A ideia, segundo Rodrigo Moura, é chegar a 150 hectares de açaí até 2027. Atualmente, a empresa já exporta boa parte da produção. “A gente acredita que nessa safra (2025/2026) vamos exportar 50% da produção, ou algo muito próximo disso”, comemora Rodrigo Moura. Segundo ele, a exportação seguia para vários países da Europa, mas no final de 2024 a empresa fechou contrato e começou a exportar para um cliente no Kuwait, que prevê receber 100 toneladas na safra 2025/2026. Este ano, o primeiro contêiner foi enviado em julho e um segundo segue agora em outubro.
Além disso, há
negociações com outros países. “Neste momento, estamos em Madri, na Espanha, em
um dos maiores eventos mundiais de fruticultura, a Fruit Attraction, e sentamos
com oito pessoas para negociar a exportação de açaí, polpa e sorvete, mas nada consolidado,
são rodadas de negócios”, comenta o produtor.
Toda a exportação é feita a partir de um parceiro local. “Praticamente toda a
exportação que a gente fazia para pequenos lugares na Europa vai ser
direcionada para o Kuwait nesta safra. Vai ter ainda Itália, um pouquinho,
porque o nosso parceiro é italiano. Então ele manda para a Itália alguma carga,
e a Holanda também, mas o foco da safra 2026 vai ser a exportação para o
Kuwait”, revela o produtor. A empresa ainda exporta a polpa para seis estados
brasileiros.
A Pioneira já tem uma linha de
sorvete comercializada para o sudeste do país, principalmente, São Paulo, e
para três países: Kuwait, Itália e Amsterdã, neste ano. “A gente viu que há um
potencial muito grande na região para o cultivo do açaí, primeiro porque o
clima é favorável, tem muita luz, solos bons e água no subsolo. A região é
propícia a esse tipo de palmeira e ela desenvolve muito bem. Segundo, porque há
um mercado gigantesco”, diz o sócio-diretor da empresa. Hoje, somente o Brasil
produz açaí, e 94% da produção está concentrada no Pará, e o restante em outras
regiões do país.
A primeira safra de açaí saiu em
2020 e, em 2021, foi aberta a indústria, que já processa em torno de 350
toneladas por safra| Foto: Cedida
Segundo ele, a primeira safra veio em 2020 e, em 2021, a empresa abriu a
indústria de beneficiamento do fruto, que já processa em torno de 350 toneladas
por safra. “A gente já produz em algumas áreas 10 toneladas por hectare e em
outras, 14 toneladas por hectare. Ano a ano você vai mudando, até estabilizar
no sétimo, oitavo ano”, diz Rodrigo Moura, ressaltando que a empresa ainda é
muito pequena, frente ao Norte do país, mas a expectativa é de crescimento a
cada ano. Hoje, a Pioneira emprega nas fazendas, 15 pessoas e, diretamente na
indústria, oito.
A primeira área plantada foi de
uma variedade chamada BRS Pai d’Égua (Euterpe Oleracea), que dá por touceira e
foi desenvolvida pela Embrapa. “Quando começamos a produzir e vimos o potencial
dessa fruta, começamos a investir na indústria com foco em fazer a exportação
da polpa. E começamos a trabalhar a qualidade desse produto”, comenta o
produtor rural.
Hoje, a empresa já colhe e processa o fruto dentro de 24 horas, o que garante
todas as características de sabor e aroma.
Inovação amplia competitividade
dos produtores
A inovação ampliou a
competitividade da Pioneira Agrícola. “Ela nos colocou num custo que se difere
dos demais, no sentido de pensar diferente, pensar grande, em exportar”,
comenta Rodrigo Moura. No campo, algumas tecnologias estão sendo aplicadas,
desde o manejo de adubações orgânicas ao controle defensivo, usando biológicos,
tanto no solo, quanto na própria planta.
“Hoje, a gente não precisa de muitos defensivos, praticamente nada. A gente só
faz os defensivos para controle de alguma erva daninha. Mas para a planta,
propriamente dita, é uso de biológico, até porque a gente viu que não tem
muitas doenças aqui na nossa região que possam danificar ou prejudicar a
produção de açaí”, conta.
Além disso, há um tipo
diferenciado de colheita, com uso de uma ferramenta que não deixa o fruto cair
no chão, propiciando mais higiene. A empresa também criou uma logística para
ter uma velocidade rápida de processamento. “A gente percebe que quando o fruto
demora a ser processado, ele perde a qualidade”, explica Rodrigo Moura. Hoje,
também, toda a irrigação é automatizada, calculando a quantidade de água por
touceira. Cada touceira tem três hastes, que produzem o fruto, semelhante à
bananeira.
Na indústria, a empresa criou um circuito fechado no processo de despolpamento.
“A partir do momento que a fruta vira polpa, não há mais contato dos
funcionários com esse produto”, explica. Além disso, a indústria tem uma
velocidade muito rápida de congelamento. Saindo do processamento, a polpa já é
ensaca e colocada rapidamente dentro de câmaras frias para não perder
qualidade, de cor, sabor e aroma. “Se o açaí fica muito tempo fora do
processamento, ele muda totalmente. Ele fica marrom, ele não fica roxo; ele
fica ácido, não fica com gosto de açaí”, diz o produtor.
ELI Agro abriu portas para
ampliar plantio
Antes de iniciar a cultura do
açaí, Rodrigo Moura e seus sócios fizeram missões no Pará, a fim de entender a
cultura. A sugestão de entrar nessa empreitada foi de um dos consultores do ELI
Agro (Ecossistema Local de Inovação do Agronegócio), do Sebrae/RN. Depois de
iniciado o plantio, o Eli Agro abriu portas, segundo ele, para que outros
produtores conhecessem a cultura.
“A gente conseguiu fechar parcerias com produtores e eles começaram a visitar a
fazenda e já estão plantando o açaí para a gente comprar esse fruto. Eu, como
indústria, compro esse fruto, faço o beneficiamento e envio para fora do país,
do Estado. Então, o ELI Agro trouxe essa possibilidade”, diz Rodrigo Moura. Na
região do Mato Grande pelo menos dez produtores rurais já estão plantando açaí.
“Para o futuro, a expectativa é
de crescer muito como produtores e como indústria. Hoje, minha indústria tem
limites, para uma certa quantidade de áreas plantadas. Então, a gente ainda tem
muita área para abrir, parceiros estão plantando. E a gente não vê nos próximos
15, 20 anos, uma superoferta do fruto, até porque demora muito para ele
produzir”, diz. A cultura demora, em média de cinco a seis anos, para o início
da primeira colheita. Segundo estudos da Embrapa, a demanda é hoje de 12% a 15%
maior do que a oferta de fruto. “É por isso que na entressafra, o preço
dispara, porque há uma escassez do produto, enquanto a procura continua muito
alta. A ideia é fomentar parceiros”, afirma.
A empresa, que tem outros negócios – ainda produz coco e macaxeira – direciona
praticamente todos os investimentos na cadeia do açaí, tanto para o plantio nas
áreas da fazenda e dos parceiros, quanto para o melhoramento na indústria, em
processos de congelamento e despolpamento, e planeja iniciar o plantio de
cacau.
Tribuna do Norte
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