Os últimos episódios de discriminação racial no futebol chamam a atenção para
o debate sobre mudanças na legislação para combater esse tipo de crime. A nova
Lei Geral do Esporte, que unifica a legislação esportiva brasileira, foi
publicada na última quinta-feira (15), no Diário Oficial da União, após a sanção do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, com vetos. ![]()
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Entre os trechos retirados
está a criação da Autoridade Nacional para Prevenção e Combate à Violência e à
Discriminação no Esporte (Anesporte). A instituição proposta seria responsável
por elaborar políticas de combate à violência, invasões e às diversas formas de
discriminação nas arenas esportivas.
Entre as punições que poderiam
ser imediatamente aplicadas pela própria Anesporte estava o impedimento
imediato dos suspeitos de envolvimento nesses crimes de comparecer a eventos
esportivos pelo prazo de até cinco anos.
Segundo declarações da
ministra dos Esportes, Ana Moser, o veto aconteceu por questões legais, já que
a lei teve início com um projeto de iniciativa da Comissão Diretora do Senado
Federal e a criação de órgão do Poder Executivo deve partir de uma proposta do
governo federal.
A senadora Leila Barros
(PDT-DF), que é ex-atleta e participou ativamente dos debates sobre a nova legislação, considerou que os vetos são parte do
processo legislativo, já que as regras de tramitação não permitem ao governo
federal emendas ao texto aprovado. “Em razão disso, houve a necessidade de
manter a Lei Pelé em vigor, para evitar vácuos na legislação esportiva”,
explicou Leila.
A Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) também manifestou, por meio de nota, que considera um avanço o
maior rigor e aumento das penas trazidas na nova lei, em relação aos atos de
discriminação em espaços esportivos.
“Esse tema é de extrema
importância e a CBF já havia se antecipado e revisado o Regulamento Geral de
Competições para impor penalidades mais severas.”
Mesmo sem a Anesporte, a nova
legislação traz pontos importantes para atuação das autoridades esportivas em
relação aos crimes de discriminação. No Artigo 201, que estabelece pena de
reclusão de um a dois anos, e multa para torcedores envolvidos em brigas de
torcida. O sétimo parágrafo do artigo duplica a pena para casos em que as
brigas envolvam racismo, ou infrações cometidas contra mulheres.
Sistema nacional
A LGE também prevê a criação
do Sistema Nacional do Esporte (Sinesp), que unifica as instituições
desportivas, por meio de um Plano Nacional do Esporte. A previsão é de que o
plano seja elaborado com diversidade e participação social de municípios, estados
e Distrito Federal é outro aspecto organizativo, que prevê mecanismos para
“erradicar ou reduzir as manifestações antiesportivas”.
Dentro das atribuições
previstas para as entidades participantes do novo Sinesp, descritas no Artigo
11, estão a adoção de medidas de combate à violência, corrupção, racismo,
xenofobia, homofobia, sexismo e qualquer outra forma de discriminação, uso de
substâncias ilegais e métodos tipificáveis como dopagem.
Até a regulamentação da lei,
na forma de uma instituição executora, os entes do Sinesp devem enfrentar as
mesmas limitações atuais para fiscalizar e executar as penalidades que já
existiam em leis anteriores à nova legislação, como é o caso do Artigo 158, que
trata do acesso e de permanência do espectador no recinto esportivo.
Portar cartazes, bandeiras,
símbolos, mensagens ofensivas, ou entoar cânticos preconceituosos seriam
motivos suficientes para que torcedores fossem barrados na entrada das arenas,
ou, até mesmo, retirados dos locais. Como não há uma entidade responsável para
atuar nos espaços esportivos, crimes dessa natureza precisam aguardar os
trâmites judiciais e, muitas vezes, quem os comete permanece frequentando as
arenas esportivas.
Segundo Lelia Barros, o
presidente Lula assinou um despacho para que o Ministério do Esporte encontre,
em até 90 dias, a solução legislativa para preencher as lacunas criadas pelos
vetos. “Estarei juntamente com o Ministério do Esporte trabalhando nas
respostas para garantir uma legislação esportiva justa, igualitária e eficiente”
afirma a senadora.
Agência Brasil
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