A inovação tem feito a
diferença em inúmeros setores da economia potiguar. Processos inovadores
aumentam a produtividade, melhoram a relação custo-benefício, agregam valor ao
produto e garantem mais competitividade e sustentabilidade. Na construção civil,
cita o presidente do Sinduscon/RN (Sindicato da Indústria da Construção Civil
do Rio Grande do Norte), Sérgio Azevedo, as áreas com maior potencial para
inovação, no Rio Grande do Norte, são a industrialização e a pré-fabricação,
que podem acelerar a entrega de projetos e otimizar custos, e a automação e
robótica, que tornam os processos mais eficientes e seguros.
“Essas são as áreas-chave para um futuro mais competitivo e sustentável no
nosso setor. Nosso objetivo é um desenvolvimento equilibrado”, garante Sérgio
Azevedo. O Sinduscon/RN tem incentivado, por exemplo, a adoção da tecnologia
BIM (Modelagem de Informação da Construção) por acreditar no potencial dessa
metodologia para aprimorar o gerenciamento de projetos e o desenvolvimento de
soluções voltadas para a energia renovável e a gestão de resíduos.
A tecnologia BIM permite criar um modelo virtual da construção, contendo não
apenas a geometria do projeto, mas informações essenciais, como especificações
dos materiais, custos, prazos e cronogramas em todo o ciclo do empreendimento.
Esse conjunto de dados integrados e detalhados ajuda todos os envolvidos no
projeto – arquitetos, engenheiros, gestores e construtores – a visualizar e
simular cada etapa da obra, facilitando a colaboração e a tomada de decisões.
“Além da tecnologia BIM, que ajuda a otimizar processos e reduzir desperdícios,
incentivamos a industrialização para aumentar a produtividade e a automação
para tornar as obras mais eficientes. Ao mesmo tempo, promovemos práticas mais
limpas e o uso de materiais sustentáveis. Acreditamos que o uso dessas
tecnologias não apenas moderniza o setor, mas o torna mais responsável e
preparado para o futuro”, afirma Sérgio Azevedo.
O Ecossistema
Recentemente, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Em-presas do Rio Grande do
Norte (Sebrae/RN) e o Sinduscon/RN lançaram o Ecossistema Local de Inovação
(ELI) da Construção Civil. “A inovação é fundamental para a competitividade do
nosso setor. Por isso, estamos focados em unir empresas, universidades, governo
e startups em um ecossistema”, afirma Sérgio Azevedo.
Ele cita ainda parcerias com a Federação das Indústrias do RN (Fiern), do
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas do RN (Sebrae/RN) que têm ajudado a
“transformar boas ideias em soluções aplicadas, atraindo investimentos e
gerando empregos de qualidade”.
Sérgio Azevedo não tem dúvida de que o ELI se transformará muito rapidamente em
um espaço estratégico de integração para a construção civil potiguar. “O ELI
vai garantir a segurança jurídica, estimular o crédito e criar condições para
que construtoras e startups locais possam se desenvolver”, pontua o presidente
do Sinduscon/RN.
“Nosso foco é que a inovação beneficie, principalmente, as empresas e os
profissionais do Rio Grande do Norte, garantindo um crescimento sustentável”,
acrescenta, destacando que um setor forte e inovador atrai muito mais
investimentos. “Ao promover um ambiente que valoriza a tecnologia e a
sustentabilidade, consolidamos o estado como uma referência em construção
inteligente e sustentável no Brasil”, reforça.
O ELI da Construção Civil é o segundo ecossistema criado pelo Sebrae/RN por
segmento da economia. O primeiro foi o do Agronegócio. “O ELI constrói uma
governança estruturada e já é uma boa prática do sistema, tão boa que criamos o
da Construção Civil, uma cadeia que também é extremamente tradicional, mas que
pode embarcar muito mais tecnologia para ampliar seu faturamento e se
desenvolver”, afirma Mona Nóbrega, gerente de Desenvolvimento Rural do
Sebrae/RN.
