A redução registrada nos
monitoramentos é considerada pequena diante do objetivo necessário, que é o
desmatamento zero, conforme avaliou a SOS Mata Atlântica. As perdas permanecem
altas, principalmente em áreas historicamente críticas, e avançam sobre matas
maduras, que são insubstituíveis em biodiversidade e regulação climática.
O diretor executivo da
fundação, Luís Fernando Guedes Pinto, avalia que o desmatamento ainda
representa uma grande ameaça para o futuro do bioma. Ele pontuou que o
bioma da Mata Atlântica abriga cerca de 70% da população brasileira e sustenta
mais de 80% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional.
“No contexto das crises
globais do clima e da biodiversidade, das tragédias ambientais e das
recorrentes crises hídricas no Brasil, a degradação da Mata Atlântica amplia o
risco de colapso dos serviços ecossistêmicos essenciais à nossa qualidade de
vida, à segurança alimentar e à economia do país”, disse Guedes Pinto.
O Atlas, que é coordenado pela
fundação e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), acompanha
fragmentos com mais de 3 hectares (ha) em áreas de mata madura. Seus
registros apontaram que a perda na vegetação passou de 14.697 hectares em 2023
para 14.366 hectares em 2024, o que representa uma redução de 2% na área
desmatada.
Ainda assim, tal desmatamento
representa a emissão de cerca de 6,87 milhões de toneladas de CO2 equivalente,
valor comparável às emissões anuais de Camarões ou do Distrito Federal
brasileiro, conforme divulgou a SOS Mata Atlântica, sobre a perda de mata
madura em 2024.
Já o SAD, parceria com o
MapBiomas, que detecta também desmatamentos menores e enxerga áreas em
regeneração, registrou queda de 14%. Foram 71.109 hectares desmatados em
2024 frente a 82.531 hectares do ano anterior. O total de alertas caiu de 7.396
para 5.693, mas a área média por evento subiu de 11,2 para 12,5 hectares. Esses
dados indicam desmatamentos maiores e mais concentrados.
O Piauí e a Bahia lideram
o ranking estadual, com, respectivamente, 26.030 e 23.218 hectares
desmatados registrados pelo SAD.
Expansão agropecuária
De acordo com o SAD Mata
Atlântica, a expansão da agropecuária em áreas privadas ainda é o principal
vetor do desmatamento do bioma, respondendo pela maioria dos alertas em
2024. Apesar da redução da área desmatada em alertas menores que 50
hectares, as grandes derrubadas - acima de 50 hectares - permaneceram estáveis,
o que elevou a área média suprimida por evento.
Os levantamentos mostram
ainda que, em 2024, mais de 70% das áreas desmatadas estavam em terras privadas
ou em áreas sem registro fundiário formal. Segundo a fundação, isso reflete a
disputa fundiária e a necessidade de maior regularização e fiscalização.
Para impedir o desmatamento
decorrente da expansão agropecuária, Guedes Pinto afirma que é preciso
a aplicação da lei da Mata Atlântica e o respeito à legislação, que diz
que o desmatamento do bioma só pode ocorrer em situações excepcionais de
utilidade pública e de interesse social.
“A grande dificuldade é a
prevenção e a fiscalização do desmatamento ilegal, que é a maior parte do
desmatamento que ocorre na Mata Atlântica”, disse. “A outra dificuldade é que a
gente ainda financia a agropecuária que tem desmatamento ilegal, isso está
avançando aos poucos, mas basicamente a gente não tem nem o Estado nem o setor
privado fazendo o seu papel de impedir que cheguem recursos para agricultura
ilegal, para o desmatamento ilegal e que penalize, fiscalize e puna quem não
está respeitando a lei”, acrescentou.
Desastres ambientais
No Rio Grande do Sul, os
dados revelaram aumento do desmatamento, causado principalmente pelos
deslizamentos decorrentes das chuvas de maio do ano passado. Os eventos
classificados como desastres naturais responderam pela maior parte dos 3.307
hectares desmatados no ano, naquele estado. Em 2023, a área desmatada total foi
de 962 hectares.
Considerando o desmatamento
por causas naturais em 2024, os deslizamentos foram a principal fonte de perda
no bioma, apontou Guedes Pinto. Os deslizamentos de terra acontecem devido a
chuvas muito intensas, em um período de tempo muito pequeno, em áreas de risco
de deslizamento. Em geral, essas áreas de risco têm alta declividade, como
serras e morros.
Exemplos disso são a região
serrana do Rio Grande do Sul, a Serra do Mar em São Paulo e as serras do Rio de
Janeiro.
“São regiões com declividade
muito alta e solo raso, a rocha está muito perto da floresta. Se chove muito, o
solo fica saturado de água, mais do que tem a capacidade de reter ou de escoar,
e então esse solo desliza, escorrega e junto vai a floresta que está em cima. E
fica aquela imagem daquele solo exposto nos morros de onde a floresta
escorregou,” explicou.
Os eventos climáticos
extremos também impactaram áreas protegidas nos estados de São Paulo e do Rio
de Janeiro.
“É urgente ampliar o foco da
proteção ambiental. O desmatamento provocado por efeitos climáticos já é
mensurável e ameaça até mesmo Unidades de Conservação. Se não houver ação
coordenada entre proteção, uso da terra e adaptação climática, continuaremos repetindo
a equação do desastre”, alertou Guedes Pinto.
Agência Brasil

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