O Banco Central deve
regulamentar até o fim de setembro o Pix Parcelado, modalidade que permitirá ao
consumidor dividir pagamentos realizados via sistema de transferências
instantâneas. A novidade já está disponível em bancos e fintechs de forma não
padronizada e, com a regulamentação, passará a ter regras mais claras sobre
juros, número de parcelas e custos envolvidos. O objetivo da autoridade
monetária é aumentar a transparência, padronizar informações e estimular
compras de maior valor, garantindo que o comerciante receba o montante integral
à vista. A ferramenta, no entanto, exige cautela para evitar endividamentos
entre a população.
A medida chega em um cenário
no qual o Pix se consolidou como principal meio de pagamento do país. Segundo o
Banco Central, no 2º trimestre de 2025 foram registrados 19,3 bilhões de
transações, número 53,5% superior ao total movimentado com cartões, e 335%
maior que os pagamentos por boletos e convênios. Em cinco anos, o Pix cresceu
110 vezes, alcançando 70 milhões de usuários que passaram a acessar serviços
financeiros.
Diante da mudança, o
economista Helder Cavalcanti, conselheiro do Conselho Regional de Economia do
RN (Corecon-RN), alerta que o país corre o risco de ampliar problemas já
existentes. “Cabe inicialmente ressaltar que o Pix é um sucesso, uma ferramenta
brasileira que se espalhou pelo mundo como solução de negociação até em nível
internacional. Mas ao aproximá-lo do cartão de crédito, há risco de um
superendividamento ainda maior do que já existe nas famílias, principalmente de
baixa renda. Disponibilizar essa ferramenta sem preparo é como entregar um
caminhão de carga para alguém sem habilitação: o risco é muito grande”, avalia.
Os bancos já oferecem a
funcionalidade com condições distintas, já que se trata de uma forma de crédito
pessoal sem exigência de padronização pela Federação Brasileira de Bancos
(Febraban). Em algumas instituições, o Pix pode ser parcelado em até 24 vezes,
com taxas médias a partir de 2,99% ao mês, mais o Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF). Em outras, a operação varia entre 12 e 18 parcelas, com
custos ajustados de acordo com o perfil do cliente.
“É necessário que a população
primeiro se eduque para depois ter acesso a uma ferramenta que pode ser útil,
mas também representa um risco enorme de superendividamento”, disse Helder. “É
fundamental a transparência quanto ao custo efetivo total do Pix parcelado”,
ressaltou.
Ainda de acordo com o
conselheiro, é necessário atuar de forma ampla por meio de ações educativas que
envolvam escolas, empresas e até a população idosa, a fim de orientar sobre o
uso das ferramentas de crédito. “Nosso aconselhamento é que sempre as pessoas
criem um orçamento que comprometa até 80% das receitas. Os 20% restantes devem
ser destinados a uma reserva, a um investimento em patrimônio e a uma melhor
qualidade de vida”, explica Helder.
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