O seminário Motores do
Desenvolvimento – Agronegócio, realizado nesta sexta-feira (10), dentro da
programação da 63ª edição da Festa do Boi, revelou inovações e soluções
estratégicas que vem sendo adotadas no setor agropecuário potiguar. Na palestra
“A Nova Pecuária Brasileira”, o engenheiro agrônomo e pecuarista Maurício
Velloso, presidente da Associação Nacional de Confinadores, destacou que o
grande desafio é a transição da “velha pecuária” para a nova abordagem do setor
com o advento da tecnologia.
“Todas as velhas certezas acabaram. Agora, a pecuária segue por novos caminhos. E não se trata apenas de produzir gado, mas de produzir gado de qualidade”, afirmou Maurício Velloso. Em sua apresentação, ele trouxe uma análise dos desafios da agropecuária, com foco em soluções específicas para o país e para o estado e ressaltou que o propósito do Rio Grande do Norte deve ser a inovação na área da pecuária, valorizando as características próprias da agricultura potiguar sem comparações externas. “As soluções são internas e existem. O RN não é diferente do resto do Brasil em relação às diferentes características culturais”, disse.
Maurício Velloso destacou que
o estado possui mais de 1,1 milhão de cabeças de gado e listou pontos positivos
que apontam para um potencial significativo de desenvolvimento local, apesar de
ter 91% de sua área – de 52.809 km², fora os 400 km de litoral – dentro do
chamado ‘Poligono das Secas’.
Segundo Maurício, o RN possui
diferenciais como biomas determinados, bacias hidrográficas e águas de subsolo,
controle sanitário acessível, genética adaptada e carne gourmet. Ao todo, o
estado possui 1.350 propriedades rurais. “Então, são proprietários que a gente
tem sim a condição de conhecê-los individualmente, de buscá-los
individualmente, de motivá-los e de capacitá-los a fazer diferente aquilo que
alguns já vinham até fazendo bem, outros nem tanto”, destacou o engenheiro
agrônomo.
Segundo ele, apesar do RN ser
pequeno, isso também representa oportunidade. “Precisamos criar nossas próprias
tecnologias e alternativas. Elas existem”, disse.
Entre as lições
compartilhadas, ele reforçou a importância do conhecimento aplicado por cada
produtor, abordando genética e práticas de manejo. Uma das ferramentas mais
eficazes para aumentar a produtividade, segundo Maurício Velloso, é o uso de
touros melhorados. Ele alertou que muitos pecuaristas ainda optam por animais
de baixo custo, o que pode impactar diretamente nos resultados financeiros. “É
preciso ter uma visão estratégica: a escolha do reprodutor pode colocar ou
tirar dinheiro do bolso”, explicou.
Após a palestra, o painel
‘Nova Pecuária Potiguar’, mediado por Maurício Velloso, abordou os desafios e
oportunidades do agronegócio no Rio Grande do Norte, com foco no fortalecimento
da economia rural e na aplicação de novas tecnologias adaptadas à realidade do
estado. Segundo ele, o debate foi uma oportunidade importante para reunir os
principais agentes que influenciam diretamente os sistemas produtivos e
políticas públicas do setor.
“Eu fiquei profundamente
impressionado, bem impressionado ao ver aqui todos os principais players que
interferem e que decidem com os sistemas produtivos, com as políticas públicas
e com a disseminação das tecnologias que podem, de fato, fazer diferença nos
processos produtivos vigentes e naqueles que a gente pode implementar”,
destacou Velloso.
Durante o painel, foram
discutidas características únicas da produção agropecuária potiguar, como a
qualidade diferenciada da carne de cordeiro local. O engenheiro agrônomo Cleudo
Juventino, assessor-técnico da Federação da Agricultura (Faern), apontou a
superioridade do cordeiro potiguar em relação a outras regiões do país.
“A gente tem uma
característica interessante, por exemplo, no cordeiro. O nosso cordeiro tem
menos gordura, pelagem mais lisa e carne bem mais saborosa e mais macia do que
qualquer cordeiro que você tenha do centro-oeste ou do sul”, afirmou Cleudo.
O painel teve a participação
do pecuarista Francisco Velloso, da cadeia de carne e produtos de búfalo; Luiz
Clenilson, da Suínos Jucurutu; Cleudo Juventino, assessor técnico da Faern;
Magnus Artur, gestor da Cordeiro Patriota e Eduardo de Paula Mello, do
frigorífico Corte 84.
