domingo, 28 de setembro de 2025

Construção civil aposta na inovação para um futuro mais competitivo e sustentável

A inovação tem feito a diferença em inúmeros setores da economia potiguar. Processos inovadores aumentam a produtividade, melhoram a relação custo-benefício, agregam valor ao produto e garantem mais competitividade e sustentabilidade. Na construção civil, cita o presidente do Sinduscon/RN (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Norte), Sérgio Azevedo, as áreas com maior potencial para inovação, no Rio Grande do Norte, são a industrialização e a pré-fabricação, que podem acelerar a entrega de projetos e otimizar custos, e a automação e robótica, que tornam os processos mais eficientes e seguros.

“Essas são as áreas-chave para um futuro mais competitivo e sustentável no nosso setor. Nosso objetivo é um desenvolvimento equilibrado”, garante Sérgio Azevedo. O Sinduscon/RN tem incentivado, por exemplo, a adoção da tecnologia BIM (Modelagem de Informação da Construção) por acreditar no potencial dessa metodologia para aprimorar o gerenciamento de projetos e o desenvolvimento de soluções voltadas para a energia renovável e a gestão de resíduos.

A tecnologia BIM permite criar um modelo virtual da construção, contendo não apenas a geometria do projeto, mas informações essenciais, como especificações dos materiais, custos, prazos e cronogramas em todo o ciclo do empreendimento. Esse conjunto de dados integrados e detalhados ajuda todos os envolvidos no projeto – arquitetos, engenheiros, gestores e construtores – a visualizar e simular cada etapa da obra, facilitando a colaboração e a tomada de decisões.

“Além da tecnologia BIM, que ajuda a otimizar processos e reduzir desperdícios, incentivamos a industrialização para aumentar a produtividade e a automação para tornar as obras mais eficientes. Ao mesmo tempo, promovemos práticas mais limpas e o uso de materiais sustentáveis. Acreditamos que o uso dessas tecnologias não apenas moderniza o setor, mas o torna mais responsável e preparado para o futuro”, afirma Sérgio Azevedo.

O Ecossistema

Recentemente, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Em-presas do Rio Grande do Norte (Sebrae/RN) e o Sinduscon/RN lançaram o Ecossistema Local de Inovação (ELI) da Construção Civil. “A inovação é fundamental para a competitividade do nosso setor. Por isso, estamos focados em unir empresas, universidades, governo e startups em um ecossistema”, afirma Sérgio Azevedo.

Ele cita ainda parcerias com a Federação das Indústrias do RN (Fiern), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do RN (Sebrae/RN) que têm ajudado a “transformar boas ideias em soluções aplicadas, atraindo investimentos e gerando empregos de qualidade”.

Sérgio Azevedo não tem dúvida de que o ELI se transformará muito rapidamente em um espaço estratégico de integração para a construção civil potiguar. “O ELI vai garantir a segurança jurídica, estimular o crédito e criar condições para que construtoras e startups locais possam se desenvolver”, pontua o presidente do Sinduscon/RN.

“Nosso foco é que a inovação beneficie, principalmente, as empresas e os profissionais do Rio Grande do Norte, garantindo um crescimento sustentável”, acrescenta, destacando que um setor forte e inovador atrai muito mais investimentos. “Ao promover um ambiente que valoriza a tecnologia e a sustentabilidade, consolidamos o estado como uma referência em construção inteligente e sustentável no Brasil”, reforça.

O ELI da Construção Civil é o segundo ecossistema criado pelo Sebrae/RN por segmento da economia. O primeiro foi o do Agronegócio. “O ELI constrói uma governança estruturada e já é uma boa prática do sistema, tão boa que criamos o da Construção Civil, uma cadeia que também é extremamente tradicional, mas que pode embarcar muito mais tecnologia para ampliar seu faturamento e se desenvolver”, afirma Mona Nóbrega, gerente de Desenvolvimento Rural do Sebrae/RN.

