“O Fernando vai permanecer, a
partir de agora, em silêncio. Não vai dizer sim ou não”, disse o advogado de
Cavalcanti, Thiago Machado.
Ex-sócio do advogado Nelson
Willians, um dos investigados no esquema de desconto de mensalidades de
associações de aposentados e pensionistas, o empresário foi um dos alvos
da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal (PF) e da
Contralodoria-Geral da União (CGU), que investiga o esquema de descontos
fraudulentos em aposentadorias e pensões do INSS.
Um habeas corpus concedido
pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux deu a Cavalcanti o
direito de não ser obrigado a responder a perguntas que possam incriminá-lo.
Ao iniciar o seu depoimento,
por volta das 16h30, o empresário negou as acusações de que integrava o esquema
de desvios de mensalidades de aposentados. Ele disse não ser laranja e nem
beneficiário do esquema. Ele disse ainda desconhecer as atividades ilícitas de
Nelson Willians e de Maurício Camisotti.
Willians é dono de um dos mais
caros escritórios de advocacia do país e que se tornou conhecido por ostentar
em suas redes sociais uma vida de luxo.
Ele atuava com Maurício
Camisotti e Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, apontados como os principais operadores do
esquema de corrupção.
“O que tenho conhecimento da
relação entre os dois são esses empréstimos que são pagos até hoje, contratos.
Nunca fui laranja, atuador ou beneficiário de qualquer esquema. Minha atuação
sempre foi de gestor e os pagamentos recebido sempre foram compatíveis com
todas as funções que eu desempenhava e com a minha vida”, afirmou.
Patrimônio
Durante a operação, a Polícia
Federal apreendeu mais de 20 veículos de luxo pertencentes a
Cavalcanti. Entre os veículos estão uma Ferrari, avaliada em cerca de R$ 4,5
milhões, uma réplica de um carro de fórmula 1 e diversas motos.
Os veículos foram apreendidos
em um shopping de Brasília e foram encaminhados para lá, um dia antes
da Operação Sem Desconto, deflagrada no dia 23 de abril do ano passado.
“Contra Fernando Cavalcanti
não pesa qualquer investigação de envolvimento de fraude com o INSS. Não houve
ocultação, nem má-fé. Os veículos mencionados são de propriedade da minha
empresa, adquiridos de forma lícita, alguns ainda em financiamento, como a tão
falada Ferrari, que só termino de pagar, salvo melhor juízo em 2027. Aqui em
Brasília é comum que carros sejam guardados em estabelecimentos comerciais”,
disse.
Além dos automóveis, diversos
relógios de luxo também foram apreendidos na casa do empresário e vinhos de uma
adega, avaliados em mais de R$ 7 milhões.
O relator da CPMI, perguntou
sobre a evolução patrimonial de Cavalcanti, que antes de integrar o escritório
de Nelson Willians, em 2017, trabalhava na Assembleia Legislativa de São Paulo,
como assessor de um parlamentar, ganhando pouco mais de R$ 5 mil.
“Em 2017 eu tava vindo da
Assembleia Legislativa e tinha um patrimônio que não chegava nem em R$ 100 mil.
Em 2025, eu não sei falar excelência. Meu patrimônio está no imposto de renda
declarado, mas é uma informação que eu não quero falar aqui”, respondeu.
“Já vimos movimentações do
senhor com Nelson Willians de milhões de reais e do senhor com o Camisotti
também de milhões de reais. Vou trazer par a CPMI esse exemplo de sucesso que é
o senhor”, rebateu Gaspar.
O presidente do colegiado,
senador Carlos Viana (Podemos-MG) disse que o depoimento mostra que a defesa de
Cavalcanti, está usando o espaço da CPMI para montar a estratégia de defesa
“É impossível que uma pessoa
que sai de São Paulo, debaixo de suspeita de negociação de emendas
parlamentares, ganhando R$ 5 mil por mês, vir para Brasília e amealhar, um
patrimônio só em carros, de R$ 200 milhões; de uma adega de R$ 7 milhões e toda
uma vida de luxo. Está muito bem demonstrado pela quebra de sigilo, pela
movimentação financeira que nós temos, de que ele é apenas uma parte de todo
esse esquema”, afirmou o presidente da CPMI.
“A PF investiga ele como
suposto laranja. Os dados estão mostrando que ele não tem lastro naquilo que
está colocando como patrimônio próprio, mesmo que seja colocando no imposto de
renda dificilmente ele consegue explicar a origem de tanto dinheiro, de tantos
bens valiosos que a PF apreendeu”, continuou.
Máfia
Viana disse que Cavalcanti
integra o que classificou como máfia, com contatos com políticos, servidores
públicos e outras autoridades.
“É uma quadrilha que tomou de
assalto a receita, que corrompeu servidores e que perpassou governos e que
tinha bons relacionamentos com a política, liberdade de acesso aqui ao Senado,
na Câmara dos Deputados e fazia doações a campanhas políticas. É um modus
operandi já muito conhecido e que, a meu ver demonstra, que eles não
esperavam, em momento algum, serem apanhados, eles tinham tanta tranquilidade
que eles permaneceriam ocultos e esse patrimônio serviria para que eles
continuassem tendo uma vida de bilionários”, opinou.
O senador disse ainda que
aguarda a resposta do ministro do STF, André Mendonça, retornar o pedido da
CPMI para ouvir o depoimento de Camisotti. Um habeas corpus do
ministro deu a Camisoti o direito de não ser obrigado a depor no colegiado.
“O Camisotti é fundamental
nessa investigação para entender como todas essas peças se encaixam nesse
esquema de roubo da previdência brasileira. Pedimos uma reconsideração no habeas
corpus que ele concedeu de que o senhor Camisotti poderia comparecer se
ele desejasse. Estamos aguardando uma resposta do ministro que estava viajando
na semana passada. Espero que nesta semana nós possamos [ter a resposta], se
for necessário farei uma nova visita ao STF”, disse.
Uma das associações
investigadas na operação da PF e CGU por descontos indevidos em aposentadorias
e pensões pagas pelo INSS, é a Associação dos Aposentados Mutualistas para
Benefícios Coletivos (AMBEC)
Segundo a investigação, a
associação é supostamente controlada por “laranjas” ligados a Mauricio
Camisotti. Em 2021, as contribuições dos associados foram de R$ 135. Em
2022, o montante saltou para R$ 14,9 milhões em 2022 e indo para R$ 91 milhões,
em 2023.
Agência Brasil
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