O presidente da Associação
Norte-Rio-Grandense de Criadores (Anorc), Matheus França, destacou os esforços
dos produtores em se adaptarem às novas exigências do setor agropecuário,
especialmente no que diz respeito à sustentabilidade e ao uso de tecnologia.
“O produtor brasileiro tem
buscado se reinventar diante das crescentes demandas ambientais e sociais. Ele
procura produzir em áreas menores, mas com maior produtividade por hectare e
com qualidade superior, utilizando novas tecnologias e inovações que o ajudem a
alcançar esses objetivos”, disse o presidente da Anorc.
Maurício Velloso (Associação
Nacional de Confinadores) fala sobre “A Nova Pecuária Brasileira” | Foto:
Magnus Nascimento
Seminário debate a economia do
RN
O Motores, em sua 44ª edição,
foi mais uma vez um espaço de disseminação de conhecimento e troca de
experiências. Segundo o superintendente de comunicação do Sistema Tribuna,
Fernando Fernandes, o Motores do Desenvolvimento permanece sendo um dos principais
fóruns de discussão sobre o futuro econômico do estado.
“O alavancador desse processo
é movimentar a sociedade no Rio Grande do Norte, principalmente o setor do
segmento da agricultura, para a importância desses espaços de conhecimento, que
é abrir a cabeça de todos nós para fazer correto, aumentar a produtividade. O
agro foi uma novidade lançada ano passado e foi tão sucesso que repetimos, e já
está confirmado para o próximo ano”, disse Fernando Fernandes.
O Motores do Desenvolvimento,
com 17 anos de existência, já se consolidou como palco de debates estratégicos
para o crescimento econômico do estado. Fernando Fernandes diz que a escolha da
“nova pecuária” como tema revela uma ambição clara: sair da produção com baixo
valor agregado (o “quilo”) e apostar no mercado diferenciado, com cortes
especiais e produtos sofisticados. “Estamos discutindo um mercado que sai da
comodidade do quilo e cria um mercado de luxo, com produtos diferenciados e de
alto valor agregado”, afirmou.
O seminário teve parceria do
Sebrae-RN. Para Zeca Melo, superintendente do Sebrae, o Motores do
Desenvolvimento é um espaço consolidado de debate qualificado e importante para
o setor produtivo e para a sociedade potiguar. “Promover a troca de conhecimentos
e a reflexão sobre os desafios e oportunidades do setor contribui diretamente
para o fortalecimento dos pequenos negócios rurais e para o desenvolvimento
sustentável do RN”, disse, reforçando que o seminário abriu a programação da
Agência Sebrae na Festa do Boi.
O superintendente do Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) no RN, Luiz Henrique Paiva, destacou a
importância dos palestrantes e do impacto positivo que suas experiências podem
gerar no público. “São palestrantes de sucesso e, à medida que eles trazem seus
conhecimentos, o público pode ser incentivado por esses modelos de sucesso”,
disse ele.
Ao longo da programação, o
público pôde discutir sobre práticas de produção agropecuária adaptadas ao
semiárido, com foco em inovação, sustentabilidade e eficiência. Os debates
abordaram desde o uso de tecnologias no campo até a valorização da identidade
produtiva regional.
O secretário de Agricultura do
RN, Guilherme Saldanha, destacou os desafios da produção no clima semiárido,
defendendo uso de genética adaptada, reservas estratégicas e melhoria da
alimentação dos rebanhos. “O principal desafio que nós precisamos entender é
você conseguir produzir bem dentro do nosso clima semiárido. Ou seja, é você
ter uma genética aplicada aos rebanhos com raças que consigam produzir bem com
as condições climáticas nossas. É você entender de uma vez por todas que não dá
para fazer pecuária no semiárido sem reserva estratégica”, destacou.
Feito Potiguar
A programação também contou
com a entrega do selo Feito Potiguar, que valoriza a produção local. “Nós
entregamos o selo a 15 empresas da área de alimentos e bebidas, e mais oito
produtores rurais com produtos de referência pela qualidade do peso, pela produtividade
do leite ou por animais que foram reconhecidos fora daqui”, afirmou Zeca Melo.
As empresas que receberam o
Selo Feito Potiguar atuam em municípios da Região Metropolitana de Natal,
Mossoró, Seridó e Agreste Potiguar. Entre os produtos certificados estão a
carne suína de Jucurutu, morangos de Bodó, Queijos, pescados de Canguaretamana
e o mel de Jandaíra.
A Festa do Boi ocorre no
Parque Aristófanes Fernandes (Parnamirim) até o dia 18 de outubro.
Assista à reportagem completa
sobre o evento:
Tribuna do Norte
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