quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Faern: desapropriação de área da Emparn trará prejuízos para a pesquisa

A Estação Experimental Terras Secas, pertencente à Embrapa e ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desde 14 de julho, em Pedro Avelino, poderá ser desapropriada para fins de assentamento. O Incra notificou a Emparn, que utiliza o terreno para pesquisas, e a Federação da Agricultura do RN (Faern) para realização de uma vistoria no local. A vistoria é considerada o primeiro passo do processo legal de desapropriação. Tanto a Faern quanto a Embrapa se posicionaram contra a medida e alertam para os impactos negativos sobre a pesquisa agropecuária no Estado.

A Faern foi notificada pelo Incra acerca da vistoria, que ocorrerá no dia 26 de agosto deste ano. Na avaliação do presidente da entidade, José Vieira, a sinalização de vistoria por parte do Incra é um indicativo de que a área pode ser desapropriada para fins de reforma agrária.

“Recebemos com muita surpresa um comunicado de vistoria da Estação de pesquisa da Emparn que foi invadida pelo MST para fins de reforma agrária. O que nos deixa mais surpreso é a conivência do Governo do Estado em apoiar a desapropriação de uma estação de pesquisa, que tem vários e vários serviços prestados ao Estado, com finalidade de colocar o MST”, aponta José Vieira, presidente da Faern, apontando que há terras disponíveis para se fazer assentamentos em outras áreas. “O que mais nos surpreende é que o Governo do Estado está apoiando a iniciativa do Incra em fazer uma vistoria numa empresa de pesquisa. Já não temos muita pesquisa, a pouca que tem o Governo quer destruir”, cita.

O presidente da Emparn, Rodrigo Maranhão, diz não ter opinião favorável nem contrária à desapropriação da área de pesquisa da Emparn, mas cita que uma eventual saída do órgão para outro local geraria uma série de adaptações para as pesquisas em andamento, que envolvem avaliações de alimentação adaptada para o semiárido, plantações de palma forrageira, recomposição florestal, entre outras. Ele cita que a Emparn aguarda o resultado da negociação.

“Precisaríamos fazer várias adaptações. Temos três rebanhos lá que teríamos que encaixar em outras propriedades. Temos áreas do convênio de palma forrageira que servem de multiplicação e distribuição. Esse convênio ainda está em andamento”, cita. “Se vier a acontecer a saída da Emparn de lá, vai ter que se fazer muitos novos arranjos para esses rebanhos que estão lá adaptados e foram selecionados pela característica da região. Os rebanhos de ovinos e caprinos são adaptados de raças nativas que nem toda região que temos base poderiam se adaptar. Teríamos que construir novas instalações nas outras bases. Seria uma adaptação que iria causar algum investimento por parte da Emparn”, declarou.

Segundo o superintendente do Incra no RN, Adans Pereira Santiago, as vistorias têm como objetivo aferir os Graus de Utilização de Terra (GUT) e Graus de Eficiência de Exploração (GEE), apurando a produtividade, fiscalizar o cumprimento da função de propriedades rurais, bem como outras questões. Ele aponta ainda que já houve reuniões junto à Embrapa sobre o tema.

“A vistoria é um instrumento para verificar a questão fundiária. Se vai ser para questões da finalidade de projeto de assentamento ou não, é uma consequência do projeto. E isso será embutido dentro do ambiente da institucionalidade das partes envolvidas”, disse.

Em reportagem publicada no dia 17 de julho, o secretário de Agricultura e Pecuária do RN, Guilherme Saldanha, informou que o Governo do RN promoveu uma reunião entre o Incra e secretarias do Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (Sedraf) sobre o tema.

Embrapa pede reintegração de posse

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), protocolou uma ação judicial na Justiça Federal para reintegração de posse da Estação Experimental Terras Secas da Emparn, invadida por cerca de 250 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jandaíra. A unidade de pesquisa, que fica localizada em Pedro Avelino, às margens da BR-406 – que liga João Câmara a Macau – pertence à Embrapa, mas está há décadas sob administração da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn). A invasão à Estação Experimental Terras Secas da Emparn ocorreu no dia 14 do mês passado.

“Embora a Embrapa não tenha sido notificada oficialmente sobre a vistoria, esse procedimento é padrão quando o INCRA vislumbra interesse em determinada área para promoção de desapropriação para reforma agrária. No entanto, considerando que a área não tem aptidão para a agricultura, a Embrapa acredita que sua destinação deverá ser para a manutenção das atividades de pesquisa”, disse a Embrapa em nota enviada à TRIBUNA.

A Estação

Ocupando uma área de 1.600 hectares, a Estação Experimental Terras Secas, no município de Pedro Avelino, às margens da BR-406, que liga João Câmara a Macau, é a maior base da Emparn. Em Terras Secas são desenvolvidas importantes pesquisas, principalmente de caprinos de raças nativas como a Canindé e ovinos Morada Nova, com a finalidade de melhoramento genético e pesquisa.

A Estação também abriga uma unidade experimental de palma forrageira, adensada e irrigada. São avaliadas ainda e identificadas cultivares de milho, sorgo e feijão. A estação oferece ainda casa para moradores, auditório, alojamento e um miniauditório para palestras e cursos.

Tribuna do Norte

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