EVO: transformando ideias inovadoras em resultados

As novas tecnologias já integram o cotidiano das construtoras no estado há alguns anos. Em 2022, a Dois A Engenharia criou o Laboratório de Inovação EVO, um setor dedicado a avanços tecnológicos nos processos da empresa. “O EVO surgiu da necessidade de transformar inovação em resultados práticos. A construção civil ainda convive com processos tradicionais, mas tem muito a ganhar com dados, tecnologia e automação”, explica Wisley Moura, gerente de Tecnologia e Inovação da Dois A.

Segundo ele, o EVO nasceu para ser um ambiente de experimentação, capaz de unir engenharia, tecnologia e ciência de dados para resolver problemas reais das obras. Tudo isso alinhado às prioridades da Dois A: aumentar a produtividade, reduzir custos, melhorar a sustentabilidade e, principalmente, dar mais segurança ao time em campo. “Queremos transformar a forma de construir no Brasil, trazendo para dentro da engenharia a mentalidade de laboratório e de indústria 4.0”, adianta Wisley Moura.

Ao longo de quatro anos, a Dois A investiu cerca de R$ 12 milhões no EVO. Ele destaca que, nesse processo de modernização, a mão de obra não desaparece, se transforma. “Hoje, precisamos de profissionais cada vez mais qualificados, que saibam interpretar dados, operar tecnologias e contribuir de forma criativa”, completa.

Atualmente, a IA já é aplicada em três principais frentes: monitoramento inteligente; gestão contratual e planejamento de cenários. “Nos parques eólicos, a adoção de soluções tecnológicas é extremamente relevante por combinar segurança em locais afastados, melhor gestão de contratos e otimização de cronogramas em projetos de alta complexidade”, diz.

Campo de terra

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.Monitoramento perimetral com câmeras inteligentes identifica intrusões automaticamente| Foto: Divulgação

Entre os destaques, está o monitoramento perimetral com câmeras inteligentes e carrinhos autônomos movidos a energia limpa (sistema offgrid). Instalados nos acessos das obras, esses equipamentos têm capacidade de identificar intrusões automaticamente e, mesmo em área sem rede elétrica e internet, conseguem ser autonômos e gerar streamings em tempo real para os clientes, por serem equipados com câmeras, refletores, internet e energia.

“Antes, dependíamos de equipes maiores de vigilância para proteger acessos e perímetros. Hoje, os carrinhos com IA fazem esse trabalho em tempo real, identificando movimentações suspeitas de forma automática”, explica o engenheiro.

Em outra ponta, drones com tecnologia LiDAR realizam levantamentos topográficos até 15 vezes mais rápidos e com muito mais precisão e detalhamento. “Nossas soluções de acompanhamento com drones permitem comparar, de forma ágil e precisa, a execução em campo com o projeto executivo, garantindo total transparência e antecipando potenciais desvios construtivos”, explica o engenheiro. Segundo ele, essa abordagem possibilita correções imediatas, evitando retrabalhos e reduzindo o risco de problemas estruturais que poderiam se manifestar no futuro.

Outras soluções adotadas são o controle de abastecimento com RFID (Identificação por Radiofrequência), que evita desvios de combustível; a telemetria com sensores e acelerômetros; e o caminhão desbobinador de cabos, desenvolvido internamente, que reduz em 85% a necessidade de mão de obra no lançamento de cabos em valas e entrega cinco vezes mais produtividade que o método convencional.

Mesa com computadores

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

Com câmeras, internet e energia, carrinhos transmitem em tempo real| Foto: Divulgação

“Nossa telemetria permite monitorar a produtividade real de cada equipamento, distinguindo o que gera valor daquilo que é tempo ocioso. Por meio da análise do ambiente de operação e do nível de esforço ao qual cada máquina é submetida, conseguimos prever falhas antes que ocorram, aumentando a confiabilidade, prolongando a vida útil dos ativos e assegurando a continuidade das operações”, detalha.

