As hepatites virais são infecções que atingem o fígado e podem causar
alterações leves, moderadas ou graves nos indivíduos. No Brasil, existem três
tipos mais comuns, a hepatite A, a hepatite B e a hepatite C. As hepatites do
tipo A e B possuem vacinas disponíveis de forma gratuita nas unidades de saúde
dos municípios em geral.
A doença não apresenta sintomas na fase inicial. Segundo a gastroenterologista
Renata Quirino, médica do serviço de hepatologia do Hospital Onofre Lopes
(HUOL), o paciente raramente sentirá algum sinal de alerta se a doença não
estiver na fase aguda. “Na fase crítica ele poderá apresentar icterícia (pele e
olhos amarelados), urina escura, náuseas, dor abdominal, enjoos, e fadiga”,
diz.
A médica explica que as hepatites virais cursam de forma subclínica,
especialmente as do tipo B e C, sendo diagnosticadas incidentalmente em exames
de rotina, ou até que haja complicações como cirrose ou câncer de fígado, por
exemplo. Em fases avançadas podem surgir sintomas graves, como aumento da
barriga por acúmulo de líquido (ascite), confusão mental (encefalopatia
hepática) e sangramentos digestivos (vômitos com sangue ou sangue nas fezes).
Para se chegar ao diagnóstico com mais exatidão, é preciso conhecer a situação
em que cada tipo de hepatite viral pode ser transmitida. Renata Quirino explica
que a hepatite A, por exemplo, é normalmente transmitida por via fecal-oral, ou
seja, através de alimentos ou água contaminados, ou por contato pessoal
próximo. Raramente é transmitida por via sexual.
Já a hepatite B tem transmissão vertical (mãe para o feto), parenteral (sangue)
e também por secreções humanas incluindo saliva, líquido de feridas, e sêmen.
“No Brasil, a via de transmissão mais comum de hepatite B é a sexual. A
hepatite C tem como principal via de transmissão o sangue ou material
contaminado por sangue”, completa.
O diagnóstico pode ser feito por testes rápidos, nos casos das hepatites B e C,
ou por exames laboratoriais, quando se colhe a amostra de sangue – que pode
incluir, neste caso, a pesquisa, também, do vírus A da hepatite. Renata diz que
não há um consenso sobre a frequencia com que esses exames sejam realizados,
mas o Ministério da Saúde (MS) orienta que toda pessoa acima de 20 anos e, que
não esteja com cartão vacinal completo para hepatite B (suscetíveis), seja
testado pelo menos uma vez na vida.
Outra estratégia de rastreamento se baseia na priorização de algumas populações
mais vulneráveis à infecção pela hepatite B, como por exemplo, profissionais de
saúde e de segurança pública; pessoas com antecedente de exposição percutânea/
parenteral a materiais biológicos que não obedeçam às normas de vigilância
sanitária; pessoas privadas de liberdade ou em outras situações de restrição,
trabalhadores do sexo e em situação de rua.
Se uma hepatite não for diagnosticada ou tratada a tempo, as consequencias
podem ser diversas, segundo o tipo de vírus. “A hepatite A tende a ter uma
evolução benigna e autolimitada. Já as hepatites B e C, principalmente a
hepatite C, evolui para a cronicidade, ambas podendo progredir para cirrose e
carcinoma hepatocelular”, alerta a médica.
Prevenção e tratamentos
As principais formas de prevenção incluem vacinas contra as hepatites A e B,
uso de preservativos nas relações sexuais, não compartilhar agulhas, seringas,
escovas de dente ou lâminas de barbear. Cuidados em procedimentos com risco de
contato com sangue (tatuagens, piercings, manicure). Acesso a água tratada e
boa higiene para prevenir a hepatite.
Houve muitos avanços nos tratamentos às hepatites virais ao longo do tempo. A
gastroenterologista explica que as atuais alternativas terapêuticas para o
tratamento da hepatite C, com registro no Brasil e incorporadas no SUS,
apresentam alta efetividade terapêutica com taxa de cura de 94 a 99%. “O avanço
está na medicação pangenotípica, que abrange todos os tipos de genótipos do
vírus C, dispensando a necessidade da realização de exames de genotipagem
pré-tratamento”, explica.
Em relação à hepatite B, apesar de não ter cura, a novidade é a atualização do
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT 2023), e a incorporação de
mais um medicamento, o Tenofovir alafenamida (TAF). Já a hepatite A geralmente
é uma infecção leve e que se cura sozinha, porém o curso sintomático e a
letalidade aumentam de acordo com a idade.
Segundo Renata, a estratégia de redução de exames exigidos proporciona a
ampliação do acesso ao tratamento medicamentoso a todos os pacientes infectados
pela hepatite C, sendo fundamental para o sucesso do ‘Plano para Eliminação da
Hepatite C no Brasil’, uma meta mundial que visa eliminar o vírus até 2030.
Vírus silencioso
A forma silenciosa com que a hepatite se manifesta, teve efeitos diversos na
família de Walter Bento de Lima, funcionário público aposentado. O irmão sentiu
fortes dores na altura do abdome, foi internado e faleceu em torno de 40 dias.
Ele tinha cirrose causada por hepatite C. Um trauma familiar que foi revivido
tempos depois, quando um exame de sangue de Walter registrou uma alteração
estranha. Após uma elastografia hepática, foi encontrada a hepatite C.
“Eu não sentia nada, não tinha sintomas. Mas fiquei muito abalado, chorei.
Lembrei do que tinha acontecido com meu irmão”, conta. No entanto, Walter foi
devidamente medicado, e teve sua carga viral zerada. Desde então ele faz exame
de imagem uma vez por ano no abdômen para ver o estado do fígado, e exame de
sangue de seis em seis meses. “Tenho 75 anos, uma boa qualidade de vida, sem
sintomas da hepatite, mas me mantenho sempre atento”, conclui.
Tádzio França
Repórter.

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