Os familiares relatam alívio
pelo fim da peregrinação atrás de filhos, primos e netos, mas também indignação
com a tragédia.
Grávida de poucos meses,
Karine Beatriz de 26 anos, esteve no IML para reconhecer o corpo do esposo,
Wagner Nunes Santana, pai de seu bebê, após três dias de busca na mata. Na
sexta, ela contou que ele foi retirado de dentro de um lago na Serra da Misericórdia,
na Penha.
"Após três dias de buscas
consegui localizar o corpo, mas alívio eu só vou ter com repostas para as
perguntar que não vão calar: "de onde vem pena de morte, se existe
presídio, presídio é apenas enfeite? Até quando vai isso? ", questionou o
governo, sobre a alta letalidade das operações no Rio, nos últimos anos.
"Temos crianças assustadas, uma comunidade abalada, é muita dor",
desabafou.
Ela contou que, independente
das razões que levaram o esposo para o crime, o companheiro era um pai de
família, trabalhador, responsável pelo sustento da casa e o cuidado.
"Independente dos erros
dele, ele era trabalhador, era família, semana passada, estava ajudando a
erguer uma casa na comunidade, ajudou a fazer o 'cabelo maluco' da minha filha.
Tenho uma filha de 9 anos, que não era filha dele e ele fez o cabelo dela para
escola, levou para brincar, sabe, são momentos que não vão voltar,"
explicou.
O corpo de Wagner foi retirado
de um lago com um tiro na testa, segundo Karine. A polícia não esclareceu as
circunstâncias do assassinato. Ela, conta que esteve desde os primeiros dias na
mata e também denuncia execuções na ação.
"Eles não vieram prender
ninguém, eles foram para matar. É até mesmo quem se entregou, eles mataram. Eu
procurei, desde o primeiro dia, eu procurei um por um. Não sei o que fizeram,
mas enterro vai ter de ser caixão fechado", relatou.
De acordo com o balanço mais
recente sobre a Operação Contenção, de sexta-feira, 99 pessoas já tinham sido
identificadas pelo IML. Do total, 42 tinham mandado de prisão pendente e
78 tinham envolvimento com o crime. 13 eram oriundos de outros estados, como
Pará, Bahia e Amazonas, além de Ceara, Paraíba e Espírito Santo.
O governo do Estado justificou
a operação como forma de conter a expansão do Comando Vermelho, mesmo que não
tenha conseguido cumprir os mandados contra os principais chefes da facção.
Segundo a nota enviada à imprensa, as investigações indicavam que integrantes
do grupo recebiam instruções em armamento, tiro, uso de explosivos e táticas de
combate nas localidades visadas.
O trabalho também revelou que
o fluxo de caixa da facção nessas áreas movimentava cerca de 10 toneladas de
drogas por mês. "Tanto o Alemão quanto a Penha serviam como polos de
abastecimento, distribuindo drogas e armas para outras comunidades controladas
pelo grupo criminoso".
Apesar dos questionamentos
sobre a eficácia e os custos da operação para a cidade do Rio, que parou na
terça-feira, mas não conseguiu prender os principais chefes do crime e retomar
o controle do território, pelo Estado, ao lado da alta letalidade, o governador
Cláudio Castro defendeu a ação:
"Tendo em vista estes
resultados, a gente vê que o trabalho de investigação e inteligência foi
adequado, todos perigosos e com ficha criminal. Também, pela identificação das
origens desses 'narcoterroristas', reforço a importância da integração com os
estados. Em breve, vamos entregar os relatórios completos para as autoridades
competentes", disse o governador Castro, em nota, ontem.
Agência Brasil

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