O Ofício nº 193/2025-GE
reflete a avaliação do Governo do RN e dos setores produtivos do Estado, com
base em reuniões realizadas ao longo da semana, que analisaram os efeitos
danosos à economia potiguar, às empresas e às cadeias produtivas como um todo, com
repercussões também de natureza social.
O documento, assinado pela
governadora, apresenta ao presidente da República as relações comerciais do Rio
Grande do Norte com o mercado norte-americano, detalhando os dados por setor.
Ressalta-se que a corrente de comércio com os Estados Unidos da América cresceu
89%, com destaque para as exportações, que avançaram expressivamente 119% no
período de janeiro a junho de 2025.
O Governo do Estado, por meio
da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, da Ciência, da Tecnologia e da
Inovação (SEDEC), da Secretaria da Fazenda, e da Secretaria de Estado da
Agricultura, da Pecuária e da Pesca, juntamente com o setor produtivo, sugere
ao Governo Federal a adoção de providências diplomáticas urgentes, com o
objetivo de salvaguardar os interesses econômicos nacionais, especialmente os
do Rio Grande do Norte. Destaca-se, ainda, que a manutenção das tarifas pode
representar perdas de quase 4% do PIB industrial do estado e de 5,1% dos
empregos formais no setor.
“Reconhecemos os esforços já
empreendidos pela União. Ainda assim, solicitamos que o Governo Brasileiro, por
meio de seus canais diplomáticos, envidem todos os esforços possíveis para
negociar com as autoridades dos Estados Unidos da América a reversão dessas
medidas, sempre orientados pela defesa do interesse nacional”, destaca o
documento.
“Caso não seja possível evitar
sua aplicação imediata, pleiteamos que se obtenha, ao menos, a prorrogação de
sua vigência por 90 dias, de modo a criar uma janela adequada para o diálogo e
a busca de alternativas viáveis, que preservem o equilíbrio comercial e os
empregos gerados por essa relação bilateral”, defende a carta.
Confira a íntegra do Ofício:
A Sua Excelência o Senhor
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Presidente da República Federativa do Brasil
Brasília/DF
Natal, 17 de julho de 2025.
Senhor Presidente,
Cumprimentando-o cordialmente, dirijo-me a Vossa Excelência para manifestar que
o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, por intermédio da Secretária de
Desenvolvimento Econômico, da Ciência, da Tecnologia e da Inovação – SEDEC, em
conjunto com a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte –
FIERN, Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do RN –
FECOMÉRCIO/RN, Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do Rio Grande do
Norte – FAERN, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do
Norte – SEBRAE/RN, Entidades e Sindicatos do setor produtivo que serão
impactados, nutre profunda preocupação com as recentes tarifas impostas pelo
Governo dos Estados Unidos da América sobre produtos brasileiros. Diante da
estratégia do comércio bilateral com aquele país – cujos dados serão
apresentados a seguir –, entendemos ser fundamental a adoção de providências
diplomáticas urgentes por parte do Governo Federal, com o objetivo de
salvaguardar os interesses econômicos nacionais e em especial do Rio Grande do
Norte.
A relação comercial entre o
Rio Grande do Norte e os Estados Unidos tem se fortalecido de forma expressiva,
apontando para um futuro promissor no campo das relações internacionais. A
corrente de comércio entre o estado e o país norte-americano cresceu 89%, com
destaque para as exportações, que avançaram notavelmente em 119%, no período de
janeiro a junho de 2025.
Além disso, a relação
comercial com os EUA apresentou saldo positivo superior a US$ 40 milhões para o
Rio Grande do Norte no último semestre de 2025, consolidando um momento
histórico. O estado exportou mais do que importou, resultado que reforça a
importância crescente deste parceiro comercial.
Analisando a série histórica dos últimos 15 anos, a média das exportações do
Rio Grande do Norte para os Estados Unidos era de aproximadamente US$ 75
milhões, enquanto as importações giravam em torno de US$ 46 milhões. Nos anos
mais recentes, no entanto, observa-se uma tendência clara de crescimento, com
médias ascendendo para US$ 100 milhões em exportações e US$ 65 milhões em
importações. O primeiro semestre de 2025 já representa o segundo maior valor em
exportações da série histórica, superado apenas por 2019, quando foram
registrados US$ 81 milhões no mesmo período.
