Uma das que investiu em
tecnologia nova foi a Mineração Tomaz Salustino, em Currais Novos, uma das mais
tradicionais do ramo na extração de scheelita no Estado e no Brasil. Segundo o
CEO da empresa, Rogério Barreto, a Mina Brejuí investiu numa parceria envolvendo
a Universidade de Hannover, na Alemanha, e a UFRN, para reaproveitar o resíduo
das extrações e ampliar a produção da schelitta, que atualmente é enviada para
vários estados do Brasil e para a China. A expectativa é ampliar a produção –
atualmente de 15 toneladas por mês de concentrado de schelitta – em 25%. A
empresa quer aproveitar e recuperar ambientalmente as pilhas de resíduos
explorados ao longo de 80 anos de mineração.
“Estamos bem avançados e
fizemos alguns estudos com a Universidade de Hannover, na Alemanha, e parceria
com a UFRN para recuperação daqueles resíduos de baixo teor, porque ali ainda
consta tungstênio. A questão é que no processo que utilizamos hoje é mais
difícil de recuperar esse tungstênio. Estamos concluindo um em busca de novas
rotas para aprimorar essa produção. Nisso, aí sim, nossa projeção é que
tenhamos uma produção 10% maior complementada com a produção desse rejeito. Em
2026, esperamos em torno de 20% a 25% de crescimento, contando com a produção
desse material de baixo teor em que temos alguns milhões de toneladas que foram
exploradas ao longo desses 80 anos de exploração”, explica.
O processo de beneficiamento
segue o mesmo dos tempos de outrora da Brejuí. As rochas são extraídas em
carrinhos por mineradores e trabalhadores braçais, levadas por caminhões para
uma máquina de britagem, passando por um processo de moagem e, em seguida,
beneficiada numa mesa vibratória concentradora que efetivamente extrai a
scheelita. Da água utilizada, 80% é reutilizada. Após comercializado, o mineral
serve para a indústria armamentista, automobilística, aeroespacial, entre
outros.
A mineração em Currais Novos
remonta a década de 1940, quando o desembargador Tomaz Salustino (1880-1962)
iniciou as operações na Mina Brejuí e enviou schelitta para vários países do
mundo, sendo o maior produtor do Brasil e da América Latina por vários anos. A
mineradora é uma das mais antigas do país. Na década de 1990, após dificuldades
com o mercado internacional, em especial com a China, a mina chegou a paralisar
suas atividades e suspender a produção, terceirizando serviços e foco em outras
operações, retomando as extrações em 2000. A produção de schelitta no Estado
também se divide entre outras mineradoras como a Acauan Mineração, também em
Currais Novos.
“O segundo ciclo da schelitta,
dos anos 2000 para cá, estamos produzindo continuamente. Exportamos tanto para
Ásia, quanto para a Europa, América do Norte, como também vendemos
internamente. No Brasil, o consumo é bem mais limitado, mas também comercializamos”,
acrescenta Rogério Barreto, citando ainda que nos últimos 12 meses houve o
inverso, com a maior parte da produção sendo comprada por estados do Brasil.
As rochas são retiradas em carrinhos
por mineradores e passam por um processo de beneficiamento para a extração da
schelitta | Foto: Alex Régis
Exportação
Entre os estados compradores
de minérios do RN estão Ceará, Pernambuco, Bahia, Sergipe, Espírito Santo,
Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, entre outros. Já com relação aos
países estão Estados Unidos, Alemanha, Holanda, China, Tailândia, Portugal, Canadá,
Austrália, Espanha, Rússia, Itália, Reino Unido, África do Sul, Nova Zelândia,
Emirados Árabes Unidos, Coréia do Sul, México, entre outros. Até agosto deste
ano, as exportações de minérios produzidos no RN já somam US$ 34,8 milhões. O
número supera todo o exportado em 2024, que foi de US$ 23 milhões. Os dados são
do Observatório da Indústria Mais RN.