EVO: transformando ideias
inovadoras em resultados
As novas tecnologias já
integram o cotidiano das construtoras no estado há alguns anos. Em 2022, a Dois
A Engenharia criou o Laboratório de Inovação EVO, um setor dedicado a avanços
tecnológicos nos processos da empresa. “O EVO surgiu da necessidade de transformar
inovação em resultados práticos. A construção civil ainda convive com processos
tradicionais, mas tem muito a ganhar com dados, tecnologia e automação”,
explica Wisley Moura, gerente de Tecnologia e Inovação da Dois A.
Segundo ele, o EVO nasceu para ser um ambiente de experimentação, capaz de unir
engenharia, tecnologia e ciência de dados para resolver problemas reais das
obras. Tudo isso alinhado às prioridades da Dois A: aumentar a produtividade,
reduzir custos, melhorar a sustentabilidade e, principalmente, dar mais
segurança ao time em campo. “Queremos transformar a forma de construir no
Brasil, trazendo para dentro da engenharia a mentalidade de laboratório e de
indústria 4.0”, adianta Wisley Moura.
Ao longo de quatro anos, a Dois A investiu cerca de R$ 12 milhões no EVO. Ele
destaca que, nesse processo de modernização, a mão de obra não desaparece, se
transforma. “Hoje, precisamos de profissionais cada vez mais qualificados, que
saibam interpretar dados, operar tecnologias e contribuir de forma criativa”,
completa.
Atualmente, a IA já é aplicada em três principais frentes: monitoramento
inteligente; gestão contratual e planejamento de cenários. “Nos parques
eólicos, a adoção de soluções tecnológicas é extremamente relevante por
combinar segurança em locais afastados, melhor gestão de contratos e otimização
de cronogramas em projetos de alta complexidade”, diz.
Monitoramento perimetral com
câmeras inteligentes identifica intrusões automaticamente| Foto: Divulgação
Entre os destaques, está o monitoramento perimetral com câmeras inteligentes e
carrinhos autônomos movidos a energia limpa (sistema offgrid). Instalados nos
acessos das obras, esses equipamentos têm capacidade de identificar intrusões
automaticamente e, mesmo em área sem rede elétrica e internet, conseguem ser
autonômos e gerar streamings em tempo real para os clientes, por serem
equipados com câmeras, refletores, internet e energia.
“Antes, dependíamos de equipes maiores de vigilância para proteger acessos e
perímetros. Hoje, os carrinhos com IA fazem esse trabalho em tempo real,
identificando movimentações suspeitas de forma automática”, explica o
engenheiro.
Em outra ponta, drones com tecnologia LiDAR realizam levantamentos topográficos
até 15 vezes mais rápidos e com muito mais precisão e detalhamento. “Nossas
soluções de acompanhamento com drones permitem comparar, de forma ágil e
precisa, a execução em campo com o projeto executivo, garantindo total
transparência e antecipando potenciais desvios construtivos”, explica o
engenheiro. Segundo ele, essa abordagem possibilita correções imediatas,
evitando retrabalhos e reduzindo o risco de problemas estruturais que poderiam
se manifestar no futuro.
Outras soluções adotadas são o controle de abastecimento com RFID
(Identificação por Radiofrequência), que evita desvios de combustível; a
telemetria com sensores e acelerômetros; e o caminhão desbobinador de cabos,
desenvolvido internamente, que reduz em 85% a necessidade de mão de obra no
lançamento de cabos em valas e entrega cinco vezes mais produtividade que o
método convencional.
Com câmeras, internet e energia,
carrinhos transmitem em tempo real| Foto: Divulgação
“Nossa telemetria permite monitorar a produtividade real de cada equipamento,
distinguindo o que gera valor daquilo que é tempo ocioso. Por meio da análise
do ambiente de operação e do nível de esforço ao qual cada máquina é submetida,
conseguimos prever falhas antes que ocorram, aumentando a confiabilidade,
prolongando a vida útil dos ativos e assegurando a continuidade das operações”,
detalha.
