Em 2025, somente até setembro, foram realizadas 38 missões aeromédicas entre transportes de pacientes e de órgãos. Serviço salva vidas de potiguares| Foto: Magnus Nascimento
O transporte aeromédico tem encurtado distâncias e salvado vidas no Rio Grande do Norte. De vítimas de acidentes em rodovias a pacientes em situação crítica, o serviço garante agilidade no atendimento e apoio a emergências em todo o Estado. A operação envolve o Centro Integrado de Operações Aéreas (CIOPAER), Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, SAMU e a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap). Em 2025, somente até setembro, foram realizadas 38 missões aeromédicas entre transportes de pacientes e de órgãos, ultrapassando o quantitativo de 29 acumulado nos 12 meses do ano passado.
“O CIOPAER é uma unidade, como o próprio nome diz, um Centro Integrado de
Operações Aéreas. Apesar de subordinado à Secretaria de Segurança, a gente tem
uma série de convênios com outras secretarias. Colocamos à disposição o
equipamento aéreo e toda a nossa estrutura”, explica o tenente-coronel William,
subdiretor do CIOPAER. “Hoje contamos com duas aeronaves, um tanque abastecedor
e, em breve, um segundo tanque. Não temos suporte aeronáutico no Estado, apenas
em Natal e, em ocasiões excepcionais, em Mossoró”, detalha.
A unidade funciona como um braço logístico da segurança pública e da saúde
estadual, suprindo uma lacuna na cobertura aérea de emergências. Além de
operações policiais e de resgate, o CIOPAER atua em missões de transporte
aeromédico e na captação de órgãos para transplantes. O convênio com a Sesap é
formalizado por meio de um Termo de Descentralização de Crédito Orçamentário
(TDCO), que transforma uma das aeronaves em unidade de suporte em parceria com
o Samu.
“O helicóptero é utilizado pela Secretaria de Saúde para dois tipos de
operação. Uma é o transporte inter-hospitalar, que o Samu regula conforme a
gravidade do paciente. A outra é o apoio à Central de Transplantes, levando
equipes médicas para captar órgãos nos hospitais do Estado e, às vezes, em
outros estados do Nordeste”, detalha William. Entre os locais já contemplados
estão Recife/PE, João Pessoa/PB, Campina Grande/PB e Fortaleza/CE.
A coordenadora da Central Estadual de Transplantes da Sesap, Rogéria Nunes,
explica que o serviço conta não apenas com o apoio do CIOPAER, mas também com a
parceria do Sistema Nacional de Transplantes e das companhias aéreas
comerciais. Essa rede garante o transporte gratuito de órgãos captados em
qualquer estado do país, respeitando os critérios da fila de doação.
“Essa parceria com a Sesed proporciona ao Centro Estadual de Transplantes que
equipes cheguem a hospitais em lugares mais remotos do Estado. O que o Estado
precisa, principalmente, é manter uma aviação aérea que permita o transporte
com segurança de pacientes, tanto dentro do Estado ou com capacidade de voo
mais prolongada para Estados vizinhos”, considera Rogéria.
O CIOPAER é composto por policiais militares, bombeiros e civis que formam uma
equipe multimissão. “Realizamos missões de segurança pública, operações
policiais, combate a incêndios, resgates aquáticos, transporte de vítimas e de
órgãos para transplante”, explica o sargento Emerson, piloto da corporação.
Integrando a corporação desde 2018, o sargento conta que os desafios são
constantes. “A atividade aeronáutica em si já é complexa, e, somando à de
segurança pública, adicionamos mais uma camada de responsabilidade. São duas
variáveis exigentes. E o transporte aeromédico é ainda mais desafiador porque o
tempo é determinante, especialmente em transplantes, quando o órgão tem um
tempo de isquemia”, destaca.
As missões envolvem planejamento rigoroso e, muitas vezes, decisões em minutos.
Emerson lembra que uma das situações mais marcantes foi o transporte de
múltiplos órgãos, como rins, fígado e córneas, realizado recentemente. “Você
participa de um processo que transforma um evento trágico, que é a morte, em
algo muito bom, a oportunidade de vida para outras pessoas. Isso é muito
gratificante. Quando o helicóptero pousa e o órgão ou o paciente chega com
segurança, o sentimento é de alívio e gratidão”, conta.
Dentro da aeronave, operadores aerotáticos atuam diretamente na segurança e no
resgate direto das vítimas. O sargento Muniz, que atua no CIOPAER há cinco
anos, explica que o operador aerotático é responsável por permanecer na porta
da aeronave, identificar obstáculos, realizar nós e descidas de rapel, além de
localizar vítimas em situações de afogamento, altura ou áreas de difícil
acesso. Também auxilia nos primeiros socorros, contribuindo para a
estabilização da vítima até a chegada do atendimento médico especializado.
O sargento Pinheiro, também operador aerotático, acrescenta que o preparo
emocional é tão importante quanto o técnico. “O emocional vai a mil a cada voo.
A gente treina todos os dias para estar pronto quando a ação real acontece. O
lema é combater, proteger e salvar”, conta Pinheiro. “Recentemente, fizemos o
resgate de uma criança de 12 anos que caiu de nove metros. Trouxemos a mãe
junto, e ver o desespero e a esperança dela é algo que marca. Mesmo sem
conhecer o paciente, só o fato de ajudar uma vida já vale”, relata Muniz.
Corpo de Bombeiros se prepara
para operar UTI
Enquanto o CIOPAER mantém o
protagonismo das missões aeromédicas no Estado, o Corpo de Bombeiros Militar do
Rio Grande do Norte (CBMRN) avança na implementação do seu próprio Grupamento
de Operações Aéreas (GOA). O serviço, criado pelo Decreto nº 32.450 de 7 de
março de 2023, prevê a operação de aeronaves de asa fixa voltadas ao transporte
aeromédico e de emergência.
Coronel Monteiro, dos Bombeiros, diz
que corporação vai operar aeronaves com UTI| Foto: Magnus Nascimento
“O Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte está implementando o
serviço aeromédico, mas ainda não está operacionalizado. Já temos ele criado
por decreto e duas aeronaves, com possibilidade de uma terceira”, explica o
comandante-geral, coronel Monteiro. “Temos cinco pilotos em formação e um
convênio com a Secretaria de Saúde que vai possibilitar a configuração de uma
dessas aeronaves como UTI aeromédica em tempo integral. Essa é a maior
necessidade para o transporte de longas distâncias”, relata.
O modelo de asa fixa possibilita voos mais longos e contínuos, superando as
limitações dos helicópteros, que são voltados a deslocamentos de curta
distância. Monteiro explica que, enquanto os helicópteros precisam ser
constantemente reconfigurados para diferentes tipos de missão, a UTI aérea do
Corpo de Bombeiros será dedicada integralmente a esse tipo de operação. Segundo
ele, o CIOPAER e o novo agrupamento funcionam de forma complementar,
representando estruturas distintas, mas igualmente essenciais para o
atendimento aeromédico no Estado.
Até o momento, o Corpo de Bombeiros já realizou missões em parceria com o
serviço aeromédico da Paraíba e conta com o apoio técnico do Corpo de Bombeiros
de Santa Catarina, referência nacional. “Há muitos corpos de bombeiros no
Brasil que já têm esse serviço. Por não termos, às vezes não se percebe sua
importância, mas, quando se implementa, ele se torna indispensável. Uma única
ocorrência já justificaria”, destaca.
Entre as aeronaves que farão parte do grupamento, estão um Baron, doado pelo
Corpo de Bombeiros de Santa Catarina, e um Bandeirante, cedido pelo Gabinete
Civil do Estado, que será configurado como UTI aérea. “O Baron já está em
condições de voo e vai para pintura. O Bandeirante está em Minas Gerais
finalizando a manutenção”, informa Monteiro. O plano é que o GOA entre em
operação plena no primeiro semestre de 2026. A aeronave principal permitirá
transportar pacientes e familiares, além de servir a outras missões, como
transporte de órgãos, vacinas e tropas.
O Corpo de Bombeiros também pretende integrar suas ações ao sistema de
regulação da Sesap, ampliando a resposta conjunta com o Samu. “Nosso suporte
básico atua nas áreas quentes, que são os locais de risco onde o Samu não
entra, como acidentes com vazamento de combustível. Retiramos a vítima e
entregamos ao Samu. Agora, com o agrupamento aéreo, poderemos atuar em conjunto
desde o resgate até o transporte”, afirma Monteiro.
Com a criação do GOA, o Estado passará a ter estrutura completa de transporte
aeromédico, com helicópteros e aviões sob gestão das forças de segurança. A
expectativa é que, até 2026, o Rio Grande do Norte tenha plena operação para
configurações para UTI aérea e missões de emergência, garantindo mais rapidez e
salvando ainda mais vidas.

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