O Rio Grande do Norte busca
captar investimentos para a instalação de cabos submarinos de fibra óptica e
data centers, numa corrida estratégica impulsionada pelo crescimento do mundo
digital, inteligência artificial (IA), 5G, Internet das Coisas (IoT) e serviços
em nuvem. Atualmente, o RN não dispõe de nenhuma infraestrutura desse tipo
instalada em seu território, e vê o vizinho Ceará disparar como o principal
destino no Nordeste para a implantação desses empreendimentos, com 12 data
centers já implantados na capital cearense.
Para tentar mudar essa
realidade, nesta quinta-feira (18) o vice-governador Walter Alves se reuniu em
Brasília com o ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho, e
apresentou os projetos em desenvolvimento para captar estruturas de cabos submarinos
– fundamentais para transmissão de dados dos data centers – na costa potiguar.
O objetivo é preparar o estado para receber os data centers, que são espaços
físicos que concentram grande quantidade de servidores e equipamentos de
tecnologia responsáveis por armazenar, processar e distribuir dados.
No encontro, o vice-governador
ressaltou que o RN definiu 11 áreas prioritárias ao longo da costa, planejadas
para instalação de cabos submarinos, respeitando o meio ambiente e evitando
conflitos com outras atividades econômicas. O governo estadual também estrutura
políticas industriais voltadas à atração de data centers, a fim de aproveitar o
excedente de energia limpa proveniente de fontes renováveis e criar um ambiente
competitivo para investidores.
“O Rio Grande do Norte já fez
o dever de casa e está preparado para receber esse tipo de investimento. Temos
energia limpa e abundante, áreas estratégicas e uma política estadual em
desenvolvimento para atrair data centers”, afirmou Walter Alves.
Para o setor privado, a
conectividade é essencial. Gigantes da tecnologia como Google, Netflix e Meta
avaliam a instalação de data centers com base na transmissão rápida e de baixa
latência, decisiva para operações globais. Sérgio Azevedo, presidente da Comissão
Temática de Energias Renováveis (COERE) da Federação das Indústrias (FIERN),
destaca o potencial do estado: “O Rio Grande do Norte produz quase 10 gigas de
eólica e consome apenas um; os nove têm que ser exportados. A forma mais rápida
de consumir energia hoje está nos data centers para inteligência artificial.
Para isso, precisamos do cabo submarino, porque as empresas exigem
redundância”, relata.
Apesar do esforço local, o RN
ainda está longe de estados vizinhos no que se refere aos data centers. O
Brasil concentra grande parte de sua infraestrutura em Fortaleza, Rio de
Janeiro, Salvador, Santos e Praia Grande. Fortaleza se destaca como hub internacional,
com 12 data centers, incluindo Angola Cables, Ascenty, Lumen e Ultranet, além
de novos projetos no Complexo do Pecém. Pernambuco aparece em seguida, com três
unidades em Recife, enquanto Paraíba, Piauí e Sergipe possuem instalações
isoladas. “Se não tivermos o cabo submarino, é como se fôssemos um time de
segunda divisão, tendo jogadores de primeira. Temos energia de qualidade, mas
sem conectividade não podemos explorar esse potencial”, alerta Azevedo.
Outros estados do
Norte-Nordeste também avançam. Desde dezembro de 2024, o Maranhão negocia com o
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para conexão à rede de cabos via
Unidade de Ramificação (Branch Unit – BU). Já o Pará se prepara para receber dois
novos cabos submarinos, interligando a Amazônia Legal ao sistema internacional
que conecta Europa e Brasil. Os projetos, financiados pelo BID, ainda aguardam
autorizações legais, com previsão de assinatura de contratos para 2026. Ambos
envolvem ramais ópticos conectando a costa atlântica ao cabo EllaLink.
Plano Nacional
No plano federal, o Ministério
das Comunicações anunciou no semestre passado a Política Nacional de Cabos
Submarinos, que oferece incentivos para novas rotas em regiões fora do mapa
atual, como Norte e Sul. A iniciativa busca ampliar capacidade, velocidade e
segurança da internet, reduzir desigualdades regionais e fortalecer o Brasil
como protagonista em telecomunicações, fomentando também investimentos em data
centers e na indústria nacional de componentes digitais.
Paralelamente, a Meta anunciou
o “Projeto Waterworth”, iniciativa considerada pela empresa como seu projeto de
cabo submarino mais ambicioso, com 50 mil km de cabos conectando cinco
continentes. A gigante da tecnologia pretende ampliar a capacidade global de
dados e fornecer conectividade de alta velocidade, necessária para a expansão
de serviços baseados em IA, demonstrando a crescente demanda por infraestrutura
robusta.
Tribuna do Norte

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