Os números constam no estudo “Mercado e Impacto Econômico de Cruzeiros em
Natal”, feito pelo Sebrae-RN a pedido da Companhia Docas do RN (Codern) e
Secretaria de Estado do Turismo (Setur-RN), divulgado nesta semana. Segundo os
dados do mapeamento, Natal está atrás no fluxo de passageiros em comparação aos
portos de Recife e Maceió, por exemplo. Neste último caso, a capital alagoana
recebeu 99.446 cruzeiristas em 2023, com impacto econômico total de R$ 140
milhões. Recife, por sua vez, recebeu 27.287 cruzeiristas e movimentou R$ 38,4
milhões.
Para se chegar nesses números, foi feito um diagnóstico de 50 embarcações que
chegam no Brasil em rotas já conhecidas. Destas, 14 delas já atracaram ou estão
programadas para atracar na capital em 2025/2026, demonstrando que o destino já
faz parte de algumas rotas de cruzeiros. Além disso, 20 dessas embarcações
operam no Nordeste brasileiro, o que representa oportunidade estratégica para
ampliar a captação de novas escalas para Natal, fortalecendo sua posição no
mercado de turismo marítimo.
Além disso, o turismo de
cruzeiros tem suas particularidades e especificidades, como por exemplo a
limitação de atrativos e o tempo disponível para a realização de atividades
turísticas, ficando limitada a 6 horas, em alguns casos. Entre os atrativos indicados
estariam passeio nas dunas e city tour pelo Centro Histórico de Natal.
“Essas 14 embarcações vieram de uma maneira espontânea, não tivemos trabalho de
prospecção ativa desde que veio a pandemia, desde que perdemos a rota que era
nossa principal em 2013, que era Fernando de Noronha, por questões ambientais.
Nossa rota acabou sendo perdida e depois da pandemia houve uma queda de viagens
de cruzeiros dentro desse panorama nacional. Agora ele está voltando e com uma
força muito grande. Estamos vindo de um período de pós-pandemia e estamos agora
retomando o que perdemos baseando no que gostaríamos de trazer para o nosso
Estado”, explica Ana Raquel Pena, coordenadora do estudo e consultora de
mercado credenciada do Sebrae-RN.
Além disso, o estudo também
fez entrevistas com oito instituições/associações do turismo local, além de
agências de receptivos do Estado. Foram feitas perguntas como “Quais os
principais atrativos turísticos para o turista que chega de cruzeiros em Natal/RN
considerando suas limitações?”, “Qual o potencial para o turismo de cruzeiro em
Natal/RN?”, entre outras.
“Um dos grandes fatores da nossa pesquisa foi justamente aproveitar esse
momento para identificar nosso posicionamento futuro em função dos cruzeiros,
respeitando nossa capacidade de infraestrutura atual, no mercado potencial e de
como essa movimentação hoje mundial e das tendências e oportunidades que os
cruzeiros estão trazendo no setor do turismo”, acrescenta a pesquisadora.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou a Secretaria de Estado do Turismo
para repercutir o estudo. A pasta enviou a seguinte nota. “Os primeiros
resultados do estudo foram apresentados inicialmente à Codern, e posteriormente
ao Conselho Estadual de Turismo – Conetur, reforçando o compromisso da Setur e
do Sebrae em fomentar ações que ampliem a competitividade e atratividade do
destino Rio Grande do Norte no cenário nacional e internacional. O detalhamento
completo do estudo será apresentado em reunião técnica entre a Setur e o Sebrae
nos próximos dias, quando serão discutidas as próximas etapas e possíveis
desdobramentos das propostas levantadas”.
Potencial
O diagnóstico aponta, por exemplo, que apesar da baixa performance atual, o
Porto de Natal possui “grande potencial a ser explorado”. Entre as perspectivas
estariam a realização de reformas e aumento da capacidade operacional do
terminal, que poderia aumentar em 25x o valor atual. Essa reforma, por exemplo,
consistiria numa dragagem a ser feita no Rio Potengi, que seria uma nova bacia
de evolução para o fundeio de navios de cruzeiro. A área selecionada para essa
infraestrutura está situada na margem direita do Rio Potengi, entre a Ponte
Newton Navarro e o Farol Recife de Natal. Essa dragagem citada no estudo é
diferente da que é alvo de licitação para 2025.
