Segundo o ministro das
Relações Exteriores, Mauro Vieira, ambos tiveram a oportunidade de se conhecer
pessoalmente e combinar um possível diálogo.
“O presidente Lula sempre
esteve disposto a conversar com qualquer chefe de Estado que tem interesse em
discutir questões com o Brasil. Mas nesse caso isso terá de ocorrer por
videoconferência ou por telefone, porque o presidente volta para o Brasil amanhã
e tem uma agenda muita cheia”, disse ele à CNN Internacional. “Mas Lula está
aberto a conversar e estou muito feliz que isso aconteceu.”
Vieira disse ainda que tem
conversado com representantes do governo americano que o Brasil está disposto a
negociar a questão das tarifas, mas sem retroceder na questão política que
envolve o julgamento de Bolsonaro, que foi condenado na semana passada a 27
anos e 3 meses de prisão por golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do
Estado democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e
deterioração de patrimônio tombado.
Aceno a Lula
Como ocorre todos os anos, os
presidentes do Brasil e dos Estados Unidos são os primeiros a discursar na
abertura da Assembleia-Geral. Pela primeira vez, no entanto, Trump e Lula
estiveram frente a frente.
O encontro, no entanto, foi
rápido. Segundo o relato de Trump, ambos se cruzaram na antessala da
assembleia, trocaram um cumprimento e combinaram de se encontrar.
“Ele me parece um homem muito
bom. Ele gostou de mim, eu gostei dele. E eu só faço negócios com quem eu
gosto”, disse Trump, que ressaltou ter tido uma ótima química com o petista.
Apesar do afago, no entanto,
Trump também criticou o Brasil. Segundo o presidente americano, o País está
“enfrentando grandes respostas a seus esforços sem precedentes de interferir
nos direitos e liberdades de cidadãos americanos”. Para Trump, esse propósito
contou com a ajuda de administrações anteriores dos Estados Unidos, em especial
a de Joe Biden.
Minutos antes, Lula fez um
discurso duro no qual criticou a pressão da Casa Branca durante o julgamento de
Bolsonaro, ainda que sem citar Trump.
“Não há justificativa para as
medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia”,
disse Lula em seu discurso. “Essa ingerência em assuntos internos conta com
auxílio da extrema direita e de antigas hegemonias”, criticou o petista.
O presidente também mencionou
a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) e disse que houve um processo “minucioso”, com amplo direito de defesa
que não existe nas ditaduras.
Na véspera da fala de Lula na
ONU, o governo Trump anunciou uma nova leva de sanções a autoridades do poder
Executivo e do Judiciário brasileiro.
Lula calibrou seu discurso
para contestar as “agressões” americanas, mas considerava cumprimentar Trump,
se o encontrasse.
Cautela
Sob reserva, diplomatas
brasileiros relataram que um encontro bilateral entre ambos pode ocorrer —
sempre foi considerado uma possibilidade —, mas que é preciso cautela para que
o brasileiro não caia na mesma armadilha em que o presidente da Ucrânia, Volodymyr
Zelensky, caiu em fevereiro deste ano.
Na ocasião, o ucraniano foi
repreendido ao vivo por Trump, teve um almoço planejado cancelado e foi
abruptamente convidado a deixar a Casa Branca.
O receio na diplomacia
brasileira permanece, mesmo após o gesto de Trump na terça-feira (23).
Ainda mais porque Trump também
fez, durante o discurso, críticas ao cenário político interno brasileiro —
mencionou que há afrontas às liberdades no país — e sugeriu que o Brasil só irá
bem se se aproximar dos Estados Unidos.
A fala do presidente americano
também ocorre um dia após mais sanções serem aplicadas a autoridades
brasileiras.
Bolsonarismo
Bolsonaristas minimizaram o
discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na terça-feira (23) na
Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em que o americano não
mencionou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e fez afagos ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT).
O entorno do ex-presidente,
afirma que a fala de Trump é uma estratégia para forçar Lula a ir à mesa de
negociação.
Para bolsonaristas, que veem
nas sanções americanas aplicadas ao Brasil uma saída para livrar Bolsonaro da
condenação, Trump força Lula a negociar.
Sob reserva, aliados de
Bolsonaro dizem que Trump criou um problema para Lula e que ainda ironizou
dizendo que o Brasil não tem como ir longe sem os EUA. “Lamento muito dizer que
o Brasil está indo mal e continuará indo mal. Eles só conseguirão se sair bem
quando trabalharem conosco; sem nós, eles fracassarão, assim como outros
fracassaram”, alertou.
Aliados do ex-presidente
também disseram que o fato de Trump não ter mencionado Bolsonaro em sua fala
faz parte de uma estratégia para forçar encontro com Lula e depois cobrar a
anistia.
Tribuna do Norte
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