Ainda de acordo com o levantamento, a capital potiguar caiu 16 posições no
ranking geral, que mede o índice de cobertura de saneamento básico nos 100
municípios mais populosos do País. A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande
do Norte (Caern) esclareceu que a queda se deve a alterações na metodologia de
cálculo do SNIS, que alinhou-se ao Censo mais recente do IBGE e “impactou
diretamente a comparação com anos anteriores”. A Caern disse que a entrada em
operação das Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) Jaguaribe e Guarapes
deverá universalizar o saneamento na cidade.
A integralidade do serviço de saneamento na capital potiguar, no entanto, é
prevista apenas para 2027, quando a ETE Guarapes deve entrar em funcionamento.
Sobre a cobertura de esgotamento sanitário, a Caern informou que ela está
distribuída da seguinte maneira: na zona Leste o serviço está praticamente
universalizado, “atingindo mais de 98% da população”; na zona Sul, a maioria
dos bairros já conta com cobertura de esgoto, de acordo com a Companhia. “As
exceções são o bairro de Pitimbu (Cidade Satélite), uma pequena porção da Vila
de Ponta Negra e cerca de 60% de Candelária, que ainda não possuem o serviço”,
afirmou a Caern.
As demais regiões administrativas da cidade são as áreas onde a situação é mais
crítica. Na zona Oeste, de acordo com a Caern, somente “os bairros de Alecrim e
Quintas já são atendidos pelo sistema de esgotamento sanitário. A previsão é
que os demais bairros também sejam beneficiados a partir de 2027, com a
ativação da ETE Jundiaí-Guarapes”. Na zona Norte, apenas 3% do território é
coberto pelo serviço.
Segundo a Caern, “a expectativa é que esse percentual suba para 43% em agosto,
com a entrada em operação do primeiro módulo da ETE Jaguaribe. Até 2026, com a
ativação do segundo módulo, a cobertura aumentará gradualmente para 95%”. A
Estação de Tratamento Professor Cícero Onofre de Andrade Neto (ETE Jaguaribe)
começou a ser construída há 8 anos, em 2017, e já teve a conclusão adiada
diversas vezes.
Moradores convivem com mau
cheiro
Não é difícil observar os
efeitos da falta de atendimento relativo aos serviços de esgotamento sanitário
na zona Norte da capital. Uma caminhada rápida por bairros como a Redinha é o
suficiente para se deparar com situações como a da Rua da Paz, onde a água
servida empossada em variados trechos ajuda a compor o cenário junto às casas e
comércio da região. O mau cheiro é um dos primeiros problemas a ser sentido.
Maria da Cruz tem uma “lagoa” na
frente de casa. “Tem de tudo – rato, barata”, afirma| Foto: Magnus Nascimento
A vizinhança incômoda gera reclamações por parte dos moradores. A manicure
Neide Souza, de 40 anos, vive na Rua da Paz desde que nasceu. Ela abriu uma
esmalteria em casa há uma década e meia, mas em períodos críticos como a
temporada de chuvas, a clientela simplesmente some. “Junta água de chuva com
água de esgoto na rua e a situação fica insustentável. Fiz um batente na
entrada para evitar alagamentos na esmalteria e em casa. Por enquanto tem dado
certo, mas, quando chove o cliente não vem. É muito difícil ter qualquer
comércio na Redinha, porque a situação é crítica de verdade. Além disso, a
gente lida com os problemas de saúde por causa dessa falta de infraestrutura.
De noite tem muito mosquito. Eu e meu filho já tivemos dengue mais de uma vez”,
relata. A aposentada Maria Soares, de 67 anos, mora ao lado de Neide. Ela conta
que transitar pela rua é difícil por conta do esgoto acumulado.
“Para ir à igreja, preciso dar a volta. Aqui vive muito idoso, então, essa é
uma dificuldade que muita gente enfrenta junto com o mau cheiro e os mosquitos.
Meu filho já teve até dengue hemorrágica. Moro aqui há 30 anos. Nunca vi essa
situação mudar, mas eu e todos os moradores sonham com o dia em que tudo vai
melhorar”, desabafa a aposentada. No bairro Pajuçara, também na zona Norte, a
reclamação dos moradores é semelhante. A dona de casa Maria da Cruz, de 40
anos, conta que bem em frente à casa dela, na Rua Tenente de Souza, há uma
espécie de ‘lagoa’, que causa diversos transtornos.
Ela conversou com a reportagem enquanto caminhava pela Rua Auriverde, quando ia
buscar o filho na escola. “Moro na parte mais baixa da Tenente de Souza, então,
o problema por lá se agrava. É muito mau cheiro e muito inseto. Tem de tudo –
barata, rato, mosquito. Três professores do meu filho estão com dengue”,
descreve a dona de casa. O motorista de transporte por aplicativo Alexsandro
Dantas, de 52 anos, também se queixa da presença constante de insetos por causa
do esgoto a céu aberto na rua onde ele vive, a Auriverde. “Só esta semana,
matamos quatro escorpiões aqui em casa”, diz.