Restrição histórica desse tipo de turismo em Natal, a altura da Ponte Newton
Navarro deixaria de ser um empecilho. Isso porque, com essa nova bacia de
evolução, os navios atracariam antes da ponte, com os cruzeiristas
desembarcando em terra por meio de embarcações menores. Além disso, o
comprimento máximo permitido para recepção de embarcações seria ampliado para
300 metros.
“Se eu tenho um limite na
ponte para que os cruzeiros aportem aqui, a solução foi termos uma área de
fundeio antes da ponte. Fizemos a batimetria e constatamos um volume de 900 mil
m³ de remoção para que ali tenhamos um calado a 10m e atenda exatamente os
cruzeiros.
O cruzeiro não aportaria
direto no Porto, ficaria antes da Ponte e os turistas iriam de barco, indo num
transfer. Esse tipo de operação é feita em Búzios, Ilhabela, Camboriú, ou seja,
é bem recebida pelo mercado. Não é nenhum gargalo”, explica o diretor-presidente
da Codern, Paulo Henrique de Macedo, acrescentando ainda que existe uma ideia
de se criar uma rota de cruzeiros na costa Nordeste para atrair os turistas.
O diretor-presidente da Codern acrescenta ainda que já estão sendo feitos
estudos e diagnósticos acerca dessas questões, com o intuito de viabilizar
recursos junto ao Governo Federal. “Pedimos ao Instituto Nacional de Pesquisas
Hidroviárias uma solução operacional para que pudéssemos receber grandes
cruzeiros. Fizemos a batimetria e entregamos para o INPH, e a Codern começa a
elaborar uma solução operacional para que saibamos quanto vai custar receber
grandes cruzeiros. Não adianta visualizarmos um potencial de um setor sem que
possa efetivamente mensurar isso em números e poder projetar. Para o Governo do
Estado fazer esse estudo, ele precisava de uma solução a médio prazo”,
acrescenta.
Captação e divulgação do
destino
Além das obras para ampliação
do Porto de Natal e de sua infraestrutura ao redor, o estudo sugere um trabalho
integrado de captação desses navios, além de ações de promoção e divulgação
desses destinos. “Temos, com certeza, oportunidades de trabalhar um perfil de
embarcações desse nível com a infraestrutura que temos hoje. Esse estudo
permite ter essa radiografia do que nós temos hoje e o que está deixando de ser
feito, que seria a parte de estratégia de captação de novos navios e
embarcações”, explica Ana Raquel Pena.
Segundo George Costa, coordenador da Câmara Empresarial de Turismo da Federação
do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomercio-RN), o turismo de
cruzeiros depende de toda uma conjuntura, não apenas de infraestrutura, mas
também comercial.
“Os navios de pequeno porte, que é o que temos capacidade de receber, estão se
dedicando a um turismo cada vez mais de luxo ou de grandes travessias, que são
cruzeiros de 30, 60 dias, em que as pessoas dão a volta ao mundo. Esse tipo de
cruzeiro está ficando mais raro no mercado mundial, porque os navios viraram
verdadeiras cidades, que são muito grandes e que rendem muito mais dinheiro,
porque concentra-se mais pessoas”, explica.
Ainda segundo George, grandes
cruzeiros saem de rotas como Rio e São Paulo, mas não acabam passando nem
desembarcando por cidades como Natal. “Não temos ainda força econômica e
conjunto de cidades que junte Fortaleza, com Natal, João Pessoa e Maceió e consiga
sair daqui um cruzeiro de grande porte. Esses de 3, 5 mil, a gente não consegue
fazer com que eles venham para o Nordeste neste momento pela questão
econômica”, aponta, acrescentando ainda as dificuldades estruturais existentes
no Porto.
Outro ponto que pode ser beneficiado com o turismo de cruzeiros é o Terminal
Marítimo de Passageiros (TMP Natal), que foi inaugurado em 2014 em função da
Copa do Mundo em Natal mas acabou acabou se tornando um equipamento
subutilizado com a falta de cruzeiros vindos ao Estado. O espaço custou R$ 72,5
milhões. A Codern estuda fazer mudanças internas para utilização ampla do
espaço, além de possibilidade de cessões onerosas com o intuito de ampliar a
relação “porto-cidade”.
Ícaro Carvalho
Repórter
Tribuna do Norte

Nenhum comentário:
Postar um comentário