“A estiagem prolongada já
provoca perdas significativas na agropecuária potiguar, especialmente nas
regiões Seridó, Oeste e Central”, afirma José Vieira, presidente da Faern. Com
a estiagem mais severa dos últimos anos e chuvas até 50% abaixo do esperado em
algumas regiões, o Estado já projeta impactos diretos sobre a produção de
leite, grãos e forragem.
Segundo o secretário de
Agricultura do RN, Guilherme Saldanha, a bacia leiteira potiguar cresceu quase
100% desde 2016, com o fortalecimento das queijeiras e o retorno de
frigoríficos industriais privados, mas pode sofrer recuos significativos nos
próximos meses.
“A agropecuária do Rio Grande
do Norte tem como destaques a carcinicultura e a agricultura irrigada, que não
haverá impacto decorrente da questão climática da seca. Porém, tem atividades
que nos preocupam muito: a pecuária leiteira, a ovinocultura, a caprinocultura,
a de corte e também a questão da cana-de-açúcar. A gente tem essa preocupação
de garantir uma forma dessas pessoas continuarem sua produção, de forma que o
impacto seja o menor possível na cadeia”, afirma o secretário.
Para o presidente da Federação
dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Norte (Fetarn), Erivam do
Carmo, o momento exige atenção urgente e apoio direto aos pequenos
agricultores. “Existem regiões do Estado que estão com total ou parcial
frustração de safra. O inverno foi mais favorável apenas em algumas
localidades, mais notadamente na faixa litorânea, porém nas regiões Trairi,
Central e outras, há perda total de produção”, lamenta.
Para Erivam, o fortalecimento
da agricultura familiar diante dos períodos de estiagem necessita de um
programa de manutenção dos rebanhos com a aquisição de raquetes de palma, feno
e milho para distribuição com os agricultores familiares, instalação de poços
tubulares já perfurados, além da perfuração e instalação de novos poços em
comunidades e assentamentos rurais.
O presidente da Fetarn ainda
lista a construção e reforma de açudes e barreiros em comunidades e
assentamentos rurais, e uma assistência técnica e extensão rural voltadas para
ações de convivência com o semiárido.
No âmbito federal, a
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) informa que tem
conduzido atividades para a revisão do plano estadual de combate à
desertificação. A Sudene está investindo R$ 1,5 milhão, enquanto o Ministério
do Meio Ambiente está disponibilizando R$ 2,5 milhões. A Autarquia também
conduz, em parceria com a SAPE, um projeto para modernizar e garantir a
estruturação de 18 unidades multiplicadoras de palma forrageira tolerantes à
cochonilha-do-carmim.
“A gente está bem atento. Tem
ações que envolvem recursos do Governo do Estado e também tem ações que vão
envolver recursos do Governo Federal. Semana passada estivemos em Brasília já
tratando dessa questão da seca, para que a partir de agosto a gente já tenha
ações que permitam o pecuarista, o pequeno criador, o agricultor familiar
atravessar esse momento”, explica o secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca
do RN.
Emergência
As reservas hídricas do Estado
operam com 48,88% de sua capacidade total, segundo o Instituto de Gestão das
Águas (Igarn), e 11 reservatórios já estão em situação crítica, com menos de
10% de volume acumulado. Atualmente, entre os reservatórios em estado crítico
estão a Passagem das Traíras (0,03%), em São José do Seridó, o Itans (0,39%),
em Caicó, o Jesus Maria José (2,21%), em Tenente Ananias, o Mundo Novo (2,39%),
também em Caicó, e outros sete açudes localizados nos municípios de Ouro
Branco, São João do Sabugi, Olho D’Água do Borges, Luís Gomes, Patu e São José
do Campestre.
Segundo Saldanha, um grupo de
trabalho foi implantado com uma série de ações que envolve não só o
abastecimento humano, mas também a ampliação da perfuração dos poços. “O Rio
Grande do Norte tem um passivo muito grande de poços que foram perfurados ao longo
dos últimos 20, 30 anos, que infelizmente alguns deles nunca foram instalados.
O Rio Grande do Norte está com uma parceria em execução com o Governo Federal
através da Secretaria da Agricultura, num plano de execução de barragens
subterrâneas.”, relata.
O presidente da Faern, José
Vieira, acrescenta que a Operação Carro-pipa, que atende 75 mil potiguares
atualmente, enfrenta problemas, como a demora na inclusão de novos municípios e
rotas irregulares. O mesmo problema afeta o Programa Cisternas 2025. “A falta
de recursos, a burocracia para novas construções e a ausência de acompanhamento
técnico contínuo dificultam a manutenção das cisternas”, aponta.
Tribuna do Norte

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