No lugar de uma simples ração
e banho tradicional, pets do Rio Grande do Norte cada vez mais têm à disposição
sessões de cromoterapia, massagens relaxantes e até água purificada. Em alguns
endereços da cidade, a rotina dos animais de estimação se parece cada vez mais
com a de um spa de luxo, e empreendedores têm enxergado nisso uma oportunidade
de abrir novos negócios, aumentar o faturamento e gerar empregos.
Conforme dados do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV/RN) no
relatório de 2024, a arrecadação do mercado pet apresentou um aumento de 11% e
93 novas empresas foram abertas no estado. Na avaliação da consultora do
Sebrae/RN, Renata Montenegro, cada vez mais as pessoas estão dispostas a gastar
com seus bichos de estimação: “Hoje em dia, o pet é tratado, realmente, como um
membro da família, deixou de ser aquele animal que ficava ali na área de casa,
no quintal de casa”.
Segundo a consultora, o segmento de serviços de luxo está em expansão. A
exemplo disso, os serviços de “banho e tosa” cada vez mais se apresentam como
“centro estético”, com tratamentos terapêuticos e até “cronogramas capilares”
com hidratação e nutrição de pelos. “Hoje em dia, as linhas de produtos de Pet
Shop estão se especializando para cumprir um cronograma capilar. E isso vem
crescendo muito em Natal”, disse Montenegro.
Suelen Viana, proprietária do PetZen & Spa, localizado no bairro de Lagoa
Nova, administra um espaço que funciona como centro estético para animais, além
de oferecer serviços veterinários, consultas e centro cirúrgico. No local, os
pets têm acesso à água aquecida, aromatizantes e sessões de cromoterapia —
técnica de banho com luz azul que ajuda a acalmar os animais. “Eles já estão
num ambiente desconhecido, um ambiente que não é do habitat deles. Então, essa
luz fornece esse processo de calma, de tranquilidade, além de ter ação
bactericida”, explica Suelen.
A água utilizada nos banhos é purificada para não agredir a pele dos animais.
“A gente tem um filtro que faz a limpeza dos elementos químicos da água
fornecida pela Caern. Assim, eles tomam banho com uma água com teor mais
purificado, até por conta da diferença de pH da pele, para não agredir”,
detalha.
Suelen Viana, do PetZen & Spa,
oferece água aquecida, aromatizantes e sessões de cromoterpia. “Pets são
filhos”, diz| Foto: Alex Régis
Segundo Suelen, a humanização dos serviços para pets tem gerado um ticket médio
de R$ 90,00. “Eu pesquisei muito no mercado. Pensei: o que é que a gente
poderia trazer de diferencial? E aí pensei: por que não trazer isso que a gente
oferece para os humanos também para os animais?”, relata.
Suelen Viana observa que serviços de luxo têm potencial para crescer no mercado
em Natal. “Hoje, eu tenho clientes fiéis que não trocam o que oferecemos por
serviços mais baratos. O diferencial é conhecido e valorizado, e eles querem
proporcionar isso aos seus pets.” Em média, o estabelecimento recebe de 10 a 12
clientes por dia.
Até a forma como os animais de estimação se alimentam tem movimentado a
economia no setor. Boa parte dos tutores passou a buscar rações premium,
preocupando-se com a qualidade e o valor nutricional do que oferecem. “O tutor
tenta oferecer hoje em dia uma alimentação de qualidade. Hoje em dia, existe a
especialidade dentro da veterinária, que é o nutrólogo. Então, existem
orientações na parte de alimentação”, revela Renata Montenegro.
As alimentações caseiras também vêm ganhando espaço no mercado. As chamadas
“marmitas saudáveis para pets” se tornaram uma alternativa procurada por
tutores que desejam oferecer refeições naturais.
Oportunidade de negócios e de
trabalho
O mercado pet em Natal não só
movimenta recursos, como também tem gerado novas oportunidades de trabalho.
Novas profissões vêm se consolidando nesse setor, como a de pet sitter — ou
seja, babá de animais. A função é semelhante à de uma babá de humanos: brincar,
cuidar, administrar medicamentos quando necessário e garantir o bem-estar do
pet quando os “pais” não podem estar presentes.
Outra tendência é o dog walker, profissional responsável por levar os animais
para passeios regulares.
É o caso de Bruna Muniz, que atua como pet sitter e dog walker e, há um ano,
decidiu abrir a empresa “Pet Cuidado”, oferecendo serviços personalizados para
animais de estimação.