Alexsandro conta que tem um sumidouro na residência para evitar que o esgoto
produzido chegue à rua, mas essa não é a realidade do restante do bairro. “Tudo
piora quando chove, porque a água entra nos imóveis da gente quando os carros
passam na rua. Aqui é uma mistura de lama e mau cheiro. Isso prejudica a minha
esposa também, que tem um salão de beleza em casa, porque os clientes se
afastam”, conta o motorista, que mora em Pajuçara há 40 anos. De acordo com o
Ranking do Saneamento 2025, apenas Recife e Maceió, com índices de 41,59% e
34,41%, respectivamente, possuem cobertura de esgoto menor do que Natal no
recorte das capitais do Nordeste.
Salvador, com 88,45% do território coberto por esgotamento sanitário, apresenta
a melhor situação da região. No País, Curitiba é a única capital a registrar
integralidade no serviço, com índice de 100%. Goiânia, com 99,62%, São Paulo
(98,49%), Rio de Janeiro (95,80%) e Belo Horizonte (95,75%) também são
destaques. Na parte de baixo do ranking estão Rio Branco (19,91%), Belém
(19,34%), Porto Velho (9,27%) e Macapá (7,78%).
Natal cai da 64ª posição para
a 80ª no saneamento
As atividades de esgotamento
sanitário incluem coleta, transporte, tratamento e disposição final de resíduos
por meio de rede coletora e estações de tratamento, com vistas a evitar
contaminações ao meio ambiente e a proliferação de doenças. Essas atividades
compõem os serviços de saneamento básico – mais amplos e que envolvem também o
abastecimento de água potável, manejo de resíduos sólidos e drenagem de água
das chuvas. De acordo com o Instituto Trata Brasil, Natal caiu 16 posições no
ranking geral do saneamento, saindo do 64º lugar para o 80º, considerando-se os
100 municípios analisados.
No indicador Atendimento Total de Água, a capital potiguar registrou índice de
90,13%, uma queda de 1,74 ponto porcentual em relação ao ranking de 2024
(91,87%). No indicador Tratamento Total de Esgoto, Natal registrou queda de
6,54 pontos porcentuais (50,20% em 2024 e 43,66% em 2025). A Caern disse que
“reafirma compromisso com a melhoria contínua dos serviços de saneamento básico
em Natal e no Rio Grande do Norte, investindo em infraestrutura para garantir
mais saúde e qualidade de vida para a população”.
A Companhia, que atribuiu as reduções nos indicativos e no índice geral às
mudanças de metodologia dos dados utilizados no levantamento deste ano, disse
que apenas em 2027, com a entrega da ETE Guarapes, “Natal estará em
conformidade com as exigências do Marco Legal do Saneamento, alcançando a
universalização do esgotamento sanitário”.
A prestação dos serviços de esgoto pela Caern entrou no rol das discussões da
Prefeitura do Natal recentemente. Conforme publicado pela TRIBUNA DO NORTE na
edição do dia 9 de julho, o Município avalia romper o contrato de concessão de
esgotamento sanitário da capital potiguar junto à Companhia. O Município pode
buscar uma parceria público-privada para gestão do contrato.
Um eventual rompimento contratual poderia resultar em uma indenização de cerca
de R$ 500 milhões à estatal, segundo informação do diretor-presidente da Caern,
Roberto Linhares. Ele disse ainda que o contrato foi recentemente renovado até
2051 e que um provável rompimento também precisaria de uma autorização dos
municípios presentes na microrregião Litoral/Seridó, de acordo com legislação
instituída em julho de 2021.
Ranking
Atendimento Total de Esgoto –
% da menor para a maior cobertura por capitais
Macapá: 7,78
Porto Velho: 9,27
Belém: 19,34
Rio Branco: 19,91
Manaus: 28,46
Maceió: 34,41
Recife: 41,59
Natal: 43,66
Teresina: 47,78
São Luís: 55,73
Fortaleza: 66,47
Florianópolis: 68,13
Aracaju: 75,82
João Pessoa: 77,96
Palmas: 78,31
Cuiabá: 83,03
Vitória: 87,39
Campo Grande: 87,64
Salvador: 88,45
Brasília: 89,69
Porto Alegre: 91,76
Boa Vista: 92,43
Belo Horizonte: 95,75
Rio de Janeiro: 95,80
São Paulo: 98,49
Goiânia: 99,62
Curitiba: 100,00
Fonte: Ranking do Saneamento
2025 (Instituto Trata Brasil)

Nenhum comentário:
Postar um comentário