domingo, 13 de abril de 2025

CGU-RN: ‘Gestores precisam de autoavaliação quanto à transparência’, diz Rogério Vieira dos Reis

Na era da informação, transparência, integridade e participação social são princípios cada vez mais exigidos pela sociedade e são aspectos centrais da atuação da Controladoria-Geral da União (CGU). Esses pilares definem o conceito de “governo aberto”, tema abordado na palestra de Rogério Vieira dos Reis, superintendente da CGU no Rio Grande do Norte, durante o 3º Conecta Municípios Potiguares (Comup). Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, Rogério destacou os avanços no nível federal e os desafios ainda presentes nos estados e municípios para consolidar práticas de controle eficazes e ampliar o acesso da população às informações públicas.

Na conversa, o superintendente aponta ferramentas oferecidas gratuitamente pela CGU, como o sistema FalaBR, já adotado por cerca de 39 prefeituras potiguares, que permite unificar os canais de ouvidoria e acesso à informação. Ele também aborda a nova rodada da Escala Brasil Transparente, avaliação federal que medirá o grau de transparência ativa e passiva nos municípios — e que será precedida por uma simulação de autoavaliação sugerida aos gestores.

Outro tema recorrente na entrevista é a importância do controle social e da participação popular no acompanhamento das políticas públicas, com destaque para o papel dos conselhos, como os do Fundeb, e o trabalho conjunto com o Ministério Público para capacitar seus membros. Ao falar sobre municípios que ultrapassaram limites da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), Rogério defende que a integridade e a eficiência na gestão dos recursos são caminhos para enfrentar as dificuldades orçamentárias, sobretudo com o apoio das tecnologias de transparência. Confira:

O sr. apresentou a palestra sobre boas práticas no controle de recursos públicos. Os gestores ainda têm muitas dúvidas?

O foco que a gente deu na palestra é basicamente em cima de governo aberto. Governo aberto é uma cultura de administração na qual você tem três pilares: um pilar da transparência, um pilar da integridade e um pilar da participação social. A CGU tem o papel não só de fomentar e monitorar esses sistemas de transparência, de integridade, de participação social no nível federal, mas também de fazer esse fomento para estados e para municípios. E a gente tem essa avaliação inclusive em nível internacional. A OCDE já fez essa avaliação. E qual é o diagnóstico da OCDE? É de que no nível federal a gente avançou bastante, principalmente na parte de transparência, mas que estados e municípios ainda precisam de uma ajuda. Então o nosso papel hoje aqui foi passar algumas ferramentas, alguns projetos que a gente tem para oferecer para os estados e para os municípios fomentarem essas áreas.

Das demandas que chegam à CGU, tem algo que chama mais atenção? Algo mais comum?

A gente tem o FalaBR, que é o sistema que integra tanto as solicitações de acesso à informação, como também as manifestações de ouvidoria. Então a gente tem realmente, às vezes, denúncias que chegam, tanto nos órgãos federais como diretamente para a gente. E a gente monitora isso, faz as capacitações também para os gestores federais, como é que eles podem tratar essas denúncias. E, sem dúvida, essa é uma das formas de ouvir a população. A gente tem a participação social e aprimora a própria gestão.

Como os municípios do Rio Grande do Norte estão em relação à transparência dos gastos públicos. O nível é satisfatório?

A gente tem feito, nos últimos anos, algumas avaliações. A gente está agora começando a fazer uma nova rodada dessa avaliação. No segundo semestre, iremos fazer uma nova rodada de escala Brasil transparente. Vamos avaliar os municípios aqui do Estado, tanto com relação à transparência ativa, ou seja, aquelas informações que precisam estar publicadas nos sites, como também a transparência passiva, ou seja, quando o cidadão pede as informações. O que a gente apresentou aqui hoje para os prefeitos e gestores municipais? Uma autoavaliação. É uma espécie de simulação. A gente pode fazer uma simulação daquilo que a gente vai avaliar logo na sequência. A gente espera que haja bastante adesão, que eles possam simular, e eles mesmos possam avaliar esse nível de maturidade e já ir corrigindo. Quando a gente for fazer a avaliação, independente, a gente espera que já esteja mais evoluído.

De que forma a tecnologia pode ser utilizada para melhorar a eficiência e a transparência na gestão dos recursos públicos? Como a CGU pode auxiliar os municípios a aplicarem esses mecanismos?

Quando a gente fala em termos de fiscalização, controle da transparência, isso é mais o papel dos órgãos de controle do Estado, do Instituto Nacional de Controle do Estado. Mas a CGU tem sim esse papel de fomento, de orientação, de fornecimento de ferramentas. Eu diria que a principal ferramenta que a gente pode oferecer para os municípios é o próprio FalaBR. Então, em vez do município ter que contratar um sistema para atender a lei de acesso à informação, contratar um sistema para tratar as manifestações de ouvidoria com denúncias, eles podem simplesmente aderir ao sistema nacional da CGU de forma gratuita, ter tudo isso estruturado.