Wisley Moura cita ainda o sistema de pesagem automatizado. A balança registra de forma autônoma o peso dos insumos, com relatório fotográfico automático, garantindo transparência e eliminando perdas no recebimento de materiais. Outra inovação é o aplicativo para controle de concretagem de bases, desde a operação de carga, testes e lançamento de concreto, transmitindo ao vivo imagens e indicadores para clientes no Brasil e no exterior.

“Essa capacidade nos permite antecipar gargalos, otimizar cronogramas, analisar múltiplos cenários e aumentar a eficiência desde as fases iniciais dos projetos com um esforço humano bastante reduzido”, explica Wisley Moura. A construtora também utiliza a IA para dar mais agilidade e precisão aos processos administrativos.

Senai-RN exporta tecnologia e fomenta inovação

Com um trabalho sólido na formação de novos profissionais e qualificação de mão de obra para o mercado de trabalho, o Serviço Nacional da Aprendizagem Industrial (Senai-RN) tem investido ano após ano em tecnologias e expertises visando atender ao mercado industrial com demanda por soluções. São projetos de grande porte que são exportados para empresas de outros estados e de outros países.

O Senai tem projetos desenvolvidos para a indústria potiguar de melhoria do processo de produção em todos os setores industriais, seja alimentos, bebidas, construção civil, energia renovável, petróleo e gás, cerâmica e mineração.

“Levamos às empresas o serviço de consultoria capaz de melhorar a produtividade, fazendo com que elas reduzam seu custo ou ampliem sua produção com a mesma capacidade de equipamentos ou pessoas que existem, que trará reflexo nos custos, ou que melhore seu processo produtivo sem que necessite de grandes investimentos”, cita Rodrigo Mello, diretor regional do Senai-RN.

Ainda segundo explica Rodrigo, um dos trabalhos da instituição é construir, a partir das problemáticas apresentadas pelas empresas, as soluções a serem desenvolvidas para suprir as necessidades. No caso do RN, líder em geração de energia eólica no Brasil e recebendo empresas de vários países, a repercussão torna-se ainda maior.

“Os trabalhos desenvolvidos são de impacto nacional e internacional. Temos parcerias com instituições do Canadá, Espanha, Alemanha para desenvolvermos soluções para o setor de energia, seja eólica, solar, de combustíveis avançados. A solução é para o ambiente de desenvolvimento industrial e não necessariamente o do Rio Grande do Norte”, explica.

Entre os exemplos de tecnologia estão a boia Bravo, já em sua segunda fase, que é uma solução desenvolvida de forma inédita no Brasil para prospecções ligadas à energia eólica offshore. A inovação é fruto de projeto de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) do Cenpes – o Centro de Pesquisas da Petrobras – em parceria com o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados (ISI-SE).

O equipamento tem capacidade para registrar velocidade e direção dos ventos, variáveis meteorológicas, como pressão atmosférica, temperatura do ar e umidade relativa, além de variáveis oceanográficas, a exemplo de ondas e correntes marítimas. Todos esses dados são essenciais para determinar o potencial de uma área para a produção de energia eólica. O investimento da Petrobras na primeira versão foi de R$ 11,3 milhões.

O Atlas Eólico e Solar do RN foi outro projeto desenvolvido por meio do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER). A ferramenta traz informações do ISI-ER medidas em campo e simuladas sobre os ventos que chegam no RN, tanto em terra (onshore) quanto no mar (offshore), destacando ainda o potencial de geração de energia solar.

Os dados são colhidos por meio de estações solarimétricas instaladas em seis municípios e de uma torre anemométrica na região de Areia Branca, com informações sobre velocidade e frequência dos ventos em diferentes alturas.

Inova RN
Essa reportagem integra a série “Inova RN”, com o objetivo de mergulhar e entender o contexto e o ecossistema de inovação para o mercado empreendedor e industrial do Rio Grande do Norte.

Ícaro Carvalho/Repórter

Margareth Grilo/Diretora de Redação

Tribuna do Norte

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