O período junino é tempo de festa e tradição, mas também é época de geração de renda para quem aproveita as características que marcam o mês de junho, como é o caso da música, da dança e da culinária típica. O autônomo Eliomar Santana, 59 anos, é um dos que se beneficiam com a chegada do São João. Há 37 anos, ele vende comidas em Natal, especialmente aquelas à base de milho, cuja procura aumenta em toda a cidade durante o mês de junho.
As comidas típicas do período junino, como canjica, pamonha e o próprio milho cozido, são o carro-chefe das vendas de Eliomar. Ele mesmo produz os alimentos com ajuda da esposa na casa onde mora, em Parnamirim, na Grande Natal, e os vende na capital potiguar diariamente. Essa é a fonte de renda da família desde 1986.
“Tem muita gente vendendo esse tipo de comida nesse período, mas também a procura aumenta. Tem pessoas que compram o ano inteiro, mas tem pessoas que só compram no São João. Então, o período junino nos ajuda, porque, pela tradição, as pessoas têm mais vontade de comprar”, disse ele.
O início das vendas começou como uma necessidade. Antes de fazer e vender comida, Eliomar Santana trabalhava como auxiliar de serviços gerais em uma fábrica de poste em Natal, mas desenvolveu uma alergia pelos produtos que usava e precisou sair. Ele lembra como se fosse hoje: desempregado e sem nada em casa, viu o filho dizer que não tinha nada para comer numa sexta-feira à noite. Angustiado, ele acordou na madrugada seguinte, pegou um carro de mão e foi até a feira, encontrou um vendedor de milho, explicou a sua situação e recebeu uma carga generosa de espigas.
Para produzir as comidas típicas juninas, Eliomar Santana preparou um compartimento no quintal de casa e também utiliza a própria cozinha. Ele acorda diariamente às 5h30 para iniciar mais um dia de trabalho. A rotina não é fácil, mas foi a alternativa que o autônomo encontrou para gerar renda.
“A vida do vendedor ambulante é que nem a do pescador: ele só tem a certeza de ir. A gente sai e não sabe se vai vender ou não. Tem dias que eu vendo tudo e tem outros que eu volto com a mercadoria para casa, no desânimo. Agradecido a Deus pelo dia, por estar com saúde, mas as preocupações porque as contas não querem saber se o comércio foi fraco ou bom”, relatou.
Eliomar Santana monta um ponto de vendas durante a semana em frente ao Vita Residencial Clube, no bairro de Pitimbu, em Natal. Lá, ele fica das 15h às 18h e quando não vende tudo ainda dá uma volta de ônibus pela cidade antes de voltar para casa. Diante da diminuição das vendas quando o período junino passa, ele diz que vai diversificar os produtos, com outros tipos de comidas.
Costureira ganha demanda de quadrilha junina
Outra autônoma que fatura nas festas de São João é a costureira Aurélia Paiva, 50 anos. Há dois anos, as roupas da quadrilha Brilho Matuto, grupo junino que se apresenta no estado, são confeccionadas por ela. O trabalho de produção das peças dura cerca de três meses, garante uma boa renda e também o orgulho da costureira.
“Tem momentos que é estressante, tem hora que dá raiva você olhar e dizer: ‘eu não aguento mais ver filó nem chita na minha frente’. Porém, no final, quando você vê a peça pronta, é uma realização, é tão lindo e como eu criei essa parceria com eles já há dois anos, eu já me sinto parte deles. Eu conheço todos os integrantes por nome, eles chegam, conversam e brincam comigo. É muito bom fazer parte, e quando a gente assiste as apresentações é que a gente diz que tudo valeu a pena”, destaca Aurélia Paiva.
Ela já trabalha com confecções há algum tempo, mas foi em 2020 que colocou a mão no tecido e passou a costurar, de fato. Aurélia Paiva trabalhou por duas décadas em hotelaria e passou a investir no ramo de confecções de peças moda praia, com serviços terceirizados. Com a pandemia da covid-19, ela saiu do setor que trabalhava e encontrou na costura uma saída.