“Exportamos principalmente
para a Europa, especialmente os metálicos. A Schelitta, por exemplo, não será
tão impactada com o tarifaço de Donald Trump, porque ela é exportada para
outros países. O ouro, por exemplo, vai para a Austrália, Canadá”, explica Mário
Tavares, presidente do Sindicato das Indústrias da Extração de Metais Básicos e
de Minerais Não Metálicos do Rio Grande do Norte (Sindiminerais-RN). “Essa
exportação é importante, pois ela é feita em dólar. Apesar da maioria ser feita
com países da Europa, Oceania e da China, são recursos novos que chegam no Rio
Grande do Norte”, comenta.
Segundo o coordenador de
Desenvolvimento Mineral da Secretaria de Desenvolvimento do RN (Sedec-RN),
Paulo Morais, o protagonismo do RN em exportações se deve à qualidade dos
materiais produzidos no estado, como por exemplo o caulim, na cidade de
Equador, distante 283 km de Natal.
“Se você pegar as maiores
empresas de porcelana e porcelanato do Brasil, com certeza o caulim que eles
utilizam é o de Equador, devido a essa qualidade que está muito à frente de
qualquer outro caulim do Brasil. O melhor caulim do Brasil é o do RN. Junto ao
caulim, o que estamos mapeando como oportunidades são os outros minerais que
vêm ali junto e eram descartados, tidos como rejeitos e hoje já vemos como
reservas estratégicas, como tantalita, columbita, que são minerais considerados
críticos e estratégicos e que consigamos desenvolver a cadeia para termos o
aproveitamento dessas substâncias também”, explica.
A mineração em Currais Novos remonta
a década de 1940, quando a Mina Brejuí iniciou operações | Foto: Alex Régis
Rocha ornamental e feldspato
em Parelhas
No Seridó potiguar, minerais
industriais não metálicos, como rocha ornamental e feldspato também são
protagonistas na indústria extrativa em Parelhas, localizada a 245km de Natal.
Empresas potiguares exportam para vários estados do Brasil e até para outros
países produtos como materiais utilizados na indústria de pisos, porcenalatos,
cerâmicas, louças e pias.
“Nós temos todos os produtos
que fazem a composição da massa cerâmica, tanto para indústria de louça
sanitária quanto para indústria de pisos e também os esmaltes. Em relação ao
piso e porcelanato, quem não compra direto da gente, compra de maneira indireta.
Quem faz o esmalte, compra o material da gente e vende nas cerâmicas o esmalte
para o piso”, explica o sócio-proprietário da Armil Mineração, João Leal
Eulálio.
A Armil Mineração trabalha com
beneficiamento dos minerais extraídos, em especial o feldspato, em que o RN é
um dos maiores produtores do Brasil, em 4º lugar, atrás apenas de Minas Gerais,
Paraíba e Bahia. Além do feldspato, a empresa também extrai albita, argila,
calcita, caulim, quartzo, talco, entre outros.
Já na Casa Grande Mineração
(CGM), parte do grupo Armil, o foco principal é a rocha ornamental e pesquisas,
além do beneficiamento. A extração das rochas ornamentais passa por um processo
minucioso para não “ferir” as pedras e fazer com que os blocos tenham a melhor
qualidade possível, visando a venda final.
“Esse bloco é cortado através
de uma máquina de fio, que possui um cordão impregnado de diamante sintético.
Ele consegue fazer o corte do bloco e deixar ele nesse formato que definimos.
Como é um material nobre, como é o patagônia, geralmente é exportado. Ele já
vai embarcado para China, Estados Unidos, Itália. O que não conseguimos
aproveitar dele volta para a indústria, onde será britado, passará por moinho e
vai para a cerâmica”, explica o engenheiro de minas Nigério Sousa, da CGM.
Tesouros do Semiárido
A série “Tesouros do Semiárido” é um conjunto de matérias que vai abordar os
impactos do setor de mineração para a economia e a indústria extrativa do Rio
Grande do Norte, a ser publicada nas edições da Tribuna do Norte.
Ícaro Carvalho/Repórter
Tribuna do Norte
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