domingo, 21 de setembro de 2025

Da sala de aula ao mercado: jovens ganham espaço na indústria do futuro

Caio Henry, estudante: “O SESI abre portas e mostra que somos protagonistas do nosso futuro”| Foto: Magnus Nascimento

A indústria do futuro já não é mais uma ideia distante: ela se materializa em fábricas que operam com automação, em laboratórios de energias renováveis, em softwares que monitoram processos em tempo real e em jovens que, ainda no ensino médio, aprendem programação e robótica. No Rio Grande do Norte, onde a indústria responde por 22,89% do Produto Interno Bruto (PIB) e se projeta como motor do desenvolvimento, o Sistema da Federação das Indústrias do RN (FIERN) aposta na educação para transformar esse futuro em realidade. Sob essa responsabilidade, o Serviço Social da Indústria (SESI) atua para preparar os profissionais que ocuparão postos cada vez mais tecnológicos, exigindo competências que unem conhecimento técnico, criatividade e capacidade de adaptação.

É nesse ambiente que jovens como Caio Henry, 17, aluno do SESI em São Gonçalo do Amarante, encontram oportunidades para desenvolver habilidades que vão da modelagem em 3D às olimpíadas científicas. Mais do que preparar para vestibulares, a proposta da unidade é formar cidadãos aptos a enfrentar desafios globais e se inserir em setores estratégicos da economia potiguar, como energias renováveis, mineração, têxtil e confecções. Somente entre 2021 e 2025, 7.970 alunos do SESI, entre ensino fundamental e médio, ocuparam vagas em setores como esses.

“Eu estudava em uma escola de bairro, sem recursos, e aqui encontrei outra realidade. As salas têm lousas digitais, temos notebooks individuais e professores que usam metodologias mais dinâmicas. A cada dia estamos em contato com tecnologia, com conteúdos que já caem no Enem e que nos dão segurança para pensar na faculdade ou no primeiro emprego. O SESI abre portas e mostra que somos protagonistas do nosso futuro”, conta.

Mulher de camisa branca

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Danielle Mafra, superintendente regional do SESI no RN| Foto: Magnus Nascimento

A experiência de Caio é um retrato do que o SESI busca alcançar com sua proposta de ensino tecnológico para a vida. De acordo com Danielle Mafra, superintendente regional do SESI no RN, o modelo alia inovação, acolhimento e desenvolvimento de competências socioemocionais, resultando em alto índice de empregabilidade de egressos. “O que a indústria do futuro está demandando do nosso aluno é a capacidade de se reinventar em um ambiente cada vez mais tecnológico. Com isso, o estudante é preparado não apenas para um vestibular, mas para a vida e para as exigências do mercado”, avalia.

Ela lembra que a robótica educacional é um dos diferenciais do SESI, que possui duas das maiores arenas do estado, em São Gonçalo do Amarante e em Mossoró. Além disso, iniciativas como a Semana da Indústria, quando os estudantes visitam fábricas e conhecem empresários, também facilitam o compartilhamento dessas experiências em sala de aula. “Nossa equipe já representou o Brasil em competições internacionais, com soluções desenvolvidas para indústrias locais, mostrando que é possível unir aprendizado e impacto econômico”, afirma Danielle Mafra.

Os resultados desse modelo educacional são evidentes. De acordo com dados do Departamento Nacional do SESI, de 2022 a 2024, 89,8% dos egressos foram inseridos no mercado de trabalho no RN, número acima da média nacional, de 87,1%. Além disso, apenas 2,6% dos egressos nem estudam e nem trabalham, percentual abaixo da média nacional de 4%.

Segundo a superintendente regional, o SESI Escola cumpre o papel de ser ponte entre o ensino de base e as demandas industriais de um estado em plena transformação. Um dos exemplos que se insere nesse contexto é Letícia Revonato, 26, que concluiu os estudos do ensino médio no SESI em 2017 e logo em seguida ingressou no curso técnico de automação industrial pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Atualmente engenheira de energia, ela atua na operação de parques solares, eólicos e centrais hidrelétricas. “Hoje aplico no mercado muitas das competências que aprendi na robótica e nas aulas do SESI, especialmente raciocínio lógico, criatividade e segurança para apresentar projetos”, relata.