Ela já investia em confecção e venda de roupas, mas só fazia corte de tecidos, até que decidiu também costurar. Comprou equipamentos, montou um espaço dentro de casa, na zona Norte de Natal, e se estabeleceu na área. As peças confeccionadas eram de moda praia e brindes, até que veio a demanda do São João.
“Eu comecei fazendo uns aventais, uns brindes personalizados para o pessoal da hotelaria, até que veio um rapaz que fazia parte da quadrilha fez um serviço aqui na minha casa, viu as máquinas e me perguntou se eu gostaria de fazer as roupas”, recorda.
A parceria deu certo. No ano passado, a quadrilha venceu oito dos 14 festivais que disputou. Para Aurélia, é um valor que não se paga acompanhar as apresentações depois de todo o trabalho.
Neste ano, foram confeccionadas 72 roupas, para 36 casais da quadrilha, e bolsas para guardar as peças. A demanda fez com que a costureira contratasse máquina extra, uma costureira - que faz parte do grupo junino - e também envolveu a família na produção.
“Esse período é muito importante, gera uma boa renda e não só para mim, para todo o comércio. Eu aluguei uma máquina, contratei outras pessoas, os próprios comerciantes que vendem e até os motoboys que a gente pede para pegar algum material. Gira muito dinheiro e forma uma cadeia econômica muito boa”, frisa.
Trio têm 90% das apresentações no período
Festas juninas têm um ritmo
definido. É a época do ano em que o forró pé de serra contagia o público e gera
renda para bandas do gênero. É o caso dos Direitinhos do Forró, trio formado
por Cleriston Lopes (triângulo), Gustavo Henrique (zabumba) e Portela
Sanfoneiro (sanfona), que se apresenta nas comemorações de São João em Natal.
“90% dos nossos shows são no São João. Em junho e julho, a gente chega a dispensar inúmeras festas. Estou recebendo chamados me perguntando sobre dia 23, 24 e 25 agora e não tem vaga. Eu digo muito que se eu tivesse dez sanfoneiros, seria rico no mês de São João”, disse Cleriston Lopes.
O músico diz que se apresentar no São João tocando forró pé de serra é, antes de tudo, algo prazeroso e que faz lembrar um pouco do interior. Foi de maneira recreativa que o trio de amigos começou com os shows, há oito anos. Cada um tem projetos diferentes ao passar do ano, mas o mês de junho é o ponto encontro para a música.
Junto ao gosto em se apresentar vem também uma boa renda no período. A maioria dos shows contratados são festas particulares, de empresas, de condomínios e aniversários que ajudam a pagar as contas do trio de forró, conforme brinca Cleriston Lopes. “Eu costumo dizer que esses shows são um 13º salário à parte”, afirmou ele.
Os shows do forró autêntico, como diz o músico, é uma forma de manter a tradição de um ritmo que está intrinsecamente ligado às festas juninas. Ele reforça que o forró pé de serra, o xote e o baião não são tocados por acaso no período e que o trio canta assim não pelo dinheiro, mas por essa ser a marca dessa época do ano.
Fomento à Economia Criativa
O gestor de Economia Criativa do Sebrae/RN, Ítalo Bruno Alves, diz que o período junino impacta direta e indiretamente na região no meio do ano. Ele menciona uma pesquisa do Instituto Itaú Digital que aponta que os chamados empreendedores criativos registram um aumento médio de 20% em faturamento por causa do São João.
"Muita gente se agarra nessas épocas do ano onde se tem um aumento significativo das vendas. A gente tira o São João como recorte, mas tem, por exemplo, o Natal e o Dias das Crianças. Tem determinados nichos, como a gente chama, os os empreendimentos esperam muito esse período para fazer um movimento de caixa melhor. Nós utilizamos estratégias para dar esse tipo de orientações, com oficinas e de outras alternativas, como o edital de Economia Criativa", explica o gestor do Sebrae.
O edital de Economia Criativa do Sebrae contemplou 111 projetos neste ano, divididos em dez temáticas, em que cada um deles recebeu aporte de R$ 10 mil a R$ 15 mil. Dentre as iniciativas, havia projetos com foco no São João.
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