Assistente social por formação, ela encontrou no mercado pet uma oportunidade
de empreender, ter flexibilidade e gerar renda própria. “Eu peguei uma gatinha
pra criar e quando eu ia visitar minha família [em Pernambuco], não ia ter com
quem deixar. Eu não conhecia muita gente aqui, e sempre era um problema, assim,
ter com quem deixar ou pedir pra alguém um favor, e ficava naquela preocupação
de… Será que a pessoa tá cuidando bem?”. Observando essa necessidade, a pet
sitter resolveu empreender em uma profissão ainda recente no ramo.
As visitas têm valor médio de R$ 60,00, podendo variar conforme a quantidade de
pets e dias contratados. Bruna observa que cada vez mais tutores preferem uma
babá de pet em vez de hospedar os animais em hotéis. “Você sabe que a pessoa
tem técnica e pode confiar. O pet fica sem exposição a doenças, minimiza
riscos, permanece no próprio ambiente, com seus brinquedos e rotina, o cheiro
do dono”, explica.
Até o final de 2024, o CRMV-RN possuía cadastro de 3.307 empresas no setor pet,
onde 1.170 delas estavam ativas. A consultora Renata Montenegro revela que os
empreendedores devem aproveitar as tendências do mercado e capacitar os
profissionais: “o que a gente busca realmente são políticas de apoio a micro e
pequenos negócios, como a capacitação de gestão de marketing e marketing
digital”.
Também é necessário estar atento ao perfil do consumidor de serviços de pet
luxo. “São tutores altamente exigentes. Eu digo assim, que eles tratam como um
filho e trazem também um alto nível de exigência”, destaca.
Novos arranjos de família
incluem pets
Em Natal, a creche Zoe Pet Spa
acompanha a tendência de humanização dos pets, oferecendo recreação e descanso
para os hóspedes de quatro patas. Até o deslocamento dos animais está entre os
serviços, por meio do “táxi dog”, que busca e devolve o pet à casa do tutor. “A
gente pega na casa do tutor de manhã, realiza todas as atividades com ele,
muitos já tomam banho e voltam para casa cheirosos, com o gasto de energia
física e mental. Então, chegam em casa, jantam e dormem tranquilos”, explica
Kelly Teixeira, proprietária.
Kelly observa que os tutores estão dispostos a investir cada vez mais nos pets,
já que os consideram membros da família. “O valor da creche da minha filha é
quase o valor da creche que eu pago aqui”, comenta.
A forma como os cães são vistos pelos humanos mudou ao longo dos anos. “Na
época em que conheci o mundo pet, que era dos meus avós, o cachorro vivia no
quintal e servia apenas para proteger a casa. Hoje, os pets são filhos”,
explica Kelly. No Zoe Pet Spa, os animais recebem atenção semelhante à
oferecida em creches para crianças.
O bem-estar mental dos pets também é prioridade: “Tem dias em que alguns estão
tranquilos e outros dias em que estão estressados e não querem brincar”.
Para Kelly, a humanização do cuidado permite que os pets resgatem
comportamentos naturais e essenciais do mundo animal. Para isso, os animais
podem farejar, socializar com outros pets de mesma tipologia e até ‘caçar’ o
alimento durante o enriquecimento ambiental que é oferecido.
O ticket médio do estabelecimento varia conforme os serviços. O ticket médio é
de R$ 75,00 na creche. E no serviço de hospedagem em hotel o ticket sobe para
R$ 112,00.
Além dos cuidados físicos e recreativos, os tutores recebem relatórios
detalhados sobre o dia dos pets. Pela manhã, é enviado um registro sobre a
primeira atividade e o comportamento do animal. À tarde, o relatório informa
sobre o restante das atividades e o momento da entrega. Nos casos de
hospedagem, é incluído ainda um relatório noturno, detalhando se o pet se
alimentou, se está relaxado ou se necessita de alguma atenção especial.
Para Renata Montenegro, os tutores preferem pagar mais caro em serviços de
maior qualidade e segurança. “Numa situação que você envolve um animal, os
tutores, realmente, saem do prumo, ficam transtornados. São tutores com alto
poder de exigência. E exigem, realmente, profissionais qualificados e
capacitados para atender essa demanda”, explica.
O aumento no número de lares com animais de estimação tem relação direta com
mudanças no comportamento econômico. Muitos casais têm optado por não ter
crianças e direcionam seus investimentos para os pets. “Essa tendência tende a
crescer cada vez mais ”, observa.
Ananda Miranda/Repórter
Tribuna do Norte

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