Dos produtos estratégicos de
nossa pauta, destacam-se a presença de bens industriais e agroalimentares,
sendo o principal item o “fuel oil”, pertencente à categoria de produtos
petrolíferos refinados, com um volume expressivo de US$ 24,00 milhões. Em seguida,
destacam-se as mercadorias da pesca, notadamente albacoras e atuns frescos, que
somam US$ 11,53 milhões, além dos subprodutos de origem animal impróprios para
alimentação humana, provenientes do setor de processamento de carnes, com US$
10,3 milhões.
Além desses, ganham relevância
as exportações de caramelos, confeitos e doces (US$ 4,17 milhões), granito e
pedras ornamentais (US$ 4,38 milhões), sal marinho a granel (US$ 3,38 milhões)
e castanha de caju sem casca (US$ 1,97 milhão). A lista inclui ainda frutas
frescas e secas, além de lagostas congeladas, peixes processados, açúcar de
cana e querosene de aviação. A diversidade dessa pauta evidencia não apenas a
complexidade crescente da base produtiva potiguar, mas também o fortalecimento
de cadeias com elevado potencial de agregação de valor e expansão nos mercados
internacionais.
Diante das projeções otimistas
para o segundo semestre, cresce a preocupação com os efeitos da manutenção das
tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o
que pode comprometer seriamente a competitividade de algumas dessas cadeias
produtivas. Os impactos podem ser significativos, com perdas estimadas de US$
103 milhões e de 4.500 empregos diretos no estado. Entre os setores mais
afetados, destacam-se: óleos combustíveis (perda de US$ 49 milhões), pescados
(US$ 20 milhões), doces e caramelos (US$ 13 milhões), frutas tropicais (US$ 8
milhões) e outros produtos de origem animal, não destinados à alimentação
humana (US$ 10 milhões). Vale ressaltar que o setor salineiro potiguar,
responsável por 95% da produção nacional, exporta historicamente cerca de 600
mil toneladas/ano para o mercado norte americano.
Dado o papel estratégico
desempenhado pelos Estados Unidos nas exportações potiguares e considerando
que, apenas no primeiro semestre de 2025, o estado já superou toda a
movimentação registrada em 2024, torna-se urgente tratar diplomaticamente da
revisão das tarifas aplicadas às exportações brasileiras. A manutenção dessas
tarifas pode representar perdas de quase 4% do PIB industrial do Rio Grande do
Norte e de 5,1% dos empregos formais no setor. É, portanto, imperativo
estabelecer uma agenda de diálogo pautada na preservação do emprego, da
estabilidade econômica e do crescimento sustentável das relações comerciais
entre as duas nações.
Diante dos dados apresentados,
que evidenciam a relevância do comércio entre o Estado do Rio Grande do Norte e
os Estados Unidos para diversos setores produtivos e para a economia nacional
como um todo, reiteramos nossa preocupação com os impactos das medidas
tarifárias recentemente adotadas pelo governo norte-americano.
Reconhecemos os esforços já
efetuados pela União, ainda assim, solicitamos que o Governo Brasileiro, por
meio de seus canais diplomáticos, empreenda todo o empenho possível para
negociar com as autoridades dos Estados Unidos da América a reversão dessas medidas,
ressaltando que tais tratativas estejam sempre orientadas na defesa do
interesse nacional.
Caso não seja possível evitar
sua aplicação imediata, pleiteamos que seja ao menos obtida a prorrogação de
sua vigência por 90 dias, a fim de que se crie uma janela adequada para diálogo
e busca de alternativas viáveis que preservem o equilíbrio comercial e os
empregos gerados por essa relação bilateral.
Certos da atenção e
sensibilidade de Vossa Excelência diante da gravidade da situação, colocamo-nos
à disposição para colaborar no que for necessário, ao mesmo tempo em que
renovamos nossa elevada estima e distinta consideração.
Atenciosamente,
Fátima Bezerra
Governadora

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