmente, entre os pequenos produtores. “Existe um trabalho muito bacana feito pelo Governo do Estado, seja através da Emater (Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural), da Emparn (Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN). Há também esse mesmo trabalho desenvolvido pelo Sebrae, pelo Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), e também, por algumas instituições privadas fazendo esse mesmo trabalho”, enfatiza o secretário de Agricultura.

Segundo Guilherme Saldanha, essa articulação tem dado resultados concretos: o Rio Grande do Norte pela primeira vez registrou a marca de um milhão de litros de leite por dia. Além disso, o avanço também reflete na retomada de investimentos privados em frigoríficos e cadeias produtivas complementares, que fortalecem a economia local e reduzem a dependência de outros estados. O secretário cita exemplos como o frigorífico de ovinos e caprinos, em Mossoró, o de bovinos, no município de Vera Cruz, e o de suínos, em Jucurutu.

Guilherme Saldanha ressalta que espaços de debate e difusão de conhecimento, como o Motores do Desenvolvimento, são fundamentais para consolidar esse novo ciclo produtivo. “Você aproveitar um espaço, que ocorre dentro de uma exposição (Festa do Boi), de oito dias, onde vai ter muito produtor, estudantes, pequenos produtores e agricultura familiar, é transformá-lo em um espaço de aprendizado, e isso é muito bacana”, conta.

“Começa com esse pontapé, que é o Motores do Desenvolvimento, um trabalho fantástico que o Sistema Tribuna está fazendo, em seu segundo ano; mas tem o espaço do Sebrae, da fazendinha do Governo do Estado, da própria Federação da Agricultura, e precisamos aproveitar isso para que a Festa do Boi não seja só de negócios. Já é muita coisa você fazer uma feira só de negócios, mas também podemos acrescentar a questão da apresentação de uma pessoa que veio de fora, do conhecimento. A oportunidade de ter esse conhecimento daquela atividade que ele está fazendo”, complementa Guilherme Saldanha.

Ele acredita que o semiárido brasileiro será protagonista na nova fase da agropecuária nacional. Para ele, a tendência de deslocamento da produção de grãos e cana-de-açúcar para outras regiões abre espaço para o fortalecimento da pecuária em áreas historicamente vistas como desafiadoras, mas que acumulam experiência e tecnologia para se tornarem altamente produtivas.

“O mundo tem um bilhão de pessoas passando fome e essas pessoas que estão passando fome, em que suas nações estão preocupadas com a alimentação, estão preocupadas com a garantia alimentar dessas pessoas, elas vão procurar um país que tenha uma capacidade de produção de um alimento mais barato. O Brasil está dando um show nisso. A gente exporta alimentos para mais de 186 nações. Houve uma reunião na ONU que juntou todos os países há 15 dias. De 192 nações da ONU, mandamos alimento para 186. Então o mundo está olhando para o Brasil para sacar os alimentos. E a gente ainda tem muita terra para produzir, a gente tem muita capacidade para incremento da produtividade e isso tudo vai fazer com que a agricultura brasileira seja muito forte”, complementa o secretário.

Guilherme Saldanha aponta que o caminho está em incorporar tecnologias de convivência com o semiárido, como o reúso de água, barragens subterrâneas e o aproveitamento de poços com água salobra, além de melhorar a produtividade das pastagens com o apoio de instituições de pesquisa, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Tribuna do Norte

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