“Os compensadores síncronos vão contribuir para o controle da tensão e da
estabilidade da rede, minimizando os cortes de energia que vêm sendo
registrados. E isso, consequentemente, cria um ambiente mais seguro para novos
investimentos em geração renovável”, destacou Hugo Fonseca, secretário-adjunto
de Desenvolvimento Econômico do RN.
O Leilão de Transmissão, previsto para ocorrer na sede da B3, em São Paulo,
licita 11 lotes, distribuídos por 13 estados (incluindo o RN), com
investimentos estimados em R$ 7,6 bilhões, 1.178 km de novas linhas e
seccionamentos, além de 4.400 mega-volt-ampere (MVA) em capacidade de
transformação, controle automático rápido de reativos e compensadores
sincronizados. O Ministério de Minas e Energia também publicou o cronograma –
com cinco certames previstos até 2027 – reforçando a previsibilidade e segurança
para o setor.
Hugo Fonseca explica que o governo Federal vem trabalhando através da Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) com a adoção de medidas para aumentar a
confiabilidade de sistema. “Como é o caso do leilão de transmissão 04/2025, que
contempla a ampliação e o reforço do sistema elétrico em vários estados do
Brasil, incluindo o Rio Grande do Norte”, diz.
Ele enfatiza que o RN acompanha os estudos da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), por meio do Grupo de Estudos da Transmissão – GET Nordeste, focados na
expansão e reforço da rede, no escoamento da geração renovável e no impacto de
novas cargas, como projetos de hidrogênio, com previsão de conclusão em
dezembro deste ano.
No entanto, o cenário traz preocupações: um relatório divulgado no início deste
ano pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), parte do Plano de
Operação Elétrica de Médio Prazo – PAR/PEL – até 2029, aponta que 11 estados
(entre eles o RN) correm risco de sobrecarga devido ao crescente uso de geração
distribuída, especialmente solar fotovoltaica.
Parques eólicos e solares vêm sofrendo com cortes de geração impostos pelo
sistema elétrico. Isso acontece porque, a cada segundo, o ONS precisa acionar o
parque gerador de energia em volume exatamente igual à demanda do país naquele
momento. Por isso, há situações em que é preciso determinar o corte da geração
para não haver excesso de oferta, que pode causar sobrecargas e apagões.
No caso das eólicas e solares, ocorre quando há alta incidência de sol e vento,
levando a geração total a superar a demanda, principalmente no Nordeste. Também
pode acontecer por falta de disponibilidade de linhas de transmissão, sendo
necessário interromper a geração para evitar sobrecarga.
Alerta
Contudo, o próprio ONS esclareceu, em nota publicada em fevereiro passado, que
isso não representa um risco de apagão iminente, mas que o relatório traz um
alerta de planejamento para os próximos cinco anos. O órgão reforçou que esses
fenômenos técnicos são mapeados e estão sendo tratados em conjunto com a
Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Ministério de Minas e Energia (MME) e
ANEEL para garantir a modernização da infraestrutura da rede elétrica.
Essa combinação de alerta e atuação preventiva reforça a relevância do leilão
com a adoção de equipamentos como compensadores síncronos, reforços estruturais
e exigências de disponibilidade (mínimo de 95%) que fortalecem a rede elétrica
e aumentam a segurança operacional.
No contexto do RN, estado estratégico para a expansão de energias renováveis, a
presença dos compensadores síncronos e o acompanhamento contínuo dos trabalhos
da EPE e do GET Nordeste demonstram a busca por alinhar investimento, inovação
e resiliência. A perspectiva otimista impulsiona novas oportunidades de geração
renovável e eventualmente de hidrogênio, reforçando a transição energética com
robustez técnica.
A reportagem procurou o ONS e o Ministério de Minas e Energias, mas não houve
retorno para a demanda até o fechamento desta edição.
Geração de renováveis no
Nordeste
A repercussão do Leilão de
Transmissão nº 04/2025, previsto para outubro, reforça a avaliação de que o
certame se insere em uma estratégia maior para dar vazão à crescente geração
renovável no Nordeste e, especialmente, no Rio Grande do Norte. Representantes
da Abrate (Associação Brasileira das Empresas de Transmissão de Energia
Elétrica) e da APER (Associação Potiguar de Energias Renováveis) destacam que o
evento dá continuidade ao ciclo iniciado em 2022, antecipando investimentos em
infraestrutura para acompanhar o avanço das fontes renováveis, sobretudo eólica
e solar.
Mario Miranda (Abrate) diz que a
entidade tem atuado para apoiar a viabilidade dos leilões| Foto: Divulgação
“O leilão deste ano está previsto para alcançar R$ 7,6 bilhões, mas devemos
analisá-lo como parte de um plano contínuo. De 2022 a 2024, foram leiloados
cerca de R$ 78 bilhões em projetos, com foco justamente em acelerar a
implantação da infraestrutura de transmissão no Nordeste, que tem um
crescimento rápido na geração renovável”, afirmou Mario Miranda, presidente da
Abrate.
Segundo ele, o tradicional descompasso entre o ritmo da geração e da
transmissão exigiu mudanças na estratégia regulatória e de planejamento.
“Enquanto uma usina eólica pode ser construída em dois anos, uma linha de
transmissão leva cinco. Por isso, antecipamos os leilões nos últimos anos. O de
2025 é a continuidade dessa estratégia”, aponta.
Assim como o Governo do Estado, a Abrate diz que tem atuado junto à EPE, ANEEL
e Ministério de Minas e Energia para apoiar a viabilidade dos leilões,
inclusive com estudos sobre a cadeia logística. “Não vemos hoje impedimentos
técnicos ou logísticos. O grande desafio agora é garantir celeridade no
licenciamento ambiental”, afirmou Mario.
Ainda segundo a entidade, o limite atual de exportação de energia da região
Nordeste para outras regiões do Brasil é de 13 mil megawatts, número que deverá
praticamente dobrar até 2030, chegando a 25 mil megawatts, o que exigirá
reforços massivos na rede básica nacional. A ANEEL, por sua vez, já admite a
possibilidade de o valor total do leilão ultrapassar R$ 8 bilhões, segundo
declaração recente do diretor-geral Sandoval Feitosa à imprensa.
No Rio Grande do Norte, estado líder na geração eólica e com projeção de R$ 30
bilhões em novos investimentos em energia solar até 2029, a necessidade de
expansão da rede de transmissão é vista como fator limitante para o pleno
aproveitamento do potencial energético. Para Williman Oliveira, presidente da
APER, a realização do leilão é importante, mas não suficiente. “O RN já é
destaque nacional em renováveis, mas enfrenta gargalos estruturais. O leilão de
outubro é um passo importante, porém precisa ser acompanhado de ações contínuas
e arrojadas”, afirma.
Williman Oliveira (APER): leilão de
outubro precisa ser acompanhado de ações contínuas| Foto: Divulgação
Ele defende maior diálogo entre o setor público e os agentes locais. “É
fundamental ampliar o diálogo com estados líderes como o RN para que suas
demandas sejam incluídas no planejamento nacional”, frisa o dirigente da APER.
A entidade também defende a adoção de tecnologias complementares, como
armazenamento em larga escala, inteligência artificial na gestão do sistema e
infraestrutura offshore, para garantir estabilidade e segurança à expansão
renovável. Também chama atenção para a ascensão do mercado livre de energia,
onde empresas optam por contratar diretamente de geradores – cenário que demana
planejamento proativo de infraestrutura.
Cláudio Oliveira/Repórter
Tribuna do Norte

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