"Como explicar todas
essas crianças que morreram de algo totalmente prevenível?", questiona a
coordenadora do Observatório, Patrícia Boccolini. Este ano, os registros feitos
até o mês de agosto indicam uma ligeira melhora, mas ainda em patamares altos:
foram 1.148 casos, com 577 internações.
A coqueluche é uma infecção
respiratória, causada pela bactéria Bordetella pertussis, que pode ser
prevenida com a vacinação. Os bebês devem receber três doses da vacina
pentavalente, aos 2, 4 e 6 meses de idade e as grávidas devem ser imunizadas
com a DTPa em todas as gestações, para proteger os recém-nascidos.
Os dados coletados pelos
pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Faculdade de Medicina de
Petrópolis do Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (Unifase) mostram
ainda que mais da metade dos casos do ano passado foram registrados em crianças
menores de 1 ano, que também respondem por mais de 80% das internações.
Patricia Boccolini acredita
que vários fatores podem estar contribuindo para o aumento dos casos, como a
retomada dos ciclos naturais da doença no pós-pandemia, a desorganização de
serviços locais de saúde e o aumento da testagem, mas uma das principais vulnerabilidades
é a desigualdade das coberturas vacinais pelo país.
"Embora a gente não
esteja conseguindo bater as metas, as coberturas vacinais não estão tão baixas
assim, quando a gente olha para números nacionais e regionais. O grande
problema é quando a gente começa a olhar no micro, os dados municipais mostram
muita heterogeneidade, alguns polos com altas coberturas e outros não",
explica.
De acordo com o Ministério da
Saúde, mais de 90% dos bebês e de 86% das gestantes receberam os imunizantes
que protegem contra a coqueluche no ano passado, superando os números de 2013. Mas
a coordenadora do Observatório lembra que a meta de cobertura de 95% ainda não
foi batida, e crianças mais velhas e adultos não vacinados também podem
contrair e transmitir a doença, apesar dela atingir os pequenos de forma mais
grave.
A quantidade de casos de 2024
se aproxima da de 2015, quando foram registrados mais de 2.300 casos entre
crianças com menos de cinco anos. A partir de 2016, os casos começaram a
cair e o último ano com mais de 1 mil registros havia sido em 2019.
Mas não é só o Brasil que
enfrenta aumento de casos. Toda a região das Américas está em alerta para a
doença. De acordo com a Organização Panamericana de Saúde (Opas), nos primeiros
sete meses de 2025, nove países da região notificaram mais de 18 mil casos e
128 mortes em todas as idades.
Juarez Cunha, diretor da
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que a coqueluche tem essa
característica de “ciclicidade”.
"Dez anos atrás, alguns
anos antes já se observava um aumento de casos no mundo, depois isso acaba
chegando ao Brasil também. Então, mesmo que a gente tenha tido melhoria nas
coberturas vacinais nos últimos dois anos, como a gente ainda não alcançou as
metas, a gente tem esses casos, conforme a ciclicidade da doença”, disse.
Cunha lembra que a vacinação
das gestantes foi incluída no Programa Nacional de Imunizações (PNI) justamente
durante esse ciclo anterior de aumento de casos.
“Só a partir dos 6 meses que o
bebê vai estar totalmente protegido, depois de receber todas as doses da vacina
pentavalente. Então, vacinar a gestante é a principal forma de proteger o bebê
nos primeiros meses de vida. É preciso falar para as grávidas, que elas
precisam se vacinar para se protegerem e protegerem seus bebês”, recomenda.
"Tem muita gente que não
sabe nem o que é coqueluche. E isso também é fruto de um passado recente
glorioso que a gente teve nas nossas altas coberturas. Mas, a partir do momento
que a gente não viu mais muitos casos, não viu mais crianças morrendo de
coqueluche, a gente perdeu o medo da doença. Eu espero que esses números
sensibilizem a população", alerta a coordenadora do Observatório de Saúde
da Infância, Patrícia Boccolini.
Agência Brasil
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