Foto: Alex Régis
Com o tarifaço de 50% imposto
pelos Estados Unidos sobre produtos importados brasileiros, o Brasil corre o
risco de perder espaço no maior mercado consumidor de café do mundo a partir
das próximas safras e ser substituído por outros fornecedores. O alerta é do
diretor executivo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé),
Marcos Matos.
“O grande receio é perder o maior mercado global, onde estão as principais empresas. É um prejuízo enorme perder o acesso ao maior mercado global para seus concorrentes”, afirmou Matos, em entrevista exclusiva ao Broadcast nas Redes.
Diante da sobretaxa que atinge
o café brasileiro, outros países, como México, Honduras e Colômbia, passaram a
exportar maior volume aos Estados Unidos. “Levamos muito tempo para conquistar
o primeiro lugar no mercado americano. Com novas safras vindo e perspectiva de
maior colheita em importantes players, o grande risco é o Brasil ser o maior
fornecedor e depois ir para o fim da fila e perder espaço nos blends deste
grande mercado, quando a produção mundial de café aumentar. O caminho é
resolver isso o mais rápido possível”, observou Matos.
O Brasil, por sua vez,
redirecionou parte do que deixou de vender aos EUA para países europeus, árabes
e asiáticos, minimizando efeitos sobre a balança comercial do setor em
movimento de realocação no mercado mundial. No acumulado de janeiro a setembro,
o Brasil exportou 29,105 milhões de sacas, queda de 20,5% em relação aos nove
meses de 2024, enquanto a receita gerada saltou 30%, para US$ 11 049 bilhões.
Com a aplicação da alíquota ,
os Estados Unidos saíram de principal destino do café brasileiro em julho,
antes da vigência da sobretaxa, para o terceiro destino em setembro, perdendo o
posto de maior importador de cafés do Brasil para a Alemanha. Segundo o Cecafé,
os impactos para os exportadores de café são “incalculáveis”.
“Há um prejuízo enorme com
custo de postergação de contratos e suspensão e cancelamento de contratos, por
isso, não temos outra estratégia se não a isenção total aos cafés brasileiros.
Se não resolvermos isso o mais rápido possível, além dos exportadores, os
impactos chegarão aos produtores”, apontou o CEO do Cecafé.
Dados do conselho apontam para
queda de 52,8% nos embarques do grão ao mercado norte-americano em setembro,
adquirindo 332.831 sacas. No ano passado, a exportação brasileira de café para
os EUA somaram 8,1 milhões de sacas e US$ 2 bilhões, 16% de tudo o País
exportou.
“O aumento de 40% no preço
internacional do café somado à tarifa de 50% sobre o grão brasileiro
inviabiliza os embarques”, apontou. O Brasil responde por 34% de tudo que os
Estados Unidos consome de café. “76% dos americanos consomem café diariamente.
São dois países insubstituíveis no comércio de café”, pontuou o
diretor-executivo do Cecafé.
O setor exportador defende que
o café seja incluído na lista de exceções ao tarifaço. As sinalizações dos
importadores é de que o produto é o item número 1 na lista, segundo Matos, para
potenciais novas exceções. A abertura de diálogo entre os países que começou
com a conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos
EUA, Donald Trump, e a missão diplomática brasileira ao governo americano, pode
contribuir nesse movimento, segundo Matos. “Talvez seja factível a suspensão
geral da tarifa ou a ampliação da lista. O importante é virar a página das
tarifas”, defendeu o CEO do Cecafé.
O impacto inflacionário do
encarecimento do café, que registrou em agosto a maior alta no varejo americano
desde 1997 nove vezes superior à média, bem como os efeitos já sentidos pelos
consumidores e o fim do estoque da indústria local influenciam ainda no
convencimento das autoridades e na pressão da opinião pública para isenção do
café, avalia o Cecafé.
Em paralelo, o setor busca
também a diversificação de mercados. Para Matos, os movimentos de preservação
de mercados consolidados, como Estados Unidos e Europa, e a abertura de novos
destinos são pautas distintas que não devem se sobrepor.
China e Austrália despontam
entre os países em crescimento do consumo do grão brasileiro. Nesse cenário de
escalada tarifária, estoques mundiais baixos e incertezas quanto à nova safra,
os preços do grão tendem a seguir elevados no mercado internacional pelo menos
até o fim do ano.
Estadão Conteúdo
Nenhum comentário:
Postar um comentário