Com aumento nas despesas e
queda nas receitas ao longo dos últimos anos, estatal chegou a um prejuízo de
R$ 2,6 bilhões em 2024.
Conteúdo analisado: Publicação que responsabiliza o governo Lula (PT) pela crise nos Correios.
Comprova Explica: Os
Correios comunicaram, no dia 15 de outubro, que iniciaram negociações com
bancos públicos para obter um empréstimo de R$ 20 bilhões, como parte de um
programa de reestruturação financeira da empresa. Para mostrar como a estatal
chegou a essa situação, o Comprova explica o caso.
Indicadores dos Correios em
baixa em 2024
A crise nos Correios pode ser
explicada por diferentes índices que apresentaram desempenho negativo, conforme
a última demonstração contábil de 2024, publicada no Diário Oficial da União em
9 de maio de 2025.
Desempenho financeiro: foi
registrado prejuízo de R$ 2,6 bilhões, quatro vezes maior do que o registrado
em 2023, estimado em R$ 597 milhões. Foi a primeira vez, desde 2016, que os
Correios tiveram prejuízo bilionário em suas operações, sendo que, na época, o
rombo foi de R$ 1,5 bilhão (R$ 2,3 bilhões em valores atualizados).
Total de ativos: atingiu
R$ 16 bilhões, o que representa uma queda de 11,20% em comparação com 2023,
devido principalmente à redução de R$ 3 bilhões nas aplicações financeiras.
Patrimônio líquido: estava
negativo em R$ 360 milhões em 2023 e passou a um valor negativo de R$ 4,4
bilhões em 2024. Ou seja, os passivos (dívidas totais) superaram os ativos
(bens e dinheiro em caixa).
Despesas gerais e
administrativas: passaram de R$ 4 bilhões em 2023 para R$ 4,7 bilhões em
2024.
Receita total: houve uma
redução de 0,89%, passando de R$ 21,67 bilhões em 2023, para R$ 21,47 bilhões
em 2024, sendo que na receita de vendas e serviços foi de 1,74%. De acordo com
a estatal, o resultado negativo foi impactado principalmente pelos serviços
internacionais e de mensagens, que registraram diminuições de R$ 531 milhões e
R$ 157 milhões, respectivamente.
O serviço de encomendas, por
sua vez, teve um desempenho positivo, com um aumento de R$ 157 milhões em
relação a 2023. As despesas totais apresentaram crescimento de 7,91%, passando
de R$ 22,30 bilhões para R$ 24,06 bilhões no período avaliado.
Situação permanece ruim em
2025
No dia 5 de setembro, a
empresa divulgou as demonstrações contábeis do segundo trimestre deste ano, nas
quais registrou queda nas receitas, crescimento das despesas operacionais e
aumento dos passivos judiciais.
As receitas totalizaram R$ 8,9
bilhões no primeiro semestre, o que representa uma redução de 9,5% em relação
ao mesmo período do ano anterior. O segmento de encomendas respondeu por R$ 4,7
bilhões do total das receitas de vendas. Já o segmento internacional somou R$
816 milhões, o que representa uma queda de 61,3% em relação ao primeiro
semestre de 2024.
As despesas do período
chegaram a R$ 13,4 bilhões, com destaque para os pagamentos de precatórios, que
registraram um aumento de 512%. Por outro lado, itens como transporte, serviços
de terceiros, aluguéis e utilidades tiveram redução.
Na avaliação do especialista
em Direito Empresarial Marcelo Godke, ouvido pelo Comprova, ao longo dos
últimos anos, a estrutura da estatal ficou pesada, cara e pouco competitiva.
“Além disso, o mundo mudou. O
envio de cartas e boletos caiu drasticamente, enquanto o comércio eletrônico
exigiu logística ágil, rastreamento em tempo real e automação. Empresas
privadas se modernizaram rapidamente, mas os Correios ficaram presos à burocracia,
greves, passivos trabalhistas e decisões políticas. O resultado foi a perda de
espaço no mercado e o acúmulo de prejuízos”, disse.
Justificativas dos Correios
para a crise
Tanto no balanço financeiro de
2024 quanto no do segundo semestre de 2025, os Correios citam “modificações na
regulação dos produtos importados” como justificativa do resultado negativo das
receitas, alegando que o setor foi “fortemente afetado por mudanças
regulatórias recentes”.
As mudanças na regulação
citadas pela empresa dizem respeito ao programa “Remessa Conforme”, criado pelo
Ministério da Fazenda em 2023, no qual o governo federal passou a cobrar
imposto de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50, até então isentas
para as empresas. A medida ficou conhecida como “taxa das blusinhas”.
Com esse programa, deixou de
ser obrigatório usar os Correios para a distribuição doméstica dessas
encomendas, permitindo que outras transportadoras realizassem o serviço.