Como está a adesão dessas ferramentas pelos municípios potiguares?

A gente tem cerca de 39 municípios e prefeituras que já fizeram adesão ao FalaBR, que a gente confirmou na apresentação, e 13 câmaras de vereadores. Não é só para o Executivo, é também para o Legislativo. Eles já fizeram adesão. Mas a gente espera de novo aqui ver se a gente consegue fomentar e aumentar a quantidade de municípios que utilizam o sistema.

Aqui no Estado, nós temos 38 municípios que possuem algum nível de comprometimento em relação aos limites da LRF. De que forma a CGU pode atuar nessas situações?

É um grande desafio. A gente sabe que é um desafio, inclusive, orçamentário. A gente acredita que essas ferramentas de integridade auxiliam nesse processo. Afinal de contas, também é algo que a gente apresenta para o pessoal, um dos conceitos de integridade é que você consiga executar a política pública sem se desvirtuar. Isso inclui sem corrupção, sem ineficiência. Então, essas ferramentas que a gente acaba fomentando, disponibilizando, a gente acredita que elas auxiliam bastante. O próprio controle social, você tem a população pedindo essa transparência, fazendo essa fiscalização, a gente imagina que melhora assim a eficiência dos gastos.

É possível dizer que o cidadão está mais atento hoje aos gastos públicos ou essa é uma impressão que é ampliada pelas redes sociais?

Isso também é um outro grande desafio. E não só no Brasil. A gente acompanha também. A CGU tem essa vantagem de ser o órgão que faz o acompanhamento dessas políticas internacionalmente. Então, a gente consegue se comparar a outros países. A gente tem a questão do espaço cívico, como que a gente incentiva a sociedade a se organizar, a fazer essa participação e controle social. Eu gosto muito de diferenciar esses dois conceitos. O controle social é como se fosse um cidadão auditor. Ele vai lá, vai tentar identificar problemas, vai cobrar, que é realmente o direito da sociedade. E participação social é um passo até acima, ele vai ser um cogestor. Ele participa do planejamento, do orçamento participativo, ele participa do monitoramento, ele faz sugestões junto com a execução da política pública. Eu acredito que os conselhos de política pública são grandes instrumentos para isso. Você tem várias áreas sociais, saúde, educação, assistência social, tem os conselheiros representando a sociedade civil. É algo que a gente tem trabalhado também para fortalecer. A gente tem uma ação aqui no Estado, junto com o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, de capacitação dos conselheiros do Fundeb, a gente faz encontros regionais. A gente acredita que é um grande caminho, um caminho que tem grande potencial de dar certo.

O Conecta tem a proposta de integrar os municípios, mas também trabalha a autonomia e dependência das prefeituras. Como equilibrar essa balança e manter a harmonia com órgãos de controle e diferentes esferas de governo?

O próprio federalismo é um grande desafio. Quando você tem um Estado unitário, é muito mais fácil de fazer administração. O federalismo é um desafio grande, mas eu acredito que a gente está no caminho certo, exatamente na integração. Quando a gente discute integridade, falando tanto da prevenção, da detecção, quanto da remediação. É claro que a gente tem, enquanto órgão de controle, ações de detecção de corrupção, de remediação. Tem operações com a Polícia Federal, Comissão Federal, mas aí já está “o leite derramado”. A gente trabalha muito com essa questão da prevenção, da integração com os gestores, da conscientização, da importância de ter instrumentos de integridade que tentem evitar que isso aconteça. A gente acredita realmente que esse é o caminho correto.

No RN, há cidades com dois mil habitantes e outras com centenas de milhares de pessoas. Como o tamanho influencia na gestão e na transparência?

Com certeza muda. Isso é um desafio que a gente tem no governo federal também. A gente tem universidades muito grandes, a gente tem às vezes autarquias muito pequenas, as populações públicas pequenas. Então, realmente, o ideal é que você tenha uma solução customizada. Recentemente, a CGU publicou um guia de avaliação da maturidade e de integridade dos órgãos públicos. Então você consegue, não necessariamente todo mundo tem que chegar no nível máximo, nível 5, mas, pelo menos, no nível básico. O interessante eu acho que é isso, que cada órgão, cada município faça uma avaliação da sua realidade, da estrutura que ele tem e como é que ele pode se estruturar tendo em vista essa realidade.

QUEM

Rogério Vieira dos Reis é superintendente da Controladoria-Geral da União no Rio Grande do Norte (CGU-RN) e auditor federal de finanças e controle. Mestre em Políticas Públicas pela International Anti-Corruption Academy (Áustria), possui especialização em Economia pela George Washington University (EUA), além de formação em Engenharia Mecatrônica pela Universidade Federal de Santa Catarina e Engenharia Elétrica pela Universität Stuttgart (Alemanha). Também atuou como instrutor do Banco Mundial, capacitando profissionais no modelo IA-CM de avaliação de auditoria interna.

Tribuna do Norte

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