Wisley Moura cita ainda o sistema de pesagem automatizado. A balança registra
de forma autônoma o peso dos insumos, com relatório fotográfico automático,
garantindo transparência e eliminando perdas no recebimento de materiais. Outra
inovação é o aplicativo para controle de concretagem de bases, desde a operação
de carga, testes e lançamento de concreto, transmitindo ao vivo imagens e
indicadores para clientes no Brasil e no exterior.
“Essa capacidade nos permite antecipar gargalos, otimizar cronogramas, analisar
múltiplos cenários e aumentar a eficiência desde as fases iniciais dos projetos
com um esforço humano bastante reduzido”, explica Wisley Moura. A construtora
também utiliza a IA para dar mais agilidade e precisão aos processos
administrativos.
Senai-RN exporta tecnologia
e fomenta inovação
Com um trabalho sólido na
formação de novos profissionais e qualificação de mão de obra para o mercado de
trabalho, o Serviço Nacional da Aprendizagem Industrial (Senai-RN) tem
investido ano após ano em tecnologias e expertises visando atender ao mercado
industrial com demanda por soluções. São projetos de grande porte que são
exportados para empresas de outros estados e de outros países.
O Senai tem projetos desenvolvidos para a indústria potiguar de melhoria do
processo de produção em todos os setores industriais, seja alimentos, bebidas,
construção civil, energia renovável, petróleo e gás, cerâmica e mineração.
“Levamos às empresas o serviço de consultoria capaz de melhorar a
produtividade, fazendo com que elas reduzam seu custo ou ampliem sua produção
com a mesma capacidade de equipamentos ou pessoas que existem, que trará
reflexo nos custos, ou que melhore seu processo produtivo sem que necessite de
grandes investimentos”, cita Rodrigo Mello, diretor regional do Senai-RN.
Ainda segundo explica Rodrigo, um dos trabalhos da instituição é construir, a
partir das problemáticas apresentadas pelas empresas, as soluções a serem
desenvolvidas para suprir as necessidades. No caso do RN, líder em geração de
energia eólica no Brasil e recebendo empresas de vários países, a repercussão
torna-se ainda maior.
“Os trabalhos desenvolvidos são de impacto nacional e internacional. Temos
parcerias com instituições do Canadá, Espanha, Alemanha para desenvolvermos
soluções para o setor de energia, seja eólica, solar, de combustíveis
avançados. A solução é para o ambiente de desenvolvimento industrial e não
necessariamente o do Rio Grande do Norte”, explica.
Entre os exemplos de tecnologia estão a boia Bravo, já em sua segunda fase, que
é uma solução desenvolvida de forma inédita no Brasil para prospecções ligadas
à energia eólica offshore. A inovação é fruto de projeto de Pesquisa,
Desenvolvimento & Inovação (PD&I) do Cenpes – o Centro de Pesquisas da
Petrobras – em parceria com o Instituto SENAI de Inovação em Energias
Renováveis (ISI-ER) e o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados
(ISI-SE).
O equipamento tem capacidade para registrar velocidade e direção dos ventos,
variáveis meteorológicas, como pressão atmosférica, temperatura do ar e umidade
relativa, além de variáveis oceanográficas, a exemplo de ondas e correntes
marítimas. Todos esses dados são essenciais para determinar o potencial de uma
área para a produção de energia eólica. O investimento da Petrobras na primeira
versão foi de R$ 11,3 milhões.
O Atlas Eólico e Solar do RN foi outro projeto desenvolvido por meio do
Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER). A ferramenta traz
informações do ISI-ER medidas em campo e simuladas sobre os ventos que chegam
no RN, tanto em terra (onshore) quanto no mar (offshore), destacando ainda o
potencial de geração de energia solar.
Os dados são colhidos por meio de estações solarimétricas instaladas em seis
municípios e de uma torre anemométrica na região de Areia Branca, com
informações sobre velocidade e frequência dos ventos em diferentes alturas.
Inova RN
Essa reportagem integra a série “Inova RN”, com o objetivo de mergulhar e
entender o contexto e o ecossistema de inovação para o mercado empreendedor e
industrial do Rio Grande do Norte.
Ícaro Carvalho/Repórter
Margareth Grilo/Diretora de
Redação
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