Os Correios manifestam ainda
que o setor privado de logística no Brasil vem passando por uma transformação
acelerada, impulsionada pelo crescimento do e-commerce, pela tecnologia e por
modelos de entrega cada vez mais rápidos e agressivos. Desta forma, na
avaliação da estatal, a ausência de investimentos nos últimos anos aumentou a
pressão sobre estruturas operacionais e administrativas mais rígidas e de custo
elevado, reduzindo sua competitividade.
A situação do empréstimo
Até o momento, o contrato de
crédito ainda não foi fechado e está em fase de negociação, segundo o
presidente da companhia, Emmanoel Schmidt Rondon. O modelo proposto é o de um
consórcio de bancos, em que instituições financeiras atuam de forma conjunta para
ofertar o capital necessário, em termos compatíveis com o mercado de crédito
atual.
“Estamos optando por uma
operação que os Correios conseguem suportar, à luz dos resultados que esse
pacote de reestruturação vai começar a produzir, com técnica e
responsabilidade. O setor postal enfrenta desafios no mundo inteiro, mas o
caminho é o mesmo em todos os países que conseguiram reagir: gestão e
eficiência. O plano dá início a uma agenda de reequilíbrio, com medidas
concretas, baseadas em transparência e governança”, afirmou Emmanoel Rondon.
No dia 23 de outubro, o
presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, afirmou à Folha de
S.Paulo que o banco vai criar um fundo imobiliário com imóveis dos Correios
para ajudar a estatal a obter novas receitas e reequilibrar sua situação
financeira. Segundo ele, a medida é complementar à concessão de um empréstimo,
na qual a participação da Caixa ainda está em discussão.
Plano de recuperação dividido
em três grupos de medidas
O empréstimo bilionário
solicitado pela empresa faz parte de um plano de reestruturação mais amplo que
inclui três grupos de medidas:
Corte de despesas operacionais
e administrativas: a empresa afirmou que realizará um novo Programa de
Demissões Voluntárias (PDV), com foco mais amplo, no qual será realizado um
diagnóstico da força de trabalho, com um mapa de setores da companhia ou de territórios
com desempenho insatisfatório. Empregados nessas situações poderão aderir,
reduzindo a pressão na folha de pessoal.
Também está previsto um
programa de venda de imóveis da estatal que estejam ociosos, o que possibilita
a entrada de capital. Com isso, haverá também a redução de gastos com a
manutenção desses espaços. Além disso, a empresa prevê renegociar contratos com
seus maiores fornecedores em busca de condições mais vantajosas.
Recuperação da liquidez: busca
por um aumento imediato na liquidez da empresa, por meio do empréstimo de R$ 20
bilhões, para dar conta da necessidade de caixa de 2025 e 2026, período no qual
a estatal avalia que as demais medidas começarão a gerar resultados.
Diversificação de receitas e
recuperação do caixa: a estatal pretende fazer um esforço de reaproximação com
grandes clientes, ao mesmo tempo em que estuda experiências internacionais de
atividades que possam ser acopladas à rede logística, sobretudo na área de
serviços financeiros.
Segundo a estatal, essas
medidas serão aprofundadas nas fases posteriores do Plano de Reestruturação,
que dependem da empresa retomar sua plena capacidade operacional e sua saúde
financeira para que surtam efeito.
O que a estatal pode fazer
Marcelo Godke ressalta que a
recuperação judicial não é uma opção para os Correios, uma vez que o Supremo
Tribunal Federal (STF) decidiu que empresas estatais não podem se valer dos
benefícios da Lei de Recuperação Judicial e Falências. “Ou seja, ao contrário
de companhias privadas, os Correios não podem recorrer ao Judiciário para
renegociar dívidas, suspender execuções ou reestruturar contratos nessa via”,
explica.
No entendimento dele, a saída
da crise passa por discussões sobre privatização ou capitalização com controle
privado, com o Estado somente regulando serviços essenciais, e também abrange
gestão profissional e metas de desempenho, com fim de indicações políticas e
foco em resultados; e parcerias estratégicas e inovação, usando a capilaridade
dos Correios para atuar em logística de e-commerce, medicamentos, entregas
internacionais, armazenagem e tecnologia.
Fontes consultadas: Demonstrações
contábeis, boletins com os resultados financeiros dos Correios, reportagens
sobre o tema e o especialista em Direito Empresarial Marcelo Godke.
Por que o Comprova explicou
este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes
sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças
climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está
gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode
sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Para se aprofundar mais: O
Comprova já explicou que as razões que levaram ao déficit de R$ 2 bilhões nos Correios vão além da
“taxa das blusinhas” e já desmentiu uma peça de desinformação
envolvendo a estatal, mostrando que a distribuição de material de campanha pela estatal era
regular, ao contrário do que dizia homem em vídeo.
O conteúdo foi verificado pelo
GaúchaZH, Folha de S. Paulo, Jornal O Dia e UOL (Universo Online).
Tribuna do Norte

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