domingo, 19 de outubro de 2025

“Precisamos rever a forma de enxergar a atividade”, diz Maurício Velloso

O ambiente é favorável para a gente encontrar soluções em conjunto. Nada tem uma receita de bolo pronta e exclusiva.”| Foto.Magnus Nascimento

Você acredita que há uma certa dificuldade de unir a prática tradicional com esses tempos da Inteligência Artificial?

Existe sim uma dificuldade das pessoas se desvincularem de todas as verdades que nos trouxeram até aqui. A bem da verdade, a pecuária, não apenas a potiguar, mas a pecuária de todo o Nordeste, por que não dizer de todo o Brasil, é uma pecuária quinhentista. Nós estamos prestes a fazer 500 anos de pecuária. Durante praticamente todo esse tempo, a pecuária deu dinheiro sem que fosse preciso fazer qualquer coisa. A pecuária era uma reserva de valor e com o tempo, com a valorização das terras, com a ocupação total do Brasil, esse negócio, que era negócio fácil, simples, que não demandava nem conhecimento e nem competências, se modificou e se transformou de reserva de valor para um bem de produção. Ou seja, ele exige produtividade e giro. Isso, de fato, pega as pessoas desacostumadas a esse tipo de gestão. Isso, sim, é uma coisa que incomoda, é alguma coisa que prejudica. Porque a bem da verdade, ela causa o quê? Prejuízo. O produtor, o pecuarista, ele deixa de auferir os lucros fáceis que teve até muito poucos anos.

O Brasil poderia estar em um ranking bem superior no cenário internacional?

O Brasil já ocupa um lugar extraordinário no ranking internacional, mas é muito importante que não a pecuária seja grande. É importante que o pecuarista seja grande. Quando eu digo que seja grande, que ele seja rentável. É para que ele esteja satisfeito e rentável dentro da sua atividade, porque eu costumo dizer, que não existe uma pecuária verde sustentável para quem está no vermelho. O verde depende necessariamente de que todos nós estejamos no azul. E essa é a grande proposta que a gente traz aqui. É fazer com que todos compreendam que tudo que nos trouxe até aqui não será o que irá nos levar aos próximos anos. Pecuária do futuro, ora, o futuro acabou de acontecer, ele está acontecendo a todo momento e nós precisamos rever o nosso comportamento, as nossas atitudes, a nossa forma de nos enxergar, de enxergar a atividade que fazemos e mais do que isso, a atividade para onde iremos nos dirigir para esse novo mercado, essas novas exigências e essas novas competências, que é saber aplicar todo o conhecimento necessário, adequado a cada realidade, de cada propriedade, de cada objetivo. O ambiente é favorável para a gente encontrar soluções em conjunto. Nada aqui tem uma receita de bolo pronta e exclusiva. Cada propriedade é uma realidade, e nós precisamos e, vamos, encontrar juntos uma solução adequada.

Quais são as ferramentas dessas novas habilidades ou algum um case de sucesso?

Eu posso dizer vários. A gente frequentemente vê o pecuarista se queixando dos baixos valores, seja da reposição, seja, da arouba, seja do valor da carne. Há muito pouco tempo, nós tivemos uma queda bastante acentuada no valor da carne e onde a arroba esteve abaixo dos 200, 180, 170 reais e as pessoas enlouquecidas e o pessoal dizia: agora, a pecuária acabou, não tem mais jeito, saímos do ramo. E eu posso lhe dizer o seguinte, que você deve estar com custo de produção fora da caixinha. Por que eu digo isso? Porque nós temos cases onde a arroba produzida, aquela colocada no gado, custou entre 95 e 130 reais. Quer dizer, se você está com uma arroba consolidada dentro do seu sistema de produção, entre 95 e 130 reais, se a arroba chegou no fundo do poço a R$ 170, você ainda estava ganhando dinheiro e ninguém quebra por ganhar pouco dinheiro, a gente quebra pelos prejuízos que tem. Então, esse controle de produção, de custos da produção, dá para a gente saber que cada etapa no processo de criação pecuária precisa ser analisada individualmente, cria, recria e engorda, e você precisa ser bom em todas elas, você precisa saber o quanto que isso está lhe custando, você precisa saber que cada despesa, cada desembolso, precisa corresponder a um payback, ou seja, a um retorno para que aquele desembolso seja necessariamente investimento. Não pode ser gasto. Tudo precisa ter um retorno, e esse cuidado, esse controle diário, minucioso, é o que vai conseguir fazer com que você tenha bons resultados e, claro, sabendo utilizar todas as ferramentas disponíveis, adequadas. Eu gosto muito da palavra ‘customizadas’, que é justamente a adequação ao seu objetivo, à sua realidade, à sua capacidade de gestão e às suas condições de solo e de clima. Mas é preciso que isso seja usado de forma concomitante, é um conjunto, é uma caixa de ferramentas, não é um alicate salvador. É toda uma caixa de ferramentas adequada à sua necessidade. Essa é a grande sacada.

Tribuna do Norte

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