Os jacarés avistados pertencem
à espécie Caiman latirostris, conhecida popularmente como
jacaré-de-papo-amarelo, considerada dócil e de hábitos tranquilos. “Esses
répteis se adaptam a ambientes alagadiços, com vegetação densa, que propiciam a
construção de ninhos. Se o local oferece segurança e alimento, eles
permanecem”, explica o biólogo e aluno de doutorado no programa de
pós-graduação em sistemática e evolução da UFRN, André Duarte. Ele reforça que
a alimentação por humanos é um dos principais fatores que incentivam a
aproximação dos animais. “Eles são generalistas, comem peixes, moluscos,
caramujos e até restos de comida. Quando encontram fácil acesso ao alimento,
permanecem no local e passam a se reproduzir ali. Além disso, há possibilidade
de que alguns indivíduos tenham sido soltos irregularmente por pessoas que os
criaram ilegalmente”, avalia.
O biólogo também explica que a
presença dos répteis tem impacto ecológico relevante. “Na ausência desses
predadores, doenças como a esquistossomose — transmitida por moluscos — tendem
a aumentar. Eles fazem parte do equilíbrio natural. O problema ocorre quando há
desequilíbrio causado pela interferência humana.”
A recomendação é não
alimentar, nem tentar capturar ou interagir com esses animais. O ideal é manter
distância e acionar os órgãos competentes. “Mesmo sendo dócil, um jacaré pode
atacar caso se sinta ameaçado, especialmente as fêmeas com ninhos.”
As prefeituras, órgãos
ambientais e forças de segurança estão mobilizados, porque, embora a espécie
seja nativa e historicamente presente em áreas de mangue, rios e lagoas, o
aumento expressivo no número desses animais, especialmente em Maracajaú, acende
o alerta sobre o desequilíbrio ambiental.
Segundo o diretor técnico do
Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema), Thales
Dantas, a presença desses animais na região não é novidade. “Eles sempre
existiram na região do Litoral Norte, como em Barra de Maxaranguape, no Rio Ceará-Mirim,
e na Área de Proteção Ambiental (APA) de Jenipabu. O que mudou agora foi o
crescimento desordenado da população de jacarés, que se deu por ação humana,
especialmente pela alimentação irregular feita por moradores e turistas”,
explica.
Thales também avalia que o
excesso de alimento fornecido de forma irregular por populares contribuiu para
o aumento populacional expressivo. “Se antes eram 5 ou 10 jacarés, agora temos
cerca de 50 em uma única lagoa. Os animais naturalmente se deslocam para onde
há alimento fácil. É um comportamento instintivo”, afirma.
A estimativa foi feita durante
uma vistoria técnica realizada por equipes do Idema, da Polícia Ambiental e da
Prefeitura de Maxaranguape. Além da superpopulação, a aproximação dos jacarés
de residências e pontos turísticos também preocupa.
Resgate
Na terça-feira passada, um
jacaré-de-papo-amarelo adulto, apareceu na Praia de Genipabu, próximo à foz do
Rio Ceará-Mirim e foi resgatado com o auxílio do Corpo de Bombeiros Militar. O
animal foi levado para a Área de Proteção de Genipabu, nas proximidades do
Ecoposto, um abrigo seguro e preservado para a espécie. O Idema informou que o
jacaré foi encontrado pela população, que acionou o Centro Integrado de
Operações de Segurança Pública (CIOSP) pedindo o resgate. A equipe do órgão
ambiental se deslocou até o local e acompanhou todo o processo.
Outro caso ocorreu em janeiro,
quando outro foi capturado, dessa vez, em uma lagoa de captação na Zona Norte
de Natal. “Essas situações geram temor na população, mas é importante destacar
que não se trata de uma espécie agressiva. Nunca houve registros de ataques de
jacaré-de-papo-amarelo no RN. No entanto, é preciso manter distância e
respeitar o habitat dos animais”, reforça Thales.
Para lidar com o problema, o
Idema formalizou um grupo de trabalho em parceria com o IBAMA, a Polícia
Ambiental e a Prefeitura de Maxaranguape. Entre as ações planejadas estão a
instalação de uma barreira de contenção na lagoa que abriga os cerca de 50 jacarés,
sinalização para alertar sobre a proibição de alimentar os animais e campanhas
de educação ambiental nas escolas e comunidades locais. “Nosso objetivo é
orientar a população para que não alimente os animais e saiba como agir ao se
deparar com um deles fora do habitat. O correto é acionar o Corpo de Bombeiros,
a Polícia Ambiental ou o próprio Idema”, orienta.
O secretário de Meio Ambiente
de Maxaranguape, Paulo de Paula, alerta que alimentar jacarés é uma infração
ambiental. “Quando a gente alimenta, a gente quebra o ciclo de reprodução
natural e acaba provocando superpopulação”, disse. A expectativa é de que, com
a instalação das barreiras e o trabalho educativo nas comunidades, a
convivência entre população e fauna local possa se equilibrar, evitando
acidentes e reforçando a preservação ambiental.
Tribuna do Norte

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