A ausência atinge
principalmente medicamentos como a ciclosporina e o micofenolato de mofetila,
substâncias consideradas indispensáveis para esse público. De acordo com
informações da tabela da Unicat, atualizada diariamente, a ciclosporina está em
processo de licitação e o micofenolato aguarda distribuição pelo Ministério da
Saúde. Essas lacunas administrativas têm provocado interrupções recorrentes no
acesso aos fármacos, que não permitem falhas no uso. Fora da rede pública, o
custo mensal pode ultrapassar R$ 1.500, valor inviável para a maioria dos
transplantados.
Cristina Fialho, 56, passou
pelo transplante em fevereiro de 2023 e hoje sofre com essa falta de
medicamentos. “O primeiro ano foi de recuperação, porque meu transplante foi
muito complicado e minha situação era bastante crítica. Nesse período, o
fornecimento foi regular, recebíamos até mais de uma caixa por mês. Era um
serviço muito bom”, conta. Com o tempo, o cenário mudou. “O problema começou em
2024, quando passaram a haver atrasos na entrega e reposição. Medicamentos como
ciclosporina e micofenolato de mofetila começaram a faltar. São fundamentais e
muito caros”, relata.
Segundo Cristina, a
ciclosporina pode custar entre R$ 400 e R$ 500 por caixa. Quando não consegue
na rede pública, a saída é contar com doações de outros pacientes ou com
estoques emergenciais em hospitais. “Quando há atraso, às vezes conseguimos no
hospital em que fiz o transplante. Outras vezes, recorremos a transplantados
que cedem doações. Isso gera uma ansiedade absurda”, lamenta.
O drama também atinge José
Valdson, 36, que depende do micofenolato de mofetila após o transplante de
coração realizado em dezembro de 2023. “A falta pode provocar uma rejeição,
pela qual eu passei recentemente, e o sofrimento foi muito grande pra mim e minha
família”, afirma. Desde a falta de medicamento no estoque da Unicat, ele só
conseguiu seguir o tratamento graças a doações.
Diante disso, José afirma
viver sob constante insegurança. “É desesperador, pois antes do transplante eu
sofri muito vendo minha vida se indo aos poucos e o medo se instala dentro da
minha casa de passar por isso novamente. Tenho uma filha de 6 anos e ela já
passou por muita coisa. Tento blindá-la, mas é quase impossível”, detalha.
De acordo com técnicas do
Ministério da Saúde, tanto a ciclosporina quanto o micofenolato de mofetila têm
uso aprovado para prevenção da rejeição em transplantes cardíacos, renais e
hepáticos. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou a Sesap para esclarecer a
situação do fornecimento de imunossupressores aos transplantados cardíacos, mas
não houve retorno.
Tribuna do Norte
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