Ao longo da última década, a metodologia aplicada pelo SESI se consolidou como referência para preparar jovens em sintonia com os rumos da indústria do futuro. Além do ensino integrado, a escola aposta em valores socioemocionais e culturais, incentivando projetos de música, artes e carreiras criativas.

Para Roberto Serquiz, presidente do Sistema FIERN, essa é uma estratégia indispensável. “A chamada indústria do futuro está fortemente representada por áreas como as energias renováveis, especialmente a energia eólica, e a indústria de transformação com foco em sustentabilidade, como é o caso do setor da reciclagem. São segmentos com alto potencial de inovação, geração de valor e impacto econômico. O Sistema FIERN tem atuado de forma estratégica para atender essas demandas”, afirma.

Do total de egressos entre 2022 e 2024 no SESI-RN, 79,5% continuaram estudando após o ensino médio, sendo que 93% ingressaram em uma universidade.

SENAI-RN expande formação dos alunos

Se o SESI abre caminho para despertar o interesse pela inovação, o SENAI dá sequência à jornada oferecendo cursos técnicos e até ensino superior em áreas ligadas diretamente ao setor industrial. Entre 2022 e 2025, a instituição ultrapassou a marca de 100 mil matrículas, sendo 20% delas em ocupações emergentes, como automação, telecomunicação e tecnologia da informação.

Para Rodrigo Mello, diretor regional do SENAI no RN, a estrutura composta por laboratórios de robótica, conectividade e hidrogênio verde, além de investimentos em energias renováveis e eletromobilidade garante que o SENAI esteja alinhado às demandas globais. “Em 2024, 89,8% dos nossos alunos foram contratados pelo mercado, porque o SENAI mantém ligação direta com as empresas, ajustando os cursos às necessidades reais”, detalha.

Um exemplo dessa justaposição entre o SESI e o SENAI pode ser representado por Raíssa Filgueira, 19, ex-aluna do SESI e estudante de Engenharia Mecânica na Faculdade de Energias Renováveis e Tecnologias Industriais do SENAI-RN (Faeti), desde 2024. “O SESI me deu uma base sólida no ensino médio, enquanto o SENAI oferece a prática e a qualificação técnica voltada para a indústria. Essa combinação fortalece meu currículo e me deixa mais preparada para as oportunidades no mercado de trabalho do RN e até mesmo fora dele”, relata.

Essa mesma percepção é reforçada por Allan Lima, 19, também ex-aluno do SESI e hoje estudante de Engenharia Mecânica na Faeti. Para ele, a formação integrada amplia oportunidades. “As empresas do RN valorizam bastante esse perfil, pois ele combina conhecimento, experiência e disciplina. Além disso, a interação nesse formato de ensino contribui para o desenvolvimento de competências como trabalho em equipe, responsabilidade e habilidade de adaptação”, avalia.

Nos últimos cinco anos, o SENAI vem realizando investimentos estratégicos em áreas de vanguarda, como robótica, conectividade, energias renováveis e, mais recentemente, eletromobilidade, ao mesmo tempo em que segue investindo na formação de ocupações tradicionais.

“Continuamos formando costureiras e eletricistas, mas em outro nível. A costureira, que antes operava máquinas simples, hoje precisa dominar equipamentos eletrônicos. O mesmo vale para os eletricistas, que trabalham com sistemas muito mais modernos do que há dez anos. Isso mostra que há um incremento natural em todas as ocupações tradicionais que nós continuamos formando para a indústria. Nós estamos formando profissionais em ocupações novas ou em competências novas para as mesmas ocupações voltadas exatamente para essa evolução do ambiente fabril”, relata Rodrigo Mello.

Para o futuro, a expectativa é de que setores como alimentos, mineração, óleo e gás, energias renováveis e têxtil sigam puxando a economia potiguar. A perspectiva, segundo Rodrigo, é manter o alinhamento entre qualificação, inovação e empregabilidade, de forma que o Rio Grande do Norte esteja pronto para enfrentar os desafios de uma economia cada vez mais tecnológica.

Destaques do SESI-RN

88% dos egressos estão ocupados no mercado de trabalho
79,5% continuaram estudando após o ensino médio
93% ingressaram na universidade
2,6% dos egressos não estudam e nem trabalham

Fonte: Departamento Nacional do SESI, dados de 2022 a 2024

Larissa Duarte/Repórter

Tribuna do Norte

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