Líder na geração de energia
limpa no Brasil, o Rio Grande do Norte se prepara para dar um próximo passo na
transição energética: uma legislação para licenciar os sistemas de
armazenamento de energia em baterias, os chamados BEES (Battery Energy Storage
System) A informação foi repassada pelo secretário-adjunto de Desenvolvimento
Econômico, Hugo Fonseca, à TRIBUNA DO NORTE, que confirmou que o texto está
sendo viabilizado para ser enviado ao Conselho Estadual do Meio Ambiente
(Conema). Na semana passada, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)
divulgou orientações para empresas interessadas em requerer instalação desses
sistemas. Para especialistas e interlocutores do setor energético, o
armazenamento em baterias pode dar mais equilíbrio no sistema e diminuir os
chamados “curtailment”, ou seja, os cortes de energia quando a produção excede
a demanda ou a capacidade de transmissão da rede elétrica.
“Estamos para lançar uma resolução para o Conema específica para licenciamento dos BEES (baterias). As empresas estão fazendo a licença de operação, operando as licenças que atualmente já são existentes. Mas como a tendência é que se tenha essas BEES aumentando nos próximos anos, com maiores números de armazenamentos, precisaremos de licenciamentos mais específicos. Para isso a Sedec, junto com o Idema, vamos encaminhar para submissão ao Conema em que ele vai votar a data para aprovação dessa resolução. Isso vai permitir que o Estado possa licenciar conjuntos de baterias de armazenamentos superiores a 30MW de potência”, explica o secretário-adjunto Hugo Fonseca. A resolução é feita em conjunto com o Idema e é inédita no país, segundo Fonseca, que acrescenta que as resoluções encaminhadas ao Idema também englobam uma outra resolução sobre projetos de Hidrogênio Verde.
“O BEES permite que a energia
gerada nos parques excedentes, tanto eólico, solar ou hidrelétrica, ela possa
ser armazenada em baterias e, no período de maior consumo, você jogar essa
energia no sistema elétrico. Ele tem uma grande vantagem: nos momentos de baixo
consumo de energia no sistema e maior geração, podermos estocar essa energia e
comercializá-la no momento de maior consumo”, explica Hugo Fonseca,
acrescentando que o movimento pode gerar emprego e renda para o Estado.
Para Sérgio Azevedo,
presidente da Comissão Temática de Energias Renováveis da Federação das
Indústrias do RN (Coere/Fiern), as orientações da ANEEL permitem que o setor
comece a “desenhar um caminho concreto”, a partir de orientações sobre conexão,
licenciamento e outros requisitos técnicos.
“Pode aproveitar melhor nosso
sol e vento, usando o armazenamento para deslocar energia para os momentos de
maior demanda. Vai melhorar a estabilidade do sistema elétrico, especialmente
em regiões com redes mais frágeis. Pode atrair empresas que dependem de energia
contínua — como os data centers — e, com isso, impulsionar investimentos em
tecnologia, geração de empregos e fortalecimento da cadeia produtiva local”,
explica.
Azevedo cita ainda que a
iniciativa por parte do Estado para licenciamentos é “positiva e necessária,
desde que bem feita”. “Ter uma norma estadual ajuda o investidor a saber o que
esperar localmente, complementando a regulação federal. Também é importante que
traga estímulos reais — como incentivos fiscais, prazos claros e processos de
licenciamento mais simples e objetivos”, cita.
Para o presidente da
Associação Potiguar de Energias Renováveis (Aper), Williman Oliveira, a
expectativa é que a instalação de sistemas para armazenamento de energia em
baterias tenha “normativas corretas para agregar ao sistema oferecendo
segurança e uma ótima opção para tantos problemas quanto ao escoamento
programado de energia na rede ou do próprio uso in loco”.
“Porém, só essas medidas não
são suficientes. O governo federal precisa incentivar a aplicação de banco de
baterias. E só diminuindo os impostos de produção que isso poderá, de verdade,
acontecer”, explica.
O presidente do Conselho
Estadual de Meio Ambiente (Conema), Paulo Varella, disse que o colegiado está
aguardando o Idema atender às diligências da Procuradoria Geral do Estado (PGE)
para pautar o tema. Segundo informações da assessoria de comunicação do Idema,
a coordenadoria de Meio Ambiente informou que já está trabalhando nas
diligências da PGE e espera enviar retorno ao Conema ainda nesta semana.
Para Marcello Cabral, diretor
de Novos Negócios da ABEEólica, a medida da Aneel ocorre num momento
“estratégico” e “delicado” para o sistema elétrico brasileiro. “Precisamos
também ter sistemas de armazenamento preparados para poder aproveitar a demanda
em que temos um baixo consumo de energia na rede e, o contrário, quando
tivermos um alto consumo essa demanda ser injetada na rede”, explica.
Leilão
O Governo Federal planeja
realizar, no início de 2026, o primeiro leilão exclusivo de baterias de
armazenamento de energia do país. A demanda prevista é de 2GW, segundo o
ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
A portaria com as regras deve
ser publicada até dezembro deste ano, com expectativa para o leilão ocorrer até
o primeiro trimestre de 2026. As regras e prazos para implantação dos projetos
ainda serão definidos em conjunto com a Aneel e o Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS).
O objetivo do leilão é
contratar projetos de armazenamento de energia elétrica em alta escala,
permitindo armazenar energia gerada por fontes intermitentes, como solar e
eólica, liberando essa energia em momentos de alta demanda.
“O objetivo desse leilão é que
as empresas que já são geradoras de energias, que já tenham sistemas, sejam
eólicos, solar já instalados, possam colocar essas usinas de armazenamentos de
energias nesse conjunto de baterias, que são módulos compactados em conteineres,
normalmente, permitindo-se armazenar essa energia durante o dia”, explica Hugo
Fonseca, adjunto da Sedec-RN.
Cortes de energia podem
diminuir
O uso de armazenamento de
energias em baterias pode ser uma das soluções para frear o desperdício de
energia que atinge o setor elétrico brasileiro. É o que apontam especialistas
do segmento. O Rio Grande do Norte é o segundo estado, entre os que têm maior
geração de eletricidade no Brasil, mais afetado por cortes de geração de
energia em 2025. No acumulado até agosto, as interrupções na produção das
usinas eólicas e fotovoltaicas do RN somaram 4,99 milhões de megawhatts-hora
(MWh), o que representa 25,43% das perdas totais do país.
“A geração de energia não
precisará mais coincidir com o consumo — parte dela poderá ser armazenada e
utilizada nos momentos críticos. As baterias vão ajudar a equilibrar a rede,
responder a picos e estabilizar tensão e frequência. Isso também ajuda a combater
o curtailment — os cortes forçados na geração renovável quando a rede não
consegue absorver toda a produção. Com o armazenamento, parte desse excedente
deixa de ser desperdiçada”, explica Sérgio Azevedo, presidente da Coere/Fiern.
“Além disso, surgem novos modelos de negócio: “armazenamento como serviço”,
contratos flexíveis e integração com data centers e microrredes”, acrescenta.
Tribuna do Norte
Nenhum comentário:
Postar um comentário