Em termos de proporção,
também houve queda. Em 2016, quando o país tinha 40,6 milhões de crianças e
adolescentes de 5 a 17 anos, 5,2% deles faziam trabalho infantil. Em 2024,
a marca ficou em 4,3% dos 37,9 milhões de brasileiros nessa faixa etária.
Os dados fazem parte de uma
edição especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua,
divulgada nesta sexta-feira (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). A série histórica do levantamento foi iniciada em 2016.
Ao comparar apenas os dois
últimos anos da pesquisa, o número de pessoas no trabalho infantil cresceu 2,1%
(eram 1,616 milhão), e o percentual da população nessa situação subiu 0,1 ponto
percentual.
No entanto, o analista do
IBGE Gustavo Geaquinto Fontes relativiza o aumento. “Foi uma variação de 2,1%.
Não foi uma variação muito acentuada”, diz.
Tendência de queda
Segundo Fontes , o patamar
ainda está “em nível bastante baixo”. Ele lembra que o menor resultado foi
em 2023, ano que apresentou queda de 14,7% ante 2022.
“A gente observa que permanece
certa tendência de queda, apesar dessa oscilação positiva de 0,1 ponto
percentual. Eu acho que está cedo para afirmar se isso é uma reversão de
tendência”, completa.
O analista acrescenta que o
aumento no último ano se concentrou principalmente no grupo de 16 a 17 anos e
entre homens. “Para as crianças mais novas, permaneceu próximo
à estabilidade”.
Ao longo de oito anos, o
percentual de trabalho infantil apresentou tendência de queda até 2019. Nos
anos 2020 e 2021, por causa da pandemia de covid-19, a pesquisa não foi
realizada. Em 2022, o percentual mostrou crescimento.
Percentual de pessoas no
trabalho infantil
2016: 5,2%
2017: 4,9%
2018: 4,9%
2019: 4,5%
2022: 4,9%
2023: 4,2%
2024: 4,3%
O que é trabalho infantil
Para classificar o trabalho
infantil, o IBGE segue orientações da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), que o conceitua como “aquele que é perigoso e
prejudicial à saúde e o desenvolvimento mental, físico, social ou
moral das crianças e que interfere na sua escolarização”. Acrescentam-se à
classificação atividades informais e com jornadas excessivas.
Dessa forma, nem todas as
atividades laborais de crianças e adolescentes são consideradas trabalho
infantil. A legislação brasileira impõe delimitações:
- até os 13 anos, é proibida
qualquer forma de trabalho.
- de 14 a 15 anos, trabalho é
permitido apenas na forma de aprendiz.
- aos 16 e 17 anos, há
restrições ao trabalho sem carteira assinada, noturno, insalubre e perigoso
Remuneração
A Pnad identificou que as
crianças e os adolescentes envolvidos no trabalho infantil tinham remuneração
média mensal de R$ 845.
Os pesquisadores verificaram
que a maior parte (41,1%) tinha jornada de até 14 horas semanais. Para 24,2%, a
carga ficava de 15 a 24 horas, 18% trabalhavam de 25 a 39 horas e 11,6%
gastavam 40 horas ou mais nas atividades.
Quanto maior a carga horária,
maior a remuneração. Entre os que trabalhavam 40 horas ou mais, a remuneração
média era de R$ 1.259.
Ramos de atividades
Ao separar por atividades que
mais absorvem a mão de obra infantil, o IBGE constatou:
- comércio, reparação de
veículos automotores e motocicletas: 30,2%
- agricultura, pecuária,
produção florestal, pesca e aquicultura: 19,2%
- alojamento e alimentação:
11,6%
- indústria geral: 9,3%
-serviços domésticos: 7,1%
- outras atividades: 22,7%
Concentrado na adolescência
O IBGE classifica os
resultados em três faixas etárias. Assim, a pesquisa revela que mais da metade
(55,5%) do trabalho infantil estão concentrados na faixa de 16 a 17 anos.
As faixas de 5 a 13 anos e de 14 e 15 anos representam cerca de 22% cada.
Analisando o universo de
adolescentes de 16 e 17 anos, o percentual deles em situação de trabalho
infantil passou de 14,7% para 15,3% no período de 2023 para 2024. Em 2022, eram
16,4%.
Pretos e pardos
Assim como em outros
indicadores socioeconômicos, a população preta ou parda enfrenta condições mais
desfavoráveis em relação à branca.
Enquanto 59,7% da população de
5 a 17 anos é preta ou parda, na hora de analisar o universo do trabalho
infantil, eles representam 66,6%, ou seja, dois terços.
Já os brancos, 39,4% dessa
população jovem, são 32,8% das crianças e adolescentes que vivenciam o trabalho
infantil.
Os dados evidenciam que o
trabalho infantil engloba mais os homens que as mulheres. Eles são 51,2% da
população de 5 a 17 anos, mas 66% das pessoas em situação de trabalho infantil.
Regiões
A pesquisa revela
desigualdades regionais. O Sudeste é a única região com percentual de trabalho
infantil abaixo da média nacional (4,3%).
Norte: 6,2%
Nordeste: 5%
Sudeste: 3,3%
Sul: 4,4%
Centro-Oeste: 4,9%
Tarefas domésticas
Os pesquisadores aproveitaram
a visita aos lares da amostra da Pnad para buscar informações sobre atividades
domésticas, que incluem tarefas como lavar louça, fazer comida, cuidar da
limpeza, fazer compras e cuidar de outras pessoas.
Da população de 37,9
milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos no Brasil, pouco mais da
metade (54,1%) realizam algum afazer doméstico (20,5 milhões de pessoas) em
2024.
Nove em cada dez (89,8%) deles
gastavam até 14 horas por semana nessas atividades.
Diferentemente do trabalho
infantil ─ no qual os homens são maioria ─ nas atividades de casa, as mulheres
predominam: 58,2% delas contra 50,2% dos homens.
Agência Brasil

Nenhum comentário:
